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27 de Agosto de 2013 às 00:01

Bolhas para sempre

As bolhas especulativas não terminam como uma curta história, romance ou peça de teatro. Não há um desenlace final que leve todos os pontos da narrativa a uma conclusão final impressionante.

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Poderá pensar que temos estado a viver num mundo pós-bolha desde o estoiro, em 2006, da maior bolha mundial de sempre, a bolha imobiliária, e do fim de uma grande bolha nos mercados accionistas no ano seguinte. Mas o tema das bolhas está sempre a reaparecer – as mesmas ou novas bolhas imobiliárias em muitos países, uma nova bolha bolsista mundial, uma bolha de longo prazo no mercado obrigacionista dos Estados Unidos e noutros países, uma bolha nos preços do petróleo, uma bolha nas cotações do ouro, e por aí fora.


No entanto, não esperava a história de uma bolha quando visitei a Colômbia no mês passado. As pessoas da zona falaram-me sobre uma bolha imobiliária em curso e o meu motorista passeou-me pelo resort costeiro de Cartagena, apontando com ar de admiração várias casas que tinham sido recentemente vendidas por milhões de dólares.

O Banco de la República, banco central da Colômbia, mantém um índice de preços das casas para três grandes cidades – Bogotá, Medellín e Cali. O índice disparou 69% em termos reais (ajustado à inflação) desde 2004, sendo que grande parte do aumento verificou-se após 2007. A taxa de crescimento dos preços faz lembrar a experiência dos EUA: o índice S&P/Case-Shiller de preços das casas para 10 cidades dos EUA disparou 131% em termos reais desde o seu mínimo em 1997 até ao seu máximo em 2006.

Surge então a pergunta: o que é uma bolha especulativa? O Dicionário de Inglês da Oxford define uma bolha como "algo frágil, sem substância, vazio, ou sem valor; um espectáculo enganoso. Desde o século XVII que é frequentemente aplicado a esquemas comerciais ou financeiros enganosos". O problema é que palavras como ‘espectáculo’ e ‘esquema’ sugerem uma criação deliberada, em vez de um fenómeno social generalizado que não é comandado por nenhum empresário.

Talvez a palavra bolha seja usada de forma descuidada.

Eugene Fama acha que sim. Fama, o mais importante defensor da "hipótese dos mercados eficientes" nega que as bolhas existam. "Nem sequer sei o que significa uma bolha. Estas palavras tornaram-se populares. Não creio que tenham algum significado", disse numa entrevista em 2010 a John Cassidy para a "The New Yorker".

Na segunda edição do meu livro intitulado "Irrational Exuberance", tentei dar uma melhor definição de bolha. Uma "bolha especulativa", escrevi na altura, "é uma situação em que a notícia de uma subida de preços estimula o entusiasmo dos investidores, que passa de pessoa para pessoa por contágio psicológico, processo durante o qual são amplificadas histórias que poderão justificar o aumento de preços". Isto atrai "uma categoria cada vez maior de investidores que, apesar das dúvidas em relação ao valor real do investimento, são atraídos para ela em parte devido à inveja do sucesso dos outros e em parte devido ao empolgamento que sente um jogador".

Esse parece ser o centro do significado da palavra, da forma como é mais consistentemente usada. Implícita nesta definição está a sugestão de como é tão difícil para os "apostadores inteligentes" lucrarem com as apostas contra as bolhas: o contágio psicológico promove um modo de pensar que justifica os aumentos de preço, pelo que a participação na bolha pode ser considerada quase racional. Mas não é racional.

A história em cada país é diferente, reflectindo as suas próprias notícias, o que nem sempre se enquadram com as notícias de outros países. A título de exemplo, a actual história na Colômbia parece ser que o governo do país, agora sob a apreciada gestão do presidente Juan Manuel Santos, fez baixar a inflação e as taxas de juro para níveis de país desenvolvido, e eliminou a ameaça colocada pelos rebeldes das FARC, injectando assim nova vitalidade na economia colombiana. Esta é uma história suficientemente boa para motivar uma bolha imobiliária.

Uma vez que as bolhas são fenómenos essencialmente sociopsicológicos, estas são, pela sua própria natureza, difíceis de controlar. A acção regulatória promovida desde a crise financeira poderá diminuir as bolhas no futuro. Contudo, o medo público das bolhas poderá também promover o contágio psicológico, alimentando ainda mais as profecias auto-realizáveis.

Um problema com a palavra bolha é que cria uma imagem mental de uma bola de sabão a crescer, que está destinada a estoirar súbita e irrevogavelmente. Mas as bolhas especulativas não terminam assim tão facilmente; podem desinchar um pouco, à medida que a história muda, e incharem de novo.

Seria mais exacto referir estes episódios como epidemias especulativas. Sabemos, como o atesta a gripe, que uma nova epidemia pode surgir subitamente, precisamente quando uma anterior está a dissipar-se, se aparecer uma nova forma de vírus ou se algum factor ambiental reforçar o ritmo de contágio. Da mesma forma, uma nova bolha especulativa pode surgir em qualquer lugar se aparecer uma nova história sobre a economia e se esta tiver narrativa suficiente para propagar um novo contágio ao nível do pensamento dos investidores.

Foi isso que aconteceu aquando do ‘bull market’ da década de 1920 nos Estados Unidos, que atingiu o pico em 1929. Distorcemos a história pensando em bolhas como um período de forte aumento dos preços, seguido de um súbito ponto de viragem e de um grande e definitivo ‘crash’. Mas, na verdade, um grande aumento dos preços reais das acções nos EUA, após a "Terça-feira Negra" gerou uma recuperação em 1930 que as levou a recuperarem metade das perdas registadas em 1929. A isto seguiu-se um segundo ‘crash’, e um outro ‘boom’ de 1932 a 1937, seguido de um terceiro ‘crash’.

As bolhas especulativas não terminam como uma curta história, romance ou peça de teatro. Não há um desenlace final que leve todos os pontos da narrativa a uma conclusão final impressionante. No mundo real, nunca sabemos quando é que a história chegou ao fim.

© Project Syndicate, 2013.

www.project-syndicate.org

Tradução: Carla Pedro

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