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18 de Março de 2009 às 12:03

Seguidor exemplar... uma marioneta ou um ser com vida própria?

Apesar de as organizações serem maioritariamente constituídas por pessoas que recebem e seguem ordens, pouco se sabe sobre o seguidismo nas organizações.

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Apesar de as organizações serem maioritariamente constituídas por pessoas que recebem e seguem ordens, pouco se sabe sobre o seguidismo nas organizações. Historicamente, na área dos estudos organizacionais, tem-se dado uma grande ênfase à análise da liderança. Os efeitos daqueles que são liderados no sucesso do processo de liderança são normalmente negligenciados.

Todavia seria possível a um líder triunfar se apenas tivesse maus trabalhadores à sua disposição? Será que sozinho conseguiria atingir todos os seus objectivos? Como é facilmente imaginável, um líder não pode ser bem sucedido se tiver apenas maus subordinados à sua disposição. Os seguidores são o complemento natural dos líderes porque, por definição, não pode haver liderança sem alguém para ser liderado. Mas então o que será um seguidor exemplar?

O seguidismo está pouco estudado. Três razões ajudam a explicar este facto: o significado da palavra "seguidor", a romantização da liderança e factores sociais e psicológicos. A palavra "seguidor" tem uma conotação negativa e sugere imagens de passividade, inferioridade e incapacidade para atingir ou fazer algo de significante. Em segundo lugar, o facto de num ambiente organizacional os líderes tenderem a ter maior exposição e proeminência, leva a que haja uma espécie de romantização da liderança, onde as acções dos líderes são como que deificadas. Por último, há ainda a necessidade humana de ordem que leva os indivíduos à busca duma espécie de "figura paternal" que lhes possa trazer confiança e segurança. Além do mais, somos ensinados desde nascença a desejar ser bem sucedidos individualmente.

Um seguidor pode não ser definido apenas pelo seu comportamento, mas também pela sua função. Um seguidor no contexto organizacional é simplesmente aquele que está a ser liderado e que tem menos autoridade, poder e influência que os seus superiores. Ao longo dos tempos, o perfil do seguidor ideal tem mudado. Hubband (autor de "Carta a Garcia") defendia que o pilar da nossa civilização não era a ciência ou o conhecimento, mas sim a capacidade de desempenhar uma tarefa sem fazer perguntas e Taylor referia-se aos seus seguidores como "Trained Gorillas".

Com base num conjunto de entrevistas a vários líderes, de vários sectores e de diferentes níveis hierárquicos, podemos concluir que um seguidor exemplar é definido pela sua performance funcional e pela sua performance contextual.

Em termos de performance funcional, um seguidor exemplar é aquele que tem o conhecimento técnico para desempenhar o seu trabalho e é também aquele que melhor se adequa às características da sua função. Mas, mais importante que a sua performance funcional é a sua performance contextual, ou seja, algo que vai para além da sua função específica, como sejam a sua capacidade para trabalhar bem em equipa e estimular a existência de um bom ambiente de trabalho, de ter uma atitude e dedicação adequadas, de ir para além das expectativas e de contribuir para o desenvolvimento da sua empresa. Um seguidor exemplar é aquele que age proactivamente, partilha conhecimento, tenta evoluir constantemente, mas que acima de tudo tem uma atitude positiva, é auto-motivado, faz sugestões, tem um pensamento crítico e é autónomo (precisa de pouca orientação). A questão da auto-motivação é bastante importante e reflecte a crescente necessidade de não acomodação por parte dos trabalhadores, como forma de combater um mundo em constante mutação. A existência desta característica nos seguidores é também uma garantia para a liderança de que o indivíduo vai ter uma atitude adequada, que lhe permitirá ser mais produtivo com menos apoio. O seguidor ideal nos dias de hoje é portanto alguém em quem o líder pode confiar plenamente.

Este é um novo paradigma de seguidor, que está relacionado com a estrutura actual das organizações, onde há uma pressão cada vez maior na produtividade, que só é possível com o recurso à eficiência de todos. Um seguidor exemplar partilha cada vez mais características com um líder exemplar, o que não é de estranhar pois os líderes não são líderes a toda a hora, e os seguidores de hoje serão alguns dos líderes de amanhã.

Baseado no trabalho de projecto "Exemplary followers", Mestrado em Gestão, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, 2009. Trabalho orientado pelo professor Miguel Pina e Cunha.


Aluno de Mestrado em Gestão
Faculdade de Economia da UNL


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