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04 de Janeiro de 2010 às 11:59

Tic-tac, toc-toc!

Desde há muito que Portugal parece ser uma bomba-relógio. Mas, na realidade, nunca explode totalmente. Nem deflagrou com o fim da monarquia absoluta, nem com a constitucional, nem com a I República, com o Estado Novo, ou o 25 de...

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Desde há muito que Portugal parece ser uma bomba-relógio. Mas, na realidade, nunca explode totalmente. Nem deflagrou com o fim da monarquia absoluta, nem com a constitucional, nem com a I República, com o Estado Novo, ou o 25 de Abril. Estamos sempre quase a explodir, mas tudo não passa, para a nossa elite política, de um estalinho de Carnaval. Cavaco Silva regressou com essa ideia atractiva: podemos estar a caminhar para uma situação explosiva.

Talvez por isso Portugal necessite de um banho de água fria. Para retardar a explosão. O retardador pode ser a grande aliança para o OGE, mas as placas tectónicas da sociedade portuguesa não vão ficar paradas por causa disso. Cavaco sabe o que o Governo parece esquecer: a conjugação do défice externo com a ruína das finanças públicas pode atirar Portugal para uma favela pós-moderna. Tecnologicamente evoluída e socialmente destruída. O País não pode dar-se ao luxo de lidar apenas com palavras. Acabou o Portugal adjectivo. Os problemas têm de ser enfrentados e debelados. Mas não é isso, claro, que preocupa a classe política, do PS ao PSD. A política, como outrora sugeriu Max Weber, tornou-se o território dos profissionais.

Por isso, o curto prazo afastou o longo prazo. Num Governo onde os funcionários subalternos e obedientes se tornaram a maioria, ninguém consegue ouvir o som das ruas. Talvez por isso António Costa tenha recordado a Carlos Zorrinho o seu ensurdecedor silêncio sobre o apagão eléctrico. O Governo não ouve o tic-tac. Só escuta o toc-toc de José Sócrates.
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