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Aplicar a geoengenharia às mudanças climáticas

Os grandes benefícios de investigar a geoengenharia prendem-se com o facto de esta oferecer a única forma de reduzir, rapidamente, a temperatura mundial.

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Mesmo os activistas do clima cada vez mais reconhecem que a retórica sobre o acordo mundial para reduzir as emissões dos gases de efeito de estufa, concluído em Paris há um ano, não vai ao encontro das actuais promessas que dizem respeito às temperaturas. Isto deveria levar-nos a pensar em soluções alternativas e inteligentes. Mas tal alternativa, a geoengenharia, é uma solução que muitas pessoas recusam.

 

Geoengenharia significa manipular deliberadamente o clima na Terra. Parece algo saído da ficção científica. Mas faz todo o sentido pensar nisso enquanto política de segurança acessível e prudente.


As cimeiras do clima não têm produzido resultados ao nível das temperaturas mundiais por uma razão simples. A energia solar e a energia eólica continuam a ser demasiado dispendiosas e ineficazes para substituir a nossa dependência de combustíveis fosseis. A abordagem que permanece, imbuída pelo acordo do clima de Paris, exige que os governos tentem forçar a introdução de energias limpas no mundo, que são imaturas e pouco competitivas. Isso é muito dispendioso e ineficaz.

 

Bill Gates liderou o fundo Breakthrough Energy Ventures que, no ano passado, nos deu motivos para termos esperança. No centro de qualquer resposta para o aquecimento global tem de estar a necessidade de tornar as energias renováveis mais baratas e competitivas através da investigação e desenvolvimento. Assim que a inovação conduzir os preços da energia verde para níveis abaixo daqueles que custam os combustíveis fósseis, todos podem mudar. É preciso muito mais financiamento para investigação.

 

Mas tais inovações exigem tempo. E é aí que a geoengenharia pode desempenhar um papel importante.

 

Este ano, pela primeira vez, o departamento governamental norte-americano que supervisiona os estudos do clima, que são financiados pelo orçamento federal, recomendou formalmente que se faça investigação em geoengenharia. Esse movimento tinha o apoio do conselheiro para ciência do antigo presidente Obama, John Holdren, que disse que a geoengenharia "tinha de ser examinada". No ano passado, 11 cientistas do clima declararam que o acordo do clima de Paris tinha atrasado a luta contra as mudanças climáticas, assinalando que "estamos encostados à parede e temos agora que começar o processo de preparação para a geoengenharia".

 

Os grandes benefícios de investigar a geoengenharia prendem-se com o facto de esta oferecer a única forma de reduzir, rapidamente, a temperatura mundial. Qualquer política para reduzir os combustíveis fósseis vai demorar décadas a ser implementada e demorará meio século a ter qualquer impacto no clima que se note. É por isso que apenas a geoengenharia, não os investimentos em renováveis, pode ser uma apólice de seguro.

 

Além disso, a geoengenharia promete ser excepcionalmente barata, tornando mais provável a sua implementação do que as reduções de carbono, algo que é mais caro. Isto significa também que é mais provável ser implementada apenas por um país ou mesmo por um bilionário astuto. Posto isto, é essencial investigar de forma séria os seus efeitos previamente, para assegurar que funciona e não vai ter resultados negativos nem inesperados.

 

Para ser claro, não estou a advogar que devemos começar com a geoengenharia hoje ou mesmo nesta década. Mas estou a falar sobre os seus méritos ao nível da investigação, em especial dadas as limitações do acordo do clima de Paris.

 

O que é que exactamente deve ser estudado? Muitos métodos de engenharia atmosférica têm sido propostos.

 

O processo mais falado é inspirado na natureza. Quando o estratovulcão [assim chamado por ter a forma de um cone] Monte Pinatubo [nas Filipinas] começou a sua erupção em 1991, cerca de 15 milhões de toneladas de dióxido de enxofre entraram na atmosfera, o que reagindo à água formou uma camada nebulosa que se espalhou por todo o mundo. Ao espalhar-se e ao absorver a luz solar, esta nebulosidade arrefeceu a superfície da Terra durante quase dois anos. Podemos imitar este efeito através da inserção de aerossóis na atmosfera – essencialmente lançando materiais como dióxido de enxofre ou fuligem na atmosfera.

 

A abordagem menos invasiva e mais efectiva, em termos de custos, é provavelmente um processo que se baseia no branqueamento de nuvens marinhas, em que as gotas de água marinha são projectadas formando nuvens marinhas para torná-las um bocadinho mais brancas e reflectirem mais luz solar. Isto aumenta o processo natural pelo qual o sal dos oceanos fornece as partículas de condensação para o vapor de água, criando e aumentando a brancura das nuvens. 

 

Uma investigação desenvolvida para o Copenhagen Consensus, o think tank que dirijo, mostrou que gastando apenas 9 mil milhões de dólares em 1.900 barcos de pulverização de água do mar se poderia evitar todo o aquecimento global previsto para este século. Iria gerar benefícios – através da prevenção de um aumento da temperatura – de cerca de 20 biliões de dólares. Isto é o equivalente a gerar um retorno de dois mil dólares por cada dólar gasto.

 

Para percebermos melhor este números é preciso ver que as promessas do acordo do clima de Paris vão custar mais de um bilião de dólares anuais e vão dar um retorno muito menor em termos de cortes ao nível do carbono – muito provavelmente por cada dólar gasto a prevenir danos climáticos vão ser gerados apenas alguns cêntimos.

 

As pessoas estão compreensivelmente nervosas com a geoengenharia. Mas muitos dos riscos têm sido exagerados. Por exemplo, tornar as nuvens marinhas mais brancas amplifica um processo natural e não conduz a mudanças permanentes na atmosfera – desligar todo o processo iria fazer com que o mundo regressasse ao seu estado anterior numa questão de dias. Pode ser usado apenas quando necessário.

 

Os argumentos para desenvolver uma investigação séria em torno da geoengenharia são convincentes. Como um grande número de cientistas reconhece, o planeta precisa de mais oportunidades para abordar o aquecimento global. Com um resultado tão frágil e caro como o que está implicado no acordo de Paris, essas oportunidades têm mesmo de chegar. 

 

Bjørn Lomborg é director do Copenhagen Consensus Center e professor convidado da Copenhagen Business School.

 

Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

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