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Afastar o diabo não chega

Chega termos perdido uma década. O país precisa de um choque de competitividade e de consensos que o promovam. Mas a prioridade para o primeiro-ministro é ter as grandes obras públicas aprovadas por dois terços dos deputados. É pouco, poucochinho.

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O crescimento tem vindo a acelerar, mas continua a ser demasiado magro para tirar o país do atoleiro da dívida e dar à economia uma dinâmica capaz de resolver os desequilíbrios de que ela ainda padece.

António Costa conseguiu mostrar que os bolcheviques não só não tomaram o Palácio de Inverno, parafraseando os receios ouvidos pelo Presidente da República, como demonstrou que é possível manter um apoio parlamentar estável à esquerda e ir além de Bruxelas na consolidação orçamental. Precisou de tempo, tempo que se perdeu, mas foi capaz de gerar confiança nos capitais nacionais e estrangeiros.


O primeiro-ministro tem uma especial predilecção por atirar à cara do PSD o diabo que Passos Coelho atiçou. Voltou a fazê-lo no debate quinzenal desta quarta-feira. Mas Governo e oposição andarem entretidos a discutir se o diabo vai ou não chegar é poucochinho e não nos leva a lado nenhum.


Reclama o primeiro-ministro que o modelo do Governo "produz bons resultados do ponto de vista económico e orçamental". É questionável que se possa falar num modelo do Governo (o da oposição não seria muito diferente, Bruxelas "oblige"), mas é verdade que tem funcionado do ponto de vista da redução do défice –  vamos em breve celebrar a saída do PDE. Dizer que funcionou do ponto de vista económico é, no mínimo, prematuro.

Há mais confiança e o país tem sido capaz de apanhar a boleia da melhoria da actividade na Zona Euro, mas vai pouco além disso. A aposta na formação e no empreendedorismo merece aplauso e dará frutos. Mas a "geringonça" não parece capaz de engrenar muitas das reformas de que o país ainda carece. As já prometidas e que podem permitir ajudar a resolver alguns dos desequilíbrios da economia – como a redução do endividamento – avançam lentamente. Outras pura e simplesmente não se fazem.


A sustentabilidade da Segurança Social é para resolver com pensos rápidos de diversificação da receita na forma de contribuições pagas pelas empresas. A justiça continua a ser um factor de insegurança e incerteza, inimigo do investimento. A burocracia e os custos com energia ainda são um fardo. A máquina do Estado continua por afinar e a pesar demasiado nos rendimentos das empresas e do trabalho.

Chega termos perdido uma década. O país precisa de um choque de competitividade e de consensos que o promovam. Mas a prioridade para o primeiro-ministro é ter as grandes obras públicas aprovadas por dois terços dos deputados. É pouco, poucochinho
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