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Tendências de consumo oferecem oportunidades a longo prazo

O ambiente de consumo está a mudar, mas os mercados são frequentemente lentos a reconhecer e, por conseguinte, subestimam as mudanças estruturais.

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Alterações duradouras a longo prazo nas despesas de consumo a nível mundial representam uma grande animação para o investimento, com base na convicção que o consumo é um dos principais indicadores efectivos de mudanças globais.

Com 50% do produto interno bruto global a ser impulsionado pelo consumo, as estratégias que têm por alvo esta despesa podem beneficiar tanto das tendências que impelem os maduros mercados ocidentais como o crescente poder de compra dos mercados emergentes. O que é importante para os investidores é o significativo potencial de crescimento das receitas das empresas a nível mundial que conseguem capitalizar com sucesso estas alterações no consumo a longo prazo.

Os investidores devem procurar evitar fantasias de curto prazo, procurando antes lucrar com tendências persistentes e de longo prazo com capacidade para produzirem retornos sustentáveis. Por exemplo, a Starbucks criou efectivamente uma nova categoria ao convencer milhões de pessoas que precisam de comprar uma chávena de leite quente com o café expresso diário - criando um hábito de consumo que não existia anteriormente. A identificação antecipada destas tendências fornece uma fonte duradoura de rendimentos aos investidores. Estes são pilares de investimento facilmente identificáveis, nos quais residem as tendências que provavelmente irão moldar o consumo nas próximas décadas:

Procura aspiracional: Até 2030, prevê-se que dois mil milhões de pessoas passem do patamar de baixos rendimentos para a classe média, alterando padrões de compra em todo o mundo à medida que as pessoas aspiram a padrões de vida mais elevados. Um modo de avaliar esta tendência é através das empresas ocidentais que vendem para os mercados emergentes. A maioria das maiores marcas mundiais são detidas por empresas ocidentais e, à medida que os níveis de riqueza aumentam nos mercados em desenvolvimento, os seus habitantes aspiram possuir estes bens de marca.

Isto aplica-se aos bens aspiracionais, como os oferecidos pelo fabricante de relógios de luxo Richemont. No ano passado, a China representou 26% da exportação de relógios da Suíça. Ou veja-se a Tata motors, a maior empresa automóvel da Índia, que deverá beneficiar com o investimento de USD 100 mil milhões nas estradas indianas nos próximos quatro anos.

Demografia e urbanização: Um dos benefícios da utilização de tendências demográficas para avaliar os investimentos é a sua previsibilidade. Os factores demográficos são impulsionadores racionais e quantificáveis da mudança económica. As populações envelhecidas impulsionam as mudanças nos padrões de compra, transformando a economia de um país e abrindo novos fluxos de receitas.

A título de exemplo, mais de 50% da população japonesa estará na idade da reforma em 2020. Os investidores podem usar esta informação para prever alterações nos padrões de consumo e verem quais as empresas que podem beneficiar. A empresa norte-americana Medtronic, por exemplo, cria tecnologias médicas para que milhões de pessoas possam retomar actividades diárias, regressar ao trabalho e viver melhor.

Do mesmo modo, a necessidade de novas infra-estruturas e sistemas de apoio é impulsionada pela rápida industrialização e urbanização. As Nações Unidas antecipam que até 2030, quase 60% dos habitantes do planeta vivam em cidades. Estima-se que as populações urbanas emergentes cresçam entre 133% e 150%, mais rápido que o crescimento geral da população actual, com mais de 350 milhões de pessoas - o equivalente a metade da população europeia - a mudar-se para áreas urbanas entre 2010 e 2015. As empresas podem responder às necessidades destes novos consumidores para obterem lucros significativos.

Saúde e bem-estar: A saúde e o bem-estar são uma tendência observável em todo o mundo. Nos mercados desenvolvidos, as pessoas querem viver o mais possível e manterem a melhor aparência possível, o que aumenta a procura de produtos entendidos como proporcionadores de melhorias no estilo de vida. Nos EUA, a venda de alimentos orgânicos aumentou de menos de $4 mil milhões para $16 mil milhões nos últimos dez anos, reflectindo a tendência da alimentação mais saudável.

Nos mercados emergentes, por seu turno, o combate ao aumento da diabetes continua a ser um desafio importante. Face às expectativas de aumento dramático no volume de doenças, algumas empresas, como a francesa Sanofi Aventis, beneficiam, uma vez que fornecem soluções para alguns dos problemas de saúde mais prementes da região.

A chave para o sucesso do investimento: Ser proactivo
Enquanto as tendências globais de consumo são, por definição, um tema mundial, aquilo que é chave para os fundos que investem em estratégias de consumo é tirar partido da arbitragem global - com foco nas tendências subjacentes, mas acedendo a estas através dos mercados com melhores preços. Os fundos que redistribuem o capital de forma activa conseguem encontrar a mais barata exposição a temas importantes.

Uma postura activa pode colher frutos. Por exemplo, pode ser mais prudente ter maior exposição às acções ocidentais quando os mercados emergentes passam por choques e depois tiram partido de oportunidades de compra - através da aquisição de nomes locais ou de acções com exposição ao mercado emergente como a LVMH.

Quando o consumo no mercado emergente se torna demasiado caro para jogadas directas, frequentemente o melhor é obter exposição aos lucros através de acções europeias relativamente mais baratas. De facto, a maioria do capital intelectual e do valor de mercado do mundo reside ainda nas empresas ocidentais e estes nomes serão os que mais beneficiarão com o crescimento do consumo no Extremo Oriente.

Todavia, uma tese central que deverá impulsionar as perspectivas de longo prazo para um fundo com o consumo por tema é uma transferência do consumo do Ocidente para Oriente. Muitas das preocupações de curto prazo e da incerteza no mercado emergente são impulsionadas por receios inflacionários, mas estes são alimentados em certa medida pela inflação dos salários chineses - o que acabará por ser bom para o consumo. Todavia, os receios significam que muitas empresas chinesas negoceiam com descontos de 30% a 50%.

Para tirar total partido das muitas oportunidades oferecidas pelo investimento nas tendências de consumo, é vital que se faça uma gestão ascendente - particularmente nos inerentemente ineficientes mercados emergentes. É importante encontrar um gestor ascendente capaz de escrutinar empresas individuais e descobrir aquelas que verdadeiramente oferecem capacidade para beneficiar com a alteração de tendências económicas, qualquer que seja o sector em que se enquadrem.


*Director de vendas da JPMorgan AM


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