Opinião
A cimeira no país exemplar
A cimeira de chefes de Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) começou ontem na ilha do Sal, em Cabo Verde. Como já se percebeu, a cimeira será marcada pelos discursos de circunstância e as conversas costumeiras.
A falta de um genuíno interesse de países que podiam ser o motor da comunidade, caso do Brasil, tem feito da CPLP um pobre instumento diplomático, enrodilhado em polémicas estéreis como a da Guiné Equatorial, ou dos pedidos de adesão de Moçambique e Angola à Commonwealth, como se fosse um crime de lesa-pátria pertencer a mais do que uma organização.
A realização desta cimeira é, no entanto, o momento certo para fazer um elogio merecido e repetir um alerta. O elogio tem como destinatário Cabo Verde, que a partir desta semana e durante dois anos assumirá a presidência da CPLP.
O país, entre os denominados PALOP, foi o primeiro a realizar eleições livres, a 13 de Janeiro de 1991. Pelo caminho, cultivou as virtudes do multipartidarismo e da alternância democrática e foi revelando, ao longo dos anos, apesar da escassez de recursos naturais, a capacidade para contrariar o rótulo de país fatalmente pobre e condenado a depender da ajuda externa. Tem quadros competentes, a economia crescerá 4% em 2018, e uma diáspora que nunca perdeu a ligação à terra e ajuda com o envio de remesssas.
Cabo Verde é uma história de sucesso que contrasta, por exemplo, com a tragédia interminável da Guiné-Bissau, e também capaz de transmitir ensinamentos úteis a Angola ou Moçambique em matéria de pluralismo político. Os cabo-verdianos, enquanto povo, são merecedores de uma justa manifestação de apreço pelo que têm sido capazes de fazer pelo país.
O alerta tem como destinatário Portugal. O país é muito maior do que as suas fronteiras geográficas devido à língua, um legado que deixou em África e na América Sul e que Timor-Leste quis para si como garante de identidade nacional. Contudo, não parece haver um programa de Estado que assegure a continuidade deste legado e o reforce. Como também não parece existir umplano de médio prazo para a CPLP, em especial visando os países africanos, capaz de afirmar Portugal à escala mundial, com benefícios económicos, sociais e políticos para todas as partes envolvidas.
Portugal tem desvalorizado África no desenho da sua estratégia de política externa, agindo antes de forma casuística e ao sabor das circunstâncias. Este é um erro que o país vai pagar caro.
A realização desta cimeira é, no entanto, o momento certo para fazer um elogio merecido e repetir um alerta. O elogio tem como destinatário Cabo Verde, que a partir desta semana e durante dois anos assumirá a presidência da CPLP.
Cabo Verde é uma história de sucesso que contrasta, por exemplo, com a tragédia interminável da Guiné-Bissau, e também capaz de transmitir ensinamentos úteis a Angola ou Moçambique em matéria de pluralismo político. Os cabo-verdianos, enquanto povo, são merecedores de uma justa manifestação de apreço pelo que têm sido capazes de fazer pelo país.
O alerta tem como destinatário Portugal. O país é muito maior do que as suas fronteiras geográficas devido à língua, um legado que deixou em África e na América Sul e que Timor-Leste quis para si como garante de identidade nacional. Contudo, não parece haver um programa de Estado que assegure a continuidade deste legado e o reforce. Como também não parece existir umplano de médio prazo para a CPLP, em especial visando os países africanos, capaz de afirmar Portugal à escala mundial, com benefícios económicos, sociais e políticos para todas as partes envolvidas.
Portugal tem desvalorizado África no desenho da sua estratégia de política externa, agindo antes de forma casuística e ao sabor das circunstâncias. Este é um erro que o país vai pagar caro.
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