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12 de Novembro de 2007 às 13:59

Galp com o rabo virado para a luda

“Lotaria”, “Jackpot”, “Euromilhões” são boas palavras para descrever a taluda que saiu à Galp e seus accionistas. O campo de petróleo descoberto ao largo do Brasil é colossal. É muito, é do bom e é do menos caro a explorar. São 800 quilómetros de extensão

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Poucas empresas tiveram valorização mais acelerada que a Galp. Há três anos, o consórcio Petrocer (Violas, BPI e Arsopi) queria pagar três mil milhões pela empresa; há menos de dois anos, Américo Amorim entrou a 5,1 mil milhões; há um ano, a Galp foi vendida em Bolsa por quase o mesmo valor, embora tivesse entretanto entregue activos à REN; hoje, a empresa abre a negociar em Bolsa a valer... 12,8 mil milhões de euros. Passou de quarta a segunda maior da Bolsa. E é aquela que mais sobe este ano em todo o PSI-20 (e a única acima dos 100% desde 1 de Janeiro), tirando o caso paranormal da Soares da Costa (mais de 200%).

Tudo por causa do petróleo. Do que agora descobriu e do que já refinava. Um petróleo em subida galopante desde há seis anos. Em 2001 estava abaixo dos 20 dólares, hoje está 70 dólares acima, que são inteirinhos margem de lucro para produtores, refinadores e intermediários.

Era essa a grande crítica à Galp: estava a crescer à custa da margem de refinação, o que tornava os seus lucros dependentes de um factor exógeno e que não controla, o preço do petróleo. Agora, a descoberta dá-lhe anos a receber ouro do Brasil, que podem ser retribuídos aos accionistas ou reinvestidos no negócio. Se for o caso, não é apenas o Brasil que se torna produtor com direito a ter voz entre os maiores; é a Galp que muda o seu perímetro.

Há hoje muitos pequenos magnatas do petróleo, que farão inveja aos que não compraram acções e ao Estado Português, que afinal vendeu parte da Galp por uma bagatela. Os italianos da Eni valorizaram a sua participação em 1,2 mil milhões; os espanhóis da Iberdrola sorriem na sua lucrativa ambiguidade accionista (na EDP e na Galp); os angolanos da Sonangol de um dia para o outro aumentaram o negócio em Portugal em 600 milhões; mas é Américo Amorim quem mais ri. Fez um óptimo negócio, o Estado ainda teve de agradecer-lhe a ajuda e, com um sexto do capital (tem uma posição indirecta de 13%), parece que tem um terço (a Amorim Energias tem 33,34%) e manda como se tivesse metade.

Mandando na Galp, Amorim era acusado de estar à sombra da bananeira, com o rabo sentado num barril de petróleo. Não era verdade: o rabo estava afinal virado para a lua.

PS: Há dias, critiquei aqui a CMVM por não ter pedido a Joe Berardo explicações sobre os estudos que, disse ele, mostram que as acções do BCP valem 5,8 euros se o banco for vendido aos pedaços. No mesmo dia do Editorial, a CMVM pediu essas explicações. O regulador mostra não estar disponível para contribuir para que Berardo se torne "um incendiário inimputável", como escrevi. Já a resposta do comendador é reveladora: os estudos "não constam de qualquer documento escrito e foram-lhe transmitidos através de apresentações orais". Como então disse: perfeito...

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