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Tiago Freire tiagofreire@negocios.pt 28 de Julho de 2017 às 00:01

A normalização da banca

A expressão foi ontem utilizada por Nuno Amado, falando da reposição salarial dos trabalhadores do BCP, depois dos cortes decididos em 2014. "É um sinal de normalização do banco", disse.

E há vários outros sinais de normalização, não apenas no BCP, mas no sistema financeiro português.

Dos resultados que têm vindo a ser conhecidos, relativos ao primeiro semestre, há algumas tendências comuns a várias instituições. Imparidades e provisionamento em queda, custos controlados, menor dependência do contributo dos resultados em operações financeiras e de factores extraordinários.

Já vimos antes alguns bancos darem o sinal de que o balanço estava razoavelmente limpo, e percebeu-se depois que não era verdade. Mas desta vez há uma narrativa comum ao sector, que parece estar finalmente em condições de se dedicar ao negócio, e não apenas à limpeza de problemas criados e avolumados na última década e meia. Hoje, conheceremos os resultados da Caixa Geral de Depósitos, o maior banco do sistema, que se debate com desafios específicos, sobretudo por ter chegado mais tarde ao emagrecimento. Com as devidas reservas, o panorama geral não se deverá alterar.

Mas há outra normalização em curso, ligada à primeira e que, esta sim, nos deve deixar mais alerta. Como todos os últimos números têm demonstrado, e o Negócios volta a analisar nesta edição, o crédito à habitação está de volta em força. As avaliações sobem, os "spreads" cobrados descem por via da maior concorrência, e os bancos já estão, outra vez, a garantir o financiamento de mais de 80% do valor de avaliação das casas. Percurso a que se junta mais um elemento acelerador: com o disparo dos preços das rendas, a já tradicionalmente dominante opção pela compra só poderá reforçar-se.

Para já, para os bancos, não existe um problema. Até porque o "stock" de crédito continua a baixar, ou seja, o novo crédito está a crescer menos do que a amortização de créditos antigos, cortesia das Euribor negativas. Mas, para os novos clientes, há uma armadilha escondida, exactamente no baixíssimo valor do indexante. Este nível é uma anormalidade histórica e necessariamente transitória, que pode transformar uma prestação muito acessível num encargo incomportável, como aliás se viu há poucos anos.

Estes alertas não são novos, mas têm de ser repetidos. Para que a ansiada normalização não se transforme num "business as usual", no pior sentido.
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