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12 de Fevereiro de 2017 às 23:00

A política em 140 caracteres

Nos dias que correm, os políticos não precisam de ideias e dispensam os pensamentos elaborados. A política transformou-se, decididamente, no território dos "sound bites".

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Nos dias que correm, os políticos não precisam de ideias e dispensam os pensamentos elaborados. A política transformou-se, decididamente, no território dos "sound bites". Frases curtas, incisivas, por hábito condimentadas com doses generosas de indignação, cuja propagação à escala mundial é garantida pelo Twitter, a rede social das 140 palavras.

Yanis Varoufakis, antigo ministro das Finanças grego, foi um dos percursores da utilização do Twitter como ferramenta política. Varoufakis alimentou a batalha que manteve em  2015 contra a União Europeia, sobretudo a Alemanha, recorrendo ao Twitter para dar informação (?) em tempo real sobre as negociações com os credores, denunciar o posicionamento de um determinado país ou mesmo para anunciar a sua demissão do Governo, forçando os seus adversários a actuarem no mesmo espaço mediático que transforma a realidade num acontecimento instantâneo.

É também através do Twitter que o Presidente dos EUA, Donald Trump, vai fazendo política, construindo narrativas simplistas onde há sempre culpados e inimigos, pessoas que querem travar a sua demanda para tornar a "América grande outra vez". Trump percebe a eficácia das mensagens curtas que terminam com palavras que apelam ao sentimento (triste, zangado, feliz, etc). Uma estratégia que visa a identificação através dos afectos e pertence à família comunicativa das mensagens publicitárias, também elas curtas e assertivas.

O Twitter permite interferir na realidade de forma instantânea, manipulando-a com factos alternativos, expressão popularizada Kellyanne Conway, conselheira da Casa Branca. Esta predominância dos 140 caracteres, pela sua natureza maniqueísta e pelo facto de as mensagens serem propagadas sem filtros, enfraquece a política e dá lastro aos populismos erráticos. 

A forma como os políticos, um pouco por todo o mundo, se estão a render à tirania do Twitter é duplamente perigosa. Por um lado, porque desqualifica a política enquanto ciência e a forma como os seus protagonistas se relacionam com os cidadãos. Por outro, porque a médio e longo prazo esta opção se irá traduzir na desqualificação dos sistemas de representação política democráticos.

A política em 140 caracteres, transmissora da ilusão de uma relação directa entre o poder e os seus cidadãos, é um passo decisivo para tornar os políticos dispensáveis. Com graves prejuízos para a democracia.
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