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Emissões reais de automóveis não diminuíram na última década

Auditoria do Tribunal de Contas Europeu deteta uma “enorme diferença” entre as emissões apuradas em laboratório e as emitidas quando os carros circulam na estrada.

25 de Janeiro de 2024 às 09:55
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A maioria dos automóveis de passageiros que circulam nas estradas da União Europeia (UE) continua a emitir a mesma quantidade de CO2 que há 12 anos, apesar dos objetivos de redução estabelecidos em 2010 para os novos veículos matriculados, pondo em risco a agenda ecológica da Europa, revela o Tribunal de Contas Europeu (TCE).

Num novo relatório divulgado nesta quarta-feira, o TCE afirma que, na década de 2010, os fabricantes de automóveis exploraram lacunas nos requisitos de ensaio para obterem emissões reduzidas em laboratório, salientando que a diferença em relação às emissões reais, ou seja, quando os veículos circulam efetivamente na estrada, é "enorme".

Na sequência do escândalo "Dieselgate", tornou-se obrigatório, em setembro de 2017, um novo ciclo de ensaios em laboratório para refletir melhor as condições reais de condução. Este facto reduziu efetivamente (mas não eliminou) a diferença entre as emissões em laboratório e as emissões em condições reais, sublinha o TCE.

Porém, os objetivos da UE de redução das emissões de CO2 dos automóveis novos de passageiros não poderão ser atingidos enquanto não forem cumpridos pré-requisitos importantes, afirma o mesmo documento. "A revolução verde da UE só pode acontecer se houver muito menos veículos poluentes, mas o desafio é enorme", afirma Pietro Russo, membro do TCE que liderou a auditoria. "Uma redução verdadeira e tangível das emissões de CO2 dos automóveis não ocorrerá enquanto o motor de combustão prevalecer, mas, ao mesmo tempo, a eletrificação da frota automóvel da UE é um grande empreendimento."

As emissões reais dos automóveis convencionais - que continuam a representar quase três quartos dos registos de veículos novos - não diminuíram, observam os auditores. Na última década, as emissões mantiveram-se constantes para os veículos a gasóleo, enquanto diminuíram ligeiramente (-4,6%) para os veículos a gasolina. O progresso tecnológico em termos de eficiência dos motores é compensado pelo aumento da massa dos veículos (cerca de +10% em média) e por motores mais potentes (+25% em média).

O mesmo se aplica aos automóveis híbridos, cujas emissões de CO2 no mundo real tendem a ser muito mais elevadas do que as registadas em laboratório. Numa tentativa de refletir melhor a situação real, a utilização proporcional de motores elétricos e de combustão será ajustada, mas apenas a partir de 2025. Até lá, os híbridos plug-in continuarão a ser tratados como veículos de baixas emissões, em benefício dos fabricantes de automóveis. E, também até lá, os fabricantes de automóveis continuarão a aplicar algumas das disposições introduzidas no regulamento relativo ao CO2 que lhes permitiram poupar quase 13 mil milhões de euros em prémios por excesso de emissões, só em 2020, revela o TCE.

Os veículos elétricos podem ajudar a UE a aproximar-se de um parque automóvel com emissões zero. No entanto, os auditores da UE alertam para a necessidade de acelerar os esforços nesse sentido. Para os auditores da UE, os veículos elétricos (que saltaram de 1 em cada 100 registos de automóveis novos em 2018 para quase 1 em cada 7 em 2022) impulsionaram a redução das emissões médias de CO2 na estrada verificada nos últimos anos. Mas "o caminho a percorrer é acidentado, uma vez que a UE enfrenta dificuldades significativas para acelerar a adoção de veículos elétricos", salienta.

O primeiro obstáculo a ultrapassar é o acesso às matérias-primas para construir baterias suficientes. Os auditores da UE também manifestaram a sua preocupação com a inadequação das infraestruturas de carregamento: 70% de todos os carregadores de baterias para automóveis na UE estão concentrados em apenas três países (Países Baixos, França e Alemanha). E, por último, a acessibilidade dos preços é crucial: tendo em conta os custos iniciais mais elevados dos automóveis elétricos, os consumidores podem preferir manter os seus antigos veículos poluentes durante mais tempo.

Recorde-se que o "Regulamento CO2 dos automóveis" estabeleceu um objetivo para toda a frota da UE para as emissões médias de CO2 dos automóveis recém-registados. Além disso, cada fabricante - que tem de declarar as emissões de CO2 de um veículo nos certificados de conformidade - tem de pagar um prémio por excesso de emissões se não cumprir objetivos de emissões específicos. As ambições têm vindo a aumentar ao longo do tempo, com o objetivo de emissões zero para 2035 a tornar-se visível.


Embora a UE tenha conseguido reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em muitas áreas nos últimos 30 anos, o CO2 do setor dos transportes continuou a aumentar. Em 2021, este setor representou 23% do total das emissões de gases com efeito de estufa da UE, sendo os automóveis de passageiros responsáveis por mais de metade deste valor.

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