Opinião
Quando o CEO ganha 300 vezes mais
O regulador da bolsa americana decidiu na semana passada que as grandes empresas cotadas vão ter de passar a divulgar a diferença entre o salário do CEO e a mediana do vencimento dos restantes trabalhadores.
O regulador da bolsa americana decidiu na semana passada que as grandes empresas cotadas vão ter de passar a divulgar a diferença entre o salário do CEO e a mediana do vencimento dos restantes trabalhadores. Demagogia ou um bom contributo para diminuir a desigualdade?
A introdução deste rácio estava prevista na reforma Dodd-Frank, aprovada em 2010, e que é a trave-mestra do processo legislativo destinado a impedir que os Estados Unidos voltem a passar por uma crise financeira como a de 2008. Mas só agora foi regulamentada pela Securities & Exchange Commission (SEC).
Mas além da política, a divulgação do hiato salarial encontra na realidade um bom argumento. Os estudos invocados nas últimas semanas dão conta de um aumento exponencial dos salários dos executivos e um fosso crescente entre o topo e a base. De acordo com uma análise do Economic Policy Institute, com base nos dados das 350 maiores empresas americanas, o salário dos CEO disparou 54,3% desde o início da retoma em 2009, incluindo os bónus pagos em acções. Por outro lado, a diferença entre o presidente executivo e a média dos trabalhadores passou de 20 vezes em 1965 para quase 300 vezes em 2013.
A SEC diz no comunicado emitido no dia 5 de Agosto que a nova regra se destina a ajudar os accionistas a votarem de forma mais informada as propostas de remuneração do conselho de administração. Mais do que os investidores, é da opinião pública e dos consumidores que pode vir a pressão para baixar o salário dos CEO.
O regulador recebeu 280 mil comentários a favor da medida durante o período de consulta. A maioria invocava o direito do público em conhecer quais as empresas que estão a contribuir para a desigualdade. Outros afirmam que a iniquidade será tida em conta na hora de escolher que produto comprar ou em que empresa aplicar as poupanças para a reforma.
A SEC podia ter sido mais dura com as empresas. Em vez da média, obriga a revelar a mediana dos salários dos trabalhadores, o que tendencialmente dará um valor mais elevado, e logo menos distante do auferido pelo CEO. Mas a regra pode bem ajudar a corrigir certos abusos, que nenhuma legislação foi capaz de travar. E obrigar as administrações a partilhar com os trabalhadores uma percentagem maior do valor criado por todos. Era bom que a prática atravessasse o Atlântico.
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