Opinião
Santana-Sócrates Parte 3
A Assembleia da República é hoje palco de duas inaugurações: a da discussão do Orçamento do Estado para 2008; e a do confronto Sócrates-Santana, versão três (depois da estreia na RTP e da sequela na revista “Sábado”). Os dois “eventos” poderão ser vitais.
A versão irrelevante é a que procura a vitória pelo “soundbyte”, frase feita que abra o Telejornal e faça títulos dos jornais. É a versão em que José Sócrates diz que fez mais do que o PSD quando era Governo, o que é verdade; e em que Santana Lopes diz que o PS fez menos do que prometeu, o que também é verdade; e em que ambos desenrolam penosas lengalengas sobre o que fizeram e deixaram de fazer os seus partidos no passado.
O debate acontece todavia num momento curioso, de súbita volatilidade na opinião pública, que de repente decidiu fazer às sondagens o que o “subprime” fez às bolsas: criou imprevisibilidade. O desfile vitorioso do Governo foi interrompido e o PSD disparou na popularidade, num reequilíbrio de expectativas que dá o benefício da dúvida ao partido no seu pós-Mendes. Também os indicadores de confiança dos consumidores do INE continuam em queda (estão no valor mais baixo do último ano e meio) e as crise financeiras internacionais, bem como um petróleo galopante, estão a retirar espaço a crescimentos económicos optimistas. Otom do próprio governador do Banco de Portugal, que (ainda) acompanha as previsões do Governo para o PIBem 2008, já mudou.
É neste momento mais apreensivo no País que o PSD inaugura hoje uma nova vida na sua bancada parlamentar. Depois de uma travessia no deserto tipo Pepe Rápido, Santana Lopes senta-se ameaçador frente a José Sócrates. Tem pouco crédito acumulado. Mas muita expectativa à sua volta.
Todos os primeiros debates entre Sócrates e Santana; todos os números de crescimento económico; todas as contenções e distensões orçamentais; todo o foguetório reformista e publireformista é no entanto insuficiente para fazer bom o que é mau: Portugal teve em 2006 o segundo pior crescimento da produtividade em toda a União Europeia. A produtividade portuguesa cresceu 0,5% em 2006, três vezes menos que a média da UE. Só Itália cresceu menos. Mas como disso não se decreta, a Assembleia da República ignorará hoje a marca negra.
PS 1: O inevitável concretizou-se: a maior empresa do mundo em capitalização bolsista é, desde ontem, uma empresa chinesa: a PetroChina estreou-se ontem em Bolsa, valorizou-se 193% num único dia e tornou-se a primeira empresa no mundo a valer mais de um bilião de dólares. São 692 mil milhões de euros. É mais do dobro da segunda maior petrolífera, a Exxon. E 77 vezes a nossa Galp. Quando o mundo decidiu que o sistema chinês não podia ser mudado de fora mas apenas por dentro, era nisto que estava a pensar: o lucro como meio para difundir a prosperidade, o desenvolvimento e o respeito pelos direitos humanos. A riqueza já chegou à China. Só falta a justiça.
PS 2: Gisele Bundchen, a top-model mais bem paga do mundo, decidiu que já não quer ser paga em dólares, mas em euros. A brasileira dá mais uma preciosa ajuda às políticas de desvalorização do dólar.