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A agricultura e a colheita de algas marinhas são ainda muito pequenas na Europa, mas têm uma grande potencialidade de crescimento, na medida em que 36% das empresas relacionadas com esta indústria estão sedeadas no espaço europeu. Porém, muitas são start-ups que ainda não estão operacionais comercialmente, revela o novo Relatório da Bioeconomia Azul da UE, publicado a cada dois anos pelo Observatório do Mercado Europeu dos Produtos da Pesca e da Aquacultura (EUMOFA).
A edição de 2022 do relatório, agora divulgada, coloca mesmo as algas no centro da bioeconomia azul, reconhecendo-o como o "mais notório da bioeconomia azul" da União Europeia (UE).
Para além da sua utilização na alimentação, cosmética, biomateriais ou energia, o relatório sublinha o "papel significativo" dos ecossistemas de algas marinhas no ciclo do carbono marinho, na medida em que atuam como um sequestrador de CO2. Destaca, por isso, a necessidade de desenhar ações para integrar as algas marinhas nas políticas climáticas, que incluem a conservação, restauração e agricultura de algas.
Porém, em comunicado, a Comissão Europeia destaca que é necessário colmatar as lacunas de conhecimento que existem sobre esta matéria. "Isto inclui a avaliação dos ecossistemas de algas marinhas selvagens existentes na Europa, a construção de um melhor conhecimento da disponibilidade de nutrientes e eutrofização nas costas e bacias da UE e a avaliação da pegada de carbono dos produtos à base de algas marinhas", refere a CE.
A UE acolhe ecossistemas de algas marinhas selvagens significativos, mas representa menos de 0,25% da produção global de algas marinhas liderada pelo homem. Para além de ser de pequena escala, "a indústria europeia de algas marinhas é regionalmente desequilibrada", afere o relatório.
A crescente procura de algas marinhas não pode ser satisfeita pelos produtores devido a uma variedade de fatores, nomeadamente falta de transparência dos dados, ciclos de produção imprevisíveis, cadeias de fornecimento ineficientes e quadros regulamentares complexos. "Esta situação leva a que investidores e empresas avessos ao risco sejam desincentivados. Os desafios que a indústria europeia de algas marinhas enfrenta não são orientados pela tecnologia, mas mais relacionados com questões de governação e de mercado. A inversão desta tendência dependerá do acesso estável à matéria-prima, do desenvolvimento de produtos de valor acrescentado e da transferência de conhecimentos entre regiões onde a produção está bem desenvolvida e aquelas que desejam desenvolver a indústria", refere a CE.
O relatório oferece uma visão geral dos últimos desenvolvimentos dos sistemas de cultivo de micro e macroalgas na UE e no mundo. Tem um enfoque especial no sargaço (uma macroalga), e mostra como as algas podem também transformar as economias regionais. No caso do sargaço, é reconhecida a proliferação, em toda a região atlântica, de projetos relacionados com esta alga que flua em grandes massas, "mas, por enquanto, não existe um verdadeiro mercado para o sargaço. A maioria das soluções que procuram valorizar o sargaço ainda não estão comercialmente maduras", reconhece a CE.
A análise também refere que o panorama regulamentar para licenças de exploração de algas marinhas "é descoordenado, contém muitos agentes reguladores a nível nacional e local e, por vezes, representa custos elevados para as pequenas empresas que procuram cultivar no mar".
Recorde-se que a CE adotou, em novembro passado, uma iniciativa pioneira para explorar o potencial das algas enquanto recurso renovável na UE. Foram propostas 23 ações destinadas a criar condições para tornar esta indústria um setor robusto, sustentável e regenerativo, capaz de satisfazer a crescente procura do mercado da UE.
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