Opinião
O poder do poder
Os Mais Poderosos são um retrato do Portugal decisor, em vários patamares, no qual os protagonistas têm diferentes tipos de influência e um alcance de geometria variável.
Em 2010, quando o Negócios arrancou com a iniciativa Os Mais Poderosos da economia portuguesa, os cinco primeiros lugares foram ocupados, de forma decrescente, por Belmiro de Azevedo, Américo Amorim, José Eduardo dos Santos, José Sócrates e Ricardo Salgado. Os dois primeiros já faleceram, o então presidente angolano deixou o cargo ao fim de longos 38 anos, o antigo primeiro-ministro está a braços com a Justiça, o mesmo acontecendo com o ex-líder do BES, o qual, ao longo de muitos anos foi mimoseado com o epíteto de DDT (Dono Disto Tudo).
Esta evocação serve dois propósitos. O primeiro é o de demonstrar que o poder é efémero, ao contrário do que muitos (especialmente os seus usufrutuários) julgam. O segundo é o de sublinhar uma possibilidade identificada pelo filósofo irlandês, Edmund Burke, que viveu no século XVIII: "Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso".
Neste contexto, os Mais Poderosos do Negócios transformaram-se num instrumento relevante para a análise da evolução política, económica e até social do país. A partir da lista que o Negócios publica, é possível identificar tendências e aferir as fragilidades do país. Por quatro vezes, Angela Merkel foi a Mais Poderosa, sendo que por uma vez esse estatuto foi outorgado ao seu ex-ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, um facto que revela a vulnerabilidade recente tanto da política como da economia nacional. As feridas da intervenção da troika continuam presentes e condicionam decisões. Por tudo isto, os Mais Poderosos permitem conceber uma arquitectura dominante do poder que é sempre circunstancial e, não raras vezes, mais volátil do que aparenta. Sobretudo o político.
Os Mais Poderosos são um retrato do Portugal decisor, em vários patamares, no qual os protagonistas têm diferentes tipos de influência e um alcance de geometria variável. Esta lista não tem atributos qualificativos. A preocupação dos Mais Poderosos é mostrar a realidade, tal como é percepcionada, baseando-se em cinco critérios substantivos, o poder da fortuna, o poder financeiro e empresarial, a influência política, a influência mediática e a perenidade.
A lista dos Mais Poderosos não encerra juízos de valor sobre os protagonistas, até porque o poder, em si, não tem atributos qualificativos, dependendo antes da forma e dos objectivos de quem o exerce. Também por isso, os Mais Poderosos do Negócios tornaram-se incontornáveis.