Opinião
O ‘pedigree’ no ensino e a falta de educação
As escolas, nos grandes centros urbanos, sempre foram uma forma eficiente e politicamente correcta de perpetuar o sistema de castas. Passados anos, os meninos já adultos reconhecem-se porque frequentaram o Liceu Pedro Nuno ou o Carolina Michaelis e fazem valer esse estatuto.
As escolas, nos grandes centros urbanos, sempre foram uma forma eficiente e politicamente correcta de perpetuar o sistema de castas. Passados anos, os meninos já adultos reconhecem-se porque frequentaram o Liceu Pedro Nuno ou o Carolina Michaelis e fazem valer esse estatuto.
Ninguém tem orgulho em admitir que frequentou a Roque Gameiro, na Amadora, mas dizer que se andou na Pedro Santarém é um bom cartão de visita. E o cenário melhora se a fasquia subir para o ensino privado, apresentando como ‘pedigree’ os colégios Militar e Planalto ou a Escola Alemã. E a ascensão social também se mede pelo facto de os pais que frequentaram a Roque Gameiro serem agora capazes de colocar os seus filhos no colégio Moderno.
E é por este caminho que se chega à aprovação, em Conselho de Ministros de um diploma que permitirá aos pais escolher a escola em que querem colocar os seus filhos, pública ou privada, através de um apoio monetário dado directamente ao aluno. Admita-se. Existe bondade nesta decisão que potencia a liberdade de escolha, mas a possibilidade está longe de dar resposta ao crónico problema nacional – o da qualidade da educação. Muitos glosaram António Guterres quando este, então primeiro-ministro, afirmou ter uma paixão pela educação.
À distância é forçoso reconhecer que Guterres estava certo na identificação da sua paixão. A educação, escolar e familiar, são determinantes para garantir a evolução de uma sociedade, capaz de responder aos desafios colocados. E este tem sido um problema crónico de Portugal.
O nosso atraso em matéria educacional tem produzido efeitos devastadores. Só uma sociedade pouco desenvolvida alimenta o sofisma de escolas más e escolas boas e faz escolhas em função dos estabelecimentos de ensino que as pessoas frequentaram.
Só uma sociedade pouco desenvolvida perpetua este sistema de castas que vive à sombra de um estatuto e se alimenta dele, independentemente dos seus méritos e aptidões. E a educação, ou a falta dela, tem sido precisamente um dos factores para o apodrecimento do nosso ensino. A liberdade de escolha, mais que não seja, pode servir para abalar este decrépito sistema.
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