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E você, investia no Montepio?

Se o leitor tivesse uma poupança de 10.000 euros, o Montepio seria a sua opção de investimento? Mesmo que achasse a hipótese atractiva, aplicaria 27% ou sequer 20% dessa poupança no banco? Não parece avisado. Mas é o que está em cima da mesa no negócio com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

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Edmundo Martinho esteve ontem no Parlamento a defender o racional daquele investimento, que ainda não está fechado, garantiu. Diz o provedor que "a Santa Casa tem disponibilidades financeiras que tem a obrigação de saber gerir". O investimento planeado no Montepio é saber gerir?

A instituição tem investimentos imobiliários e em activos financeiros, mas nenhum isoladamente com o peso que poderá ter o Montepio. Edmundo Martinho talvez não conheça o trabalho de Harry Markowitz, o prémio Nobel que em 1952 definiu a teoria moderna de gestão de portefólios, que comprova o papel fundamental da diversificação na diminuição do risco dos investimentos.

Ora os 200 milhões de euros que a Santa Casa poderá pagar por 10% do Montepio representam 27% do seu activo. Mesmo que viesse a pagar apenas 150 milhões, ainda estamos a falar de um quinto. E estamos a falar do activo, não da tesouraria da instituição, que ronda os mesmos 200 milhões.

Depois podemos interrogar-nos porquê o Montepio e não outro investimento? Uma instituição bancária necessita, ciclicamente, de reforçar capital, o que significa que a Santa Casa será provavelmente chamada a meter mais dinheiro. É uma incógnita quando a caixa económica poderá voltar a pagar dividendos. O retorno do capital investido na banca é possível que suba, mas há-o mais elevado noutras paragens e com menos volatilidade.

A páginas tantas, o provedor responde aos deputados com o exemplo do investimento bem-sucedido da Santa Casa no BCP. Outro engano. Rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras.

Costuma dizer-se que o que determina um bom negócio é o valor (baixo) a que se compra. Edmundo Martinho diz que só entrará com um desconto e o investimento até pode correr bem. Mas o risco implícito na concentração excessiva do balanço num só activo não condiz com uma gestão avisada das disponibilidades financeiras.

Justificar a entrada no capital do Montepio com o aproveitamento de uma oportunidade de investimento é um argumento com perna curta. Ao primeiro abanão ficará a nu a sua fragilidade.

Mais vale assumir aquilo que o negócio é: encontrar um accionista com capacidade para injectar dinheiro no banco e, por razões prudenciais, tornar o Montepio e a Associação Mutualista menos dependentes um do outro. Em suma, resolver a última situação delicada que subsiste no sistema financeiro português. 
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