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26 de Fevereiro de 2004 às 11:24

“Somos sempre mais crédulos quando somos mais felizes”

Quando começam a acontecer subidas próximas de 50% numa sessão, como o movimento que beneficiou a Sonae Indústria com base em declarações sobre um “spin off” anunciado há um ano, ...

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Quando começam a acontecer subidas próximas de 50% numa sessão, como o movimento que beneficiou a Sonae Indústria com base em declarações sobre um “spin off” anunciado há um ano, ou as valorizações acumuladas desde o início do ano, é caso para desconfiar.

Já vimos o filme por diversas vezes. Por diversas vezes, o prometido “happy end” acabou mal. E por diversas vezes queimaram os dedos e perderam os anéis os profissionais e os pequenos investidores, os que não têm forma de deduzir as perdas no balanço

Em 2003, a bolsa portuguesa saiu do vermelho. O PSI 20 registou uma valorização próxima de 16%, que acompanhou o aumento da liquidez. Para 2004, os analistas estimaram uma valorização entre 15 e 20%. Ainda nem dois meses se passaram e o índice já se aproxima dos 12%.

Por este andar, antes da Primavera as previsões terão sido batidas. Aguardamos para ver como reagem as casas de investimento. Aconselharão prudência ou, à semelhança do passado, efectuarão revisões em alta, tantas vezes quantas necessárias para continuar a alimentar a alta?

Os analistas, que estiveram no banco dos réus quando a bolha das “dotcom” deu o estouro final, terão aprendido a lição?

Ou, citando Walter Bagehot, que foi o primeiro director do “The Economist”, (por sua vez citado por Kenneth Gallbraith, em “Breve história da euforia financeira”, um tão divertido quanto instrutivo livrinho de 1990), “somos sempre mais crédulos quando somos mais felizes”?

Uma explicação psicológica para um comportamento – o que sustenta o clima especulativo – que deve mais à psicologia de massas do que à racionalidade económica. Apesar dos receios, os analistas parecem mais prudentes.

Esta semana, o economista-chefe da Morgan Stanley de Nova Iorque, Stephen Roach, assumia no “site” da instituição que “a euforia bolsista internacional não tem razão de ser”, uma vez que não reflecte a manutenção e agravamento dos principais desequilíbrios da economia mundial, nomeadamente o crescimento do défice orçamental nas principais economias e os resultados decepcionantes em termos de criação de emprego.

Quando os financeiros são mais cépticos do que as autoridades monetárias (ver o optimismo de Greenspan com o “crescimento robusto” da economia americana) parece que outros tempos chegaram. Se esses tempos chegaram também à bolsa portuguesa ainda falta saber.

A subida das cotações e o regresso dos investidores à bolsa é uma boa notícia. Mas a subida das cotações de forma exuberante das últimas sessões já é uma má notícia, porque faz antever a entrada num ciclo especulativo. Um ciclo que, uma vez iniciado, só acaba, fatalmente, em “crash”.

O problema é que ninguém sabe quando. Convém que a memória funciona para nos evitar maiores dissabores.

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