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03 de Dezembro de 2017 às 23:00

Os dois lados de Centeno

A possibilidade de Mário Centeno liderar o Eurogrupo é, no plano teórico, uma boa notícia para Portugal. Tal como o foi, à data, o facto de Durão Barroso ter sido presidente da Comissão Europeia ou a circunstância actual de António Guterres ser secretário-geral das Nações Unidas.

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É uma boa notícia na medida em que aumenta a capacidade de lóbi do país e consequentemente a sua possibilidade de influenciar decisões. Portugal passará a estar do lado da solução e não do problema. É ainda uma forma de equilibrar os pratos da balança comunitária que têm vindo a pender para o reforço da influência dos países do centro e leste da Europa. Além, claro está, de ser um reconhecimento dos méritos do próprio Mário Centeno e dos progressos realizados em matéria orçamental

 

De igual forma, parece óbvio que a circunstância de Centeno assumir a liderança do Eurogrupo aumentará a intensidade do foco mediático sobre Portugal, colocando mais pressão sobre o Governo, assim como poderá criar eventuais pontos de tensão no seio da geringonça, sabendo-se que tanto o PCP como o Bloco não morrem de amores pela Zona Euro. Antes pelo contrário.

 

Acresce que Mário Centeno, na carta de candidatura ao cargo, reafirma o empenho do Governo na implementação do Pacto de Estabilidade e Crescimento e defende a criação de um quadro de supervisão dos compromissos assumidos, o que subentende uma potencial perda adicional de soberania, circunstância que não é do agrado dos parceiros da geringonça.

É consensual que o exercício das funções de presidente do Eurogrupo irá depender, em boa medida, da solução governativa que for encontrada na Alemanha e da agenda do novo ministro das Finanças deste país, assim como das prioridades que forem estabelecidas pelo eixo franco-alemão. Um verdadeiro jogo de xadrez que exige habilidade negocial. Mas não será esse o maior obstáculo de Centeno.

 

As principais dificuldades irão surgir na frente interna. Ou seja, as eventuais novas funções de Centeno irão ter um impacto importante no estabelecimento de equilíbrios entre o Governo, PCP e Bloco e traduzir-se no ponto de viragem neste relacionamento. Tanto mais porque o ministro das Finanças não irá poder apregoar uma tese em Bruxelas e praticar o seu contrário em Portugal.

 

Os últimos dois anos mostraram a capacidade de António Costa e também de Mário Centeno de fazerem a quadratura do círculo. Mas o tempo que aí vem obrigará certamente este Governo a reinventar a aliança à esquerda. Ou então começar a catrapiscar uma solução de bloco central com o futuro líder do PSD. É esperar para ver.

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