Opinião
Teatro Meridional, uma obra de ficção
O Teatro Meridional existe há 19 anos, sob a direcção do actor e encenador Miguel Seabra e da actriz e dramaturgista Natália Luíza.
O Teatro Meridional existe há 19 anos, sob a direcção do actor e encenador Miguel Seabra e da actriz e dramaturgista Natália Luíza. Fazendo do despojamento cénico e do trabalho de interpretação do actor as linhas mestras para trabalhos únicos de experimentação criativa, esta Companhia portuguesa tem no circuito fidelizado de itinerância, fomentado ao longo de mais de 39 produções apresentadas em 18 países, a sua principal linha de continuidade para o seu desígnio artístico fundatório: o fomento da encenação de textos originais (lançando desafios a dramaturgos), a criação de novas dramaturgias a partir de textos não-convencionais, e a encenação e adaptação de textos maiores da dramaturgia mundial, com a criação de espectáculos onde a palavra não é a principal forma de comunicação cénica.
Desde 1992, ano da sua fundação, os trabalhos do Teatro Meridional já foram distinguidos 22 vezes a nível nacional e seis a nível internacional, dos quais se destaca o recente "Prémio Europa Novas Realidades Teatrais", atribuído em 2010 por um júri constituído por mais de 300 individualidades do Teatro Europeu. Conversei telefonicamente com Miguel Seabra sobre "Especialistas", ou melhor, sobre os caminhos tomados nesta criação de raiz que versa com humor sobre uma verdade evidente: o Poder desconsiderou já o discurso público, e os Especialistas - ténicos desalmados - são, no seu supremo conhecimento de um aspecto específico, serventuários da popularidade dos líderes, ou testas-de-ferro da impopularidade das suas decisões. Colocando esta criação em perspectiva com a história do Meridional, a génese da ideia estava em fazer algo que, no limite, pudesse resultar num espectáculo sem palavras; no final, a dramaturgia de Natália Luiza, criada especificamente para cada actor, acaba por "interferir construtivamente no caminho da encenação", e o resultado é um espectáculo cuja eloquência se divide entre a Palavra e a sua ausência.
"Levante-se cedo, espreguice-se e sorria; tome um bom pequeno-almoço, vá à praia, leia um bom livro; cuide daqueles que ama, ouça a sua música favorita e à noite, venha ao Teatro Meridional. Rua do Açucar, nº 64, Poço do Bispo, Lisboa.", reza a locutora no reclame. Já agora, esta é uma obra de ficção, e qualquer semelhança entre os eventos e/ou personagens retratados e a realidade, é mera coincidência. Ou produto da sua imaginação. Em cena até 7 de Agosto; teatromeridional.net.
Desde 1992, ano da sua fundação, os trabalhos do Teatro Meridional já foram distinguidos 22 vezes a nível nacional e seis a nível internacional, dos quais se destaca o recente "Prémio Europa Novas Realidades Teatrais", atribuído em 2010 por um júri constituído por mais de 300 individualidades do Teatro Europeu. Conversei telefonicamente com Miguel Seabra sobre "Especialistas", ou melhor, sobre os caminhos tomados nesta criação de raiz que versa com humor sobre uma verdade evidente: o Poder desconsiderou já o discurso público, e os Especialistas - ténicos desalmados - são, no seu supremo conhecimento de um aspecto específico, serventuários da popularidade dos líderes, ou testas-de-ferro da impopularidade das suas decisões. Colocando esta criação em perspectiva com a história do Meridional, a génese da ideia estava em fazer algo que, no limite, pudesse resultar num espectáculo sem palavras; no final, a dramaturgia de Natália Luiza, criada especificamente para cada actor, acaba por "interferir construtivamente no caminho da encenação", e o resultado é um espectáculo cuja eloquência se divide entre a Palavra e a sua ausência.