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09 de Setembro de 2013 às 00:01

O ‘pedigree’ no ensino e a falta de educação

As escolas, nos grandes centros urbanos, sempre foram uma forma eficiente e politicamente correcta de perpetuar o sistema de castas. Passados anos, os meninos já adultos reconhecem-se porque frequentaram o Liceu Pedro Nuno ou o Carolina Michaelis e fazem valer esse estatuto.

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As escolas, nos grandes centros urbanos, sempre foram uma forma eficiente e politicamente correcta de perpetuar o sistema de castas. Passados anos, os meninos já adultos reconhecem-se porque frequentaram o Liceu Pedro Nuno ou o Carolina Michaelis e fazem valer esse estatuto. 


Ninguém tem orgulho em admitir que frequentou a Roque Gameiro, na Amadora, mas dizer que se andou na Pedro Santarém é um bom cartão de visita. E o cenário melhora se a fasquia subir para o ensino privado, apresentando como ‘pedigree’ os colégios Militar e Planalto ou a Escola Alemã. E a ascensão social também se mede pelo facto de os pais que frequentaram a Roque Gameiro serem agora capazes de colocar os seus filhos no colégio Moderno.

Nada de mal vem ao mundo com esta mobilidade. Antes pelo contrário, porque se trata de um sinal de dinâmica. Por outro lado, estas castas educacionais também são impossíveis de eliminar porque decorrem da mesma realidade.

E é por este caminho que se chega à aprovação, em Conselho de Ministros de um diploma que permitirá aos pais escolher a escola em que querem colocar os seus filhos, pública ou privada, através de um apoio monetário dado directamente ao aluno. Admita-se. Existe bondade nesta decisão que potencia a liberdade de escolha, mas a possibilidade está longe de dar resposta ao crónico problema nacional – o da qualidade da educação. Muitos glosaram António Guterres quando este, então primeiro-ministro, afirmou ter uma paixão pela educação.

À distância é forçoso reconhecer que Guterres estava certo na identificação da sua paixão. A educação, escolar e familiar, são determinantes para garantir a evolução de uma sociedade, capaz de responder aos desafios colocados. E este tem sido um problema crónico de Portugal.

O nosso atraso em matéria educacional tem produzido efeitos devastadores. Só uma sociedade pouco desenvolvida alimenta o sofisma de escolas más e escolas boas e faz escolhas em função dos estabelecimentos de ensino que as pessoas frequentaram.

Só uma sociedade pouco desenvolvida perpetua este sistema de castas que vive à sombra de um estatuto e se alimenta dele, independentemente dos seus méritos e aptidões. E a educação, ou a falta dela, tem sido precisamente um dos factores para o apodrecimento do nosso ensino. A liberdade de escolha, mais que não seja, pode servir para abalar este decrépito sistema.

 

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