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18 de Setembro de 2017 às 23:00

Elas comem tudo e deixam migalhas

As plataformas de distribuição online ganharam o atributo que Fernando Pessoa deu à Coca-Cola numa frase publicitária que ficou para a história: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se." Estas plataformas entranharam-se de tal maneira na economia que se tornaram as maiores ganhadoras da globalização, enfrentando poucos riscos e tendo custos reduzidos, por comparação com a indústria.

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É isso que se passa na comunicação social, em que grande parte do investimento publicitário é absorvido por plataformas como a Google e o Facebook, e é assim no turismo, com os hoteleiros europeus a levantarem a voz contra o portal Booking e outros, acusando-os de desrespeitar a concorrência. "Num momento em que a indústria do turismo corre bem, quem tem ganho mais é a Google, a segunda é a Booking ou a Priceline, a terceira é a Expedia. Não são os hoteleiros, são os intermediários", afirmou José Theotónio, CEO do grupo Pestana, ao Negócios, em Maio de 2017.

A reacção a esta constatação chegou agora. Segundo o jornal espanhol Cinco Días, várias associações hoteleiras europeias vão avançar com um processo a nível europeu contra o gigante de reservas online Booking por práticas anticoncorrenciais. Este portal, que tem uma quota de 63% das reservas online de hotéis, é acusado de forçar os hoteleiros a não baixar preços e a cobrar comissões excessivamente elevadas.

No final da semana passada, soube-se também que dez Estados-membros da União Europeia, entre os quais Portugal, França, Alemanha, Itália e Espanha, querem aumentar o nível de taxação de gigantes como a Google, o Facebook e a Amazon. "Não podemos ter um sector inteiro da economia que praticamente escapa à tributação", justificou Pierre Moscovici, comissário da Economia da União Europeia.

O passado não se muda, o presente é o que é, mas é possível intervir para modificar o futuro. As plataformas de distribuição, em domínios como a comunicação social e o turismo transformaram-se em cartéis não oficiais cujo excesso de poder é perigoso e destruidor de valor na economia. Do ponto de vista conceptual é até perigoso para a democracia, na medida em que pode ter um efeito coercivo sobre a comunicação social. As plataformas online entranharam-se. São uma inevitabilidade. Contudo, esta realidade deve ser temperada com uma regulação forte que devolva equilíbrio na relação entre quem produz e quem distribui. Esta é uma luta que tem de ser travada com carácter de urgência. 

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