Opinião
Mais 2,8% de PIB? Não há espaço para optimismo
No meio da euforia dos últimos dias sobressai que é preciso recuar até ao princípio do século para encontrar níveis de confiança tão altos como actuais. Mas há outra forma de olhar para a questão, bem menos tranquilizante: é que a última vez que os portugueses estiveram tão confiantes, seguiu-se uma quase estagnação de década e meia.
A economia portuguesa cresceu 2,8% no primeiro trimestre, o ritmo mais rápido em dez anos, e o sexto maior crescimento da Zona Euro. São bons resultados, que superaram as melhores expectativas, também porque tiveram a ajuda das exportações e do investimento. O governo festejou e viu sinais de sustentabilidade da retoma. Mas se as notícias são boas, a continuação da recuperação continua ameaçada pelos muitos desequilíbrios nacionais, e por uma Zona Euro que está longe de inspirar confiança.
Vejamos alguns dados da retoma europeia e nacional:
Em suma, a recuperação europeia é lenta e continua altamente dependente dos estímulos do BCE e da procura externa; não é sustentável porque lhe falta investimento e criação de emprego – e sem eles não há aumentos de salários e de inflação que oleiem a máquina do crescimento; e continua minada pela baixa rendibilidade da banca e o enorme volume de mal parado.
Perante isto, a Comissão defende que não há razão para entusiasmos na Zona Euro. Tem muita razão. Neste contexto é difícil ficar descansado quanto à capacidade de inovar e crescer, criar emprego e pagar dívidas. Para Portugal o desafio é ainda maior.
Mário Centeno acertou ao apostar na prioridade à recuperação do sector financeiro, em garantir credibilidade ao orçamento e em procurar um novo equilíbrio de políticas no qual a procura interna tem um papel ao lado da procura externa. Os resultados são-lhe favoráveis merecidamente: a economia cresce mais e gera mais emprego, o que a torna mais sustentável, interna e externamente. Mas isto não chega numa economia atrasada, e há limites ao que a macroecononomia pode fazer, especialmente com estes baixos níveis de investimento.
É bom ter presente que a criação de emprego em sectores pouco produtivos (como restauração e construção), embora imperiosa face ao drama de desemprego, revela o grande peso que sectores pouco produtivos mantêm na economia nacional; este é um sinal que nos lembra das dificuldades estruturais da economia nacional que só pode ser combatido estruturalmente com investimento e reformas que, se estão no programa de governo, ainda não convenceram; e, finalmente, mesmo com boas políticas, Portugal por si só não conseguirá contrariar a maré de uma Zona Euro que se recuse a crescer e a gerar emprego através de mais investimento, consumo interno e reequilíbrio entre Norte e Sul.
É fundamental não desviar o olhar destas dinâmicas. É que no meio da euforia dos últimos dias sobressai que é preciso recuar até ao princípio do século para encontrar níveis de confiança tão altos como actuais. Mas há outra forma de olhar para a questão, bem menos tranquilizadora: é que a última vez que os portugueses estiveram tão confiantes, seguiu-se uma quase estagnação de década e meia.
Vejamos alguns dados da retoma europeia e nacional:
- Com estímulos do BCE ainda na força máxima, a Zona Euro, assim como Portugal, deverá crescer entre 1,7% e 2% este ano, o que deixará o nível de PIB anual da união monetária 5% acima do pico de 2008 e o de Portugal 2,5% abaixo. Por comparação, os EUA que crescerão mais de 2% já estão 15% acima.
- O investimento na Zona Euro continuará 5% abaixo do registado em 2008 (29% abaixo no caso português), enquanto nos EUA já está 12% acima.
- O desemprego andará na casa dos 9% a 10% da população activa tanto em Portugal como na média da Zona Euro, mas é de 18% se considerado o "desemprego real", e continuará a ser o dobro do registado nos EUA. Ao que se juntam dados preocupantes, particularmente em Portugal, no desemprego jovem e de longa duração.
- Os salários (remunerações nominais por trabalhador) crescerão 1,8% na Zona Euro este ano, mais que em Portugal, mas apenas metade do crescimento esperado para os EUA, um sinal de que não há ainda pressões significativas sobre a procura deste lado do Atlântico – e sem ela não há investimento;
- A banca continua carregada de crédito malparado em várias economias – com destaque para Grécia e Chipre (mais de 40% do total de crédito) e para Portugal e Itália (entre 15% a 20%); e enfrenta o desafio de se reinventar um contexto de crescimento, inflação e juros baixos, evidenciando sérias dificuldades em encontrar o caminho para a rendibilidade e para desempenhar o seu papel de financiamento à economia.
- Finalmente, e após tantos anos de debate, a Europa liderada pela Alemanha continua a comportar-se como uma pequena economia aberta, apostada em crescer pelas exportações e acumular poupança do resto mundo, gerando excedentes externos (8,5% na Alemanha) e desvalorizando a procura interna que, numa região avançada desta dimensão, tem de ser um elemento central da retoma.
Em suma, a recuperação europeia é lenta e continua altamente dependente dos estímulos do BCE e da procura externa; não é sustentável porque lhe falta investimento e criação de emprego – e sem eles não há aumentos de salários e de inflação que oleiem a máquina do crescimento; e continua minada pela baixa rendibilidade da banca e o enorme volume de mal parado.
Perante isto, a Comissão defende que não há razão para entusiasmos na Zona Euro. Tem muita razão. Neste contexto é difícil ficar descansado quanto à capacidade de inovar e crescer, criar emprego e pagar dívidas. Para Portugal o desafio é ainda maior.
Mário Centeno acertou ao apostar na prioridade à recuperação do sector financeiro, em garantir credibilidade ao orçamento e em procurar um novo equilíbrio de políticas no qual a procura interna tem um papel ao lado da procura externa. Os resultados são-lhe favoráveis merecidamente: a economia cresce mais e gera mais emprego, o que a torna mais sustentável, interna e externamente. Mas isto não chega numa economia atrasada, e há limites ao que a macroecononomia pode fazer, especialmente com estes baixos níveis de investimento.
É bom ter presente que a criação de emprego em sectores pouco produtivos (como restauração e construção), embora imperiosa face ao drama de desemprego, revela o grande peso que sectores pouco produtivos mantêm na economia nacional; este é um sinal que nos lembra das dificuldades estruturais da economia nacional que só pode ser combatido estruturalmente com investimento e reformas que, se estão no programa de governo, ainda não convenceram; e, finalmente, mesmo com boas políticas, Portugal por si só não conseguirá contrariar a maré de uma Zona Euro que se recuse a crescer e a gerar emprego através de mais investimento, consumo interno e reequilíbrio entre Norte e Sul.
É fundamental não desviar o olhar destas dinâmicas. É que no meio da euforia dos últimos dias sobressai que é preciso recuar até ao princípio do século para encontrar níveis de confiança tão altos como actuais. Mas há outra forma de olhar para a questão, bem menos tranquilizadora: é que a última vez que os portugueses estiveram tão confiantes, seguiu-se uma quase estagnação de década e meia.
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