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18 de Novembro de 2016 às 00:01

Juros baixos? Não basta pedir

A economia acelera, o défice baixa, não há sanções de Bruxelas, o BCE e a Comissão Europeia elogiam o caminho que vem sendo feito pelo Governo e o país. E mesmo assim, no diabo dos mercados, os juros da dívida só sobem. Fazem até vista grossa aos apelos do primeiro-ministro.

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Na quarta-feira, em Casablanca, António Costa vaticinou como "muito provável que, ao longo de 2017, perante números que se consolidam sobre o crescimento da economia e a mensagem de confiança da União Europeia relativamente à evolução orçamental portuguesa, os próprios mercados ajustem o custo da nossa dívida face a valores mais compatíveis com a realidade económica do país".

Os investidores estão, para já, a ignorar as palavras do primeiro-ministro, que teve o cuidado de colocar esse alívio do custo da dívida num horizonte a médio prazo. Os juros nas obrigações a dez anos superaram ontem os 3,7%. O risco de Portugal voltou a agravar-se, com a diferença para a Alemanha a voltar aos 3,4 pontos percentuais.

Porquê a teimosia dos mercados? A primeira questão, que António Costa não explicou, é que há uma parte disto que é muito maior do que a sua vontade de primeiro-ministro. A vitória de Donald Trump mudou as regras do jogo no mercado obrigacionista, inclusive na Europa. Só um BCE mais ambicioso poderá travar a escalada das taxas. Mas como sê-lo, se cresce a percepção de que esta política monetária não é sustentável por muito mais tempo? Claro que este movimento de subida apressada das chamadas "yields" pode dar lugar a uma normalização. Mas, avisam analistas, o tempo dos juros hiperbaixos chegou ao fim. E vem aí o referendo em Itália.

Depois é preciso olhar para dentro, onde sobram factores que podem justificar o pé atrás dos investidores. A dívida pública ainda a rondar os 130% do PIB, uma das mais altas da Zona Euro, a fazer temer uma reestruturação. O endividamento privado a baixar, mas ainda a constranger o crescimento. A dívida externa a corrigir, mas ainda superior a 200% do PIB. Uma economia que acelerou no terceiro trimestre, mas que não dá garantias de que este será um desempenho sustentável. Tudo factores que servem para justificar a má nota que as grandes agências de "rating" nos dão. E que nos deixam perigosamente reféns de uma pequena.

É também esta a "realidade do país", que não nos deve deprimir, mas convém não ignorar. Num mundo onde a incerteza é cada vez mais uma constante, uma economia com os desequilíbrios da portuguesa fica vulnerável. O caminho de consolidação orçamental que o Governo tem vindo a conseguir vai no bom sentido. Já a reversão de reformas está fresca na cabeça dos investidores.

António Costa pode achar que seria justo os juros de Portugal baixarem no próximo ano. Mas o Governo não fez ainda o suficiente para o merecer. Ou a Europa. Os mercados que o digam. 
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