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O fantasma de Sócrates e as obras públicas

As grandes obras públicas vão voltar. O assunto causa calafrios, temos frescos na memória os gastos sumptuosos e nem sempre certeiros que em tempos recentes ajudaram a levar o país à bancarrota. A realidade é que o país precisa de investir em obras públicas e adiá-las irá afectar a economia.

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O aeroporto de Lisboa é disso um caso paradigmático. O Humberto Delgado está a rebentar pelas costuras e deixou já de ser capaz de responder à procura – Carlos Lacerda, presidente executivo da ANA, estima que se estão a perder até 2,5 milhões de passageiros por ano.

O serviço nas horas de ponta é uma lástima. No terminal 2 torna-se quase impossível circular, tal o amontoado de gente. O conceito "low cost" é mal confundido com "low quality", transmitindo uma péssima imagem do país. A isto somam-se as horas sem fim para passar o controlo de passaportes, contas de outro rosário onde entra o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Valha-nos, ao menos, a desconvocação da greve marcada para quinta e sexta-feira.


Anda-se em outros aeroportos de metrópoles pela Europa fora e percebe-se a pequenez e insuficiência da infra-estrutura da capital portuguesa. E embora este aumento tão expressivo da procura fosse difícil de prever, há muito que existiam evidências de que o reforço do Humberto Delgado e a construção de um novo aeroporto eram necessárias. Acontece que o próprio contrato de concessão à Vinci impunha poucas condicionantes, uma forma de maximizar o encaixe inicial para o Estado: era então essa a prioridade imposta por Vítor Gaspar.  Agora, quatro anos depois, até já se admite que nem o Montijo, que só estará pronto lá para 2022, evita a construção de outra infra-estrutura.


Não é só o aeroporto, nem apenas Lisboa. São os investimentos urgentes que é preciso fazer na ferrovia, nos portos, na melhoria da mobilidade urbana em várias cidades do país. Há dinheiro europeu. Dobrado o cabo mais difícil da consolidação orçamental, começa também a haver dinheiro do Estado para investir nas obras públicas. O primeiro-ministro deu o pontapé de saída no novo ciclo desafiando o PSD para um acordo parlamentar que permita um consenso nesta matéria. Um consenso que seria bem-vindo.

Percebe-se a tentação de evocar o fantasma do socratismo, como fez o líder parlamentar do PSD. Mas fazê-lo para demonizar as obras públicas é um erro. Já não o é para sublinhar que a próxima vaga tem de obedecer a critérios de racionalidade e sustentabilidade económica, ser feita à medida das possibilidades financeiras do Estado, sem criar ónus ainda mais excessivos sobre as próximas gerações, nem alimentar clientelas.
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