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Opinião
29 de Maio de 2006 às 13:59

Sobre a decisão e o risco financeiro

A complexidade da decisão empresarial implica níveis de risco hoje mais difíceis de prevenir e financeiramente mais pesados. As razões disto estão, como se sabe, relacionadas com o ritmo do desenvolvimento, com a rapidez da informação, com a globalização

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As mudanças dos referenciais de mercado e dos juízos de valor, não tendem a atenuar-se. A convivência íntima e constante com o risco é, portanto, um dado a integrar nos saberes obrigatórios da gestão empresarial.

 O risco nunca existe em abstracto – acontece como consequência de decisões que são tomadas. É a probabilidade – geralmente com incidência financeira – de não se conseguir atingir um objectivo ou realizar alguma coisa, ou seja, de falhar.

O domínio da problemática do risco ensina-se nos MBA’s de finanças e de gestão, e passa pelo conhecimento de três modelos fundamentais: Teoria Moderna da Carteira (MPT, Markowitz, anos 50), Avaliação de Activos Financeiros (CAPM, Sharpe, anos 60), Avaliação de Opções (Black & Scholes, anos 70). Com variantes diversas introduzidas pelos especialistas de mercado, estas ferramentas financeiras mantêm interesse e utilidade prática.

A abordagem de valor e risco proporcionada por cada um destes modelos, apresenta-se, muito resumidamente, assim:

 Markowitz – Introduz a noção de ‘carteira eficiente’ – aquela que associa uma rendibilidade desejada a um nível de risco determinado (binómio ‘rendibilidade-risco’) – e propõe a máxima diversificação, como forma de minimizar o risco – investir no maior número possível de projectos, não-correlacionados (i.é, com ‘comportamentos’ diferenciados, entre si. Trabalhando com as ‘médias’ de séries longas e elaborando análises da ‘variância (desvio quadrático em relação à média) e dos ‘desvios-padrão’ (dispersão, volatilidade), o modelo passa pela determinação prévia dos ‘coeficientes de correlação’ (analogia ‘comportamental’ dos indicadores que caracterizam os títulos entre si). Os conceitos que fundamentaram o modelo de Markowitz marcaram a visão estratégica empresarial moderna e tornaram-se senso comum - destino fatal do conhecimento científico quando assimilado.

Sharpe – O modelo representa uma evolução do trabalho de Markowitz e exprime-se algebricamente de forma semelhante à equação da recta. Assim, Rc = BT + (Rm-BT) em que os símbolos significam o seguinte: Rc, Rendibilidade Esperada da Carteira; BT, taxa de rendibilidade esperada do Bilhete do Tesouro, sem risco; o factor de risco intrínseco – não diversificável por via da quantidade de títulos em carteira – obtido da média ponderada dos n, factores de risco dos títulos que a integram; e, finalmente, o factor (Rm-BT), designado por Prémio de Risco do Mercado, a diferença entre a rendibilidade do índice do mercado (Rm) e a do bilhete do tesouro (BT). Na determinação dos ‘betas’ entra a noção de ‘covariância’ – a variabilidade do valor esperado de um título, relativamente à variabilidade do conjunto dos que se encontram no mesmo universo de mercado. O CAPM essencialmente estudado para a avaliação de activos financeiros, tem larga aplicação na avaliação de projectos e na decisão estratégica empresarial.

Black & Scholes – Esta formulação veio responder à instabilidade dos mercados, permitindo negociar direitos de escolha e fazer uma gestão dinâmica do risco. ‘Opções’ são produtos financeiros (quase-contratos) que representam a possibilidade de comprar (call) ou vender (put) direitos adquiridos. Os direitos referidos (de comprar ou vender) dizem respeito a um instrumento financeiro determinado e à remuneração que lhe está associada e são possíveis de exercer mediante o pagamento de um ‘prémio’.O valor efectivo da opção corresponde ao valor do prémio pago. Uma opção caracteriza-se por quatro elementos: (1) Instrumento financeiro subjacente; (2) Preço de Exercício (o preço dos direitos que se adquirem); (3) Data-limite de exercício – as opções ‘americanas’ podem ser exercidas durante a vigência do contrato, enquanto as opções ‘europeias’ só permitem o exercício na data de vencimento; (4) Modo de Cotação. A fórmula inicial de Black & Scholes foi baseada na avaliação simples de opções de compra (calls). As opções de venda (puts) aparecem já praticamente no final dos anos 70 e as opções conjuntas (calls e puts) nos anos 80. Em tempo de globalização, as opções conhecem desenvolvimento acentuado.

Contrariamente à conveniência proporcionada pela análise estatística que nos remete para a ‘normalidade’ sinusoidal, a análise fractal (Mandelbrot e Hudson) interessa-se pelo risco financeiro em termos diferentes, rebatendo a ideia feita de que os índices de bolsa crescem sempre, em séries temporais longas, mesmo que de permeio aconteçam grandes tempestades nos mercados. Os tempos agitam-se. Há que reaprender e reinventar teorias e práticas. Fazer diferente e mudar. Tudo o que continuamos a experimentar e (já) não dá resultado.

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