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O precedente grego

A saída da Grécia do euro deixou de ser tabu para líderes políticos europeus e de organizações internacionais, que o admitem à boca cheia.

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A saída da Grécia do euro deixou de ser tabu para líderes políticos europeus e de organizações internacionais, que o admitem à boca cheia. A última foi Christine Lagarde, do FMI, na semana passada. Ora isso significa que a saída de um qualquer país da moeda única também deixou de o ser.

"A saída da Grécia [da Zona Euro] é uma possibilidade", afirmou esta quinta-feira a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, numa entrevista a um jornal alemão. A ideia há muito perdeu a virgindade e é já longa a lista dos que admitem o cenário, desde Wolfgang Schäuble a Durão Barroso.

Mais do que uma crença muito forte naquela probabilidade, estas declarações têm como objectivo ganhar músculo na negociação com Atenas. Pelo que são reveladoras de que continua a haver um fosso considerável a separar as propostas de Atenas e as exigências das instituições de Bruxelas, que não estão disponíveis para ceder.

A admissão de uma "Grexit" surge em regra associada ao pressuposto de que o risco de contágio a outros países é um risco controlado. Mas será? Lagarde diz que não seria "um passeio", mas "provavelmente também não significaria o fim do euro". Provavelmente? Ficamos todos mais descansados...

É certo que há razões para algum optimismo. A exposição dos bancos à Grécia é hoje muito menor do que há uns anos. Os investidores parecem mais preocupados com a emergência de forças políticas não alinhadas com a prescrição oficial de Bruxelas e os seus determinismos orçamentais. O programa de compra de activos do BCE é um forte desincentivo a especuladores tentados a apostar na queda desenfreada dos preços das obrigações, como aconteceu em 2010 e 2011.

Kathrin Muehlbronner, vice-presidente da agência Moody's, afirmou na sexta-feira, num encontro com jornalistas em Lisboa, que uma saída da Grécia não provocaria no euro uma crise idêntica à que se assistiu entre 2010 e 2012. Mas avisou que "iria mudar para sempre a natureza da união monetária, que deixaria de ser vista como permanente". Também o BCE admite que existem riscos associados a um contágio. "Na inexistência de um rápido acordo [com a Grécia] sobre as reformas estruturais necessárias, o risco de um ajustamento em alta do prémio de risco exigido à dívida soberana dos países vulneráveis da Zona Euro pode materializar-se", pode ler-se no relatório de Estabilidade Financeira divulgado na semana passada. Entre os países vulneráveis estão Portugal, Espanha, Itália, Chipre e Eslovénia.

A saída da Grécia da Zona Euro pode até ser gerível. Mas o precedente não deixará de pesar na percepção dos investidores da próxima vez que um país ficar em apuros. E mesmo que não aconteça, o mero reconhecimento da possibilidade de um "Grexit" representa, por si só, a abertura de um precedente. É bom que se tenha disso noção.

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