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15 de Novembro de 2017 às 23:00

Angola e o teste do algodão

O princípio tem uma racionalidade à prova de bala. João Lourenço está a afastar a família dos Santos do círculo do poder e dos negócios do Estado para dar um sinal claro de que pretende romper com o passado e implementar uma governação transparente. Ninguém pode contestar esta estratégia, nem mesmo Isabel dos Santos, que ontem foi demitida da liderança da Sonangol.

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De igual forma, é legítimo que João Lourenço queira ter em empresas fundamentais para o país (casos da Endiama, Sodiam e Sonangol), ou instituições como o Banco Nacional de Angola, pessoas em quem tem confiança política, porque isso o pode ajudar a ter êxito governativo.

Em suma, ninguém pode pôr em causa João Lourenço por exercer um poder que ganhou nas urnas ao ser eleito Presidente de Angola. Estrategicamente, o que João Lourenço (tido com praticante de xadrez) fez foi colocar no tabuleiro do poder, tão rapidamente quanto possível, as suas peças. Até porque a sua eventual inacção seria vista como uma tibieza e um sinal de subserviência em relação ao seu antecessor, José Eduardo dos Santos.

Depois desta "limpeza" (chame-se assim, por conveniência), João Lourenço tem agora a tarefa de mostrar que foi movido pelo desejo de moralização da coisa pública. E de colocar o primado ético na condução dos destinos do Estado.

É esse o teste do algodão que espera o Presidente de Angola e para o qual o tempo também urge. O de dar sinais de que as mudanças nas empresas públicas resultaram numa efectiva melhor gestão das mesmas com benefício para o Estado. E, a par disso, que as relações de organismos públicos e do próprio Governo, por exemplo com investidores privados, se pautam por critérios de eficiência e integridade.

Os mais cínicos dirão que estas mudanças são apenas de rosto (uns saem do poder, outros entram) e que no essencial tudo se manterá. Os mais românticos acreditarão que estas primeiras decisões de João Lourenço significam efectivamente que Angola vai mudar de vida.

O futuro dirá qual das partes terá razão. Por ora, importa dar o benefício da dúvida a João Lourenço, que em Agosto se apresentou como um reformador ao estilo de Deng Xiaoping, líder da China entre 1978 e 1992, que ficou conhecido como o criador do chamado socialismo de mercado.

Para já, em Angola, garantiu o respeito. Tem poder e exerce-o sem medo. A sua afirmação como líder também passa por aqui. No essencial, será escrutinado pelo tempo. 

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