Opinião
25 de Junho de 2012 às 10:37
Cimpor, ISA e a bolsa
Para o bem do crescimento e da credibilidade da bolsa portuguesa, seria excelente que mais empresas pedissem a admissão à cotação.
Para o bem do crescimento e da credibilidade da bolsa portuguesa, seria excelente que mais empresas pedissem a admissão à cotação. Seria óptimo, também, que essas sociedades tivessem capitais sociais com dimensão suficiente para assegurarem um volume de transacções decente. Para quem alimente estas esperanças, o desfecho da oferta pública de aquisição (OPA) sobre a Cimpor não é uma notícia feliz.
A concentração de capital na cimenteira atinge agora 95% das acções emitidas, de acordo com o apuramento de resultadas da operação lançada pelos investidores brasileiros da Camargo Correa. Para já, a Cimpor é excluída do grupo de empresas que integram o PSI 20. Mais tarde, acontecerá a previsível exclusão da cotação, depois de os accionistas dominantes lançarem nova oferta para tentar secar os títulos que ainda ficaram dispersos.
Numa bolsa já dominada pelos serviços e pelo sector financeiro, a indústria vai perder mais um representante. Será menos uma opção de investimento, situação ditada pelo facto de um país endividado, no sector público e no sector privado, precisar de vender as jóias para abater passivos. É a vida.
Jerónimo Martins, Portugal Telecom e EDP, três empresas com um volume de transacções relevante na Euronext Lisboa, vão aumentar, ainda mais, o peso no cálculo do principal índice. As oscilações do indicador serão comandadas através dos humores evidenciados por aquelas três empresas, com um peso nos destinos do PSI 20 que supera 50%. Caso se some a Galp a este trio, quatro empresas têm o "controlo" de dois terços daquele índice.
O desaparecimento da Cimpor não significa a morte da bolsa. Mas representa um golpe na sua dimensão, a descida de um furo em matéria de representação da diversidade de sectores da economia portuguesa e o riscar do mapa de uma das empresas mais internacionalizadas entre as que têm as acções admitidas na bolsa. As perspectivas de que venha a ser substituída por alguma empresa comparável, são escassas. Ainda assim, perde-se a Cimpor, mas pode ser que se comece a ganhar noutro tabuleiro.
A semana em que o futuro da cimenteira no mercado de capitais ficou traçado, foi também aquela em que o Alternext recebeu, finalmente, uma estreante. Anos consecutivos de promoção da importância de as pequenas e médias empresas abrirem alternativas de financiamento, uma tecnológica nascida há 20 anos em Coimbra decidiu avançar para cotação em bolsa.
Mais do que as palavras sobre a necessidade de os empresários terem uma mentalidade mais aberta e menos avessa aos deveres de prestação de contas de uma "sociedade pública", é agora a experiência da ISA que estará sob observação. Se correr bem, será uma arma de "marketing" para o Alternext. Se correr mal, perderá a empresa, a bolsa e as PME.
joaosilva@negocios.pt
A concentração de capital na cimenteira atinge agora 95% das acções emitidas, de acordo com o apuramento de resultadas da operação lançada pelos investidores brasileiros da Camargo Correa. Para já, a Cimpor é excluída do grupo de empresas que integram o PSI 20. Mais tarde, acontecerá a previsível exclusão da cotação, depois de os accionistas dominantes lançarem nova oferta para tentar secar os títulos que ainda ficaram dispersos.
Jerónimo Martins, Portugal Telecom e EDP, três empresas com um volume de transacções relevante na Euronext Lisboa, vão aumentar, ainda mais, o peso no cálculo do principal índice. As oscilações do indicador serão comandadas através dos humores evidenciados por aquelas três empresas, com um peso nos destinos do PSI 20 que supera 50%. Caso se some a Galp a este trio, quatro empresas têm o "controlo" de dois terços daquele índice.
O desaparecimento da Cimpor não significa a morte da bolsa. Mas representa um golpe na sua dimensão, a descida de um furo em matéria de representação da diversidade de sectores da economia portuguesa e o riscar do mapa de uma das empresas mais internacionalizadas entre as que têm as acções admitidas na bolsa. As perspectivas de que venha a ser substituída por alguma empresa comparável, são escassas. Ainda assim, perde-se a Cimpor, mas pode ser que se comece a ganhar noutro tabuleiro.
A semana em que o futuro da cimenteira no mercado de capitais ficou traçado, foi também aquela em que o Alternext recebeu, finalmente, uma estreante. Anos consecutivos de promoção da importância de as pequenas e médias empresas abrirem alternativas de financiamento, uma tecnológica nascida há 20 anos em Coimbra decidiu avançar para cotação em bolsa.
Mais do que as palavras sobre a necessidade de os empresários terem uma mentalidade mais aberta e menos avessa aos deveres de prestação de contas de uma "sociedade pública", é agora a experiência da ISA que estará sob observação. Se correr bem, será uma arma de "marketing" para o Alternext. Se correr mal, perderá a empresa, a bolsa e as PME.
joaosilva@negocios.pt
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