Opinião
Resposta a "Manifesto anti-dantes"
Caro Pedro Guerreiro, Li o seu editorial do Jornal de Negócios de hoje, e confesso que fiquei perplexo. Habituei-me a ler sempre com interesse as suas reflexões pertinentes e independentes sobre a nossa realidade económica. Confesso que desta vez fiquei muito desiludido.
Caro Pedro Guerreiro,
Li o seu editorial do Jornal de Negócios de hoje, e confesso que fiquei perplexo. Habituei-me a ler sempre com interesse as suas reflexões pertinentes e independentes sobre a nossa realidade económica. Confesso que desta vez fiquei muito desiludido. Faz um ataque ao esforço de um grupo de personalidades que se uniram para apresentar uma reflexão própria sobre uma das maiores fragilidades da nossa economia, e da possibilidade de alguma vez a podermos voltar a erguer.
E reflexão essa corajosa, conhecendo como conhece o risco de retaliação que o actual Poder usa e abusa a quem ousa manifestar e publicitar uma opinião contrária à linha de pensamento único. Pois em vez de ver nisso uma manifestação de coragem democrática, vê "negócios para uns, política para outros e talvez um renovável ressabiamento"
Então existe algum problema em ver numa das actividades mais importantes e críticas para o nosso desenvolvimento "negócios, política e ressabiamento"? Desculpe mas não podia acreditar no que estava a ler da parte de um director de um Jornal de Negócios, antes parecia estar a ler um editorial do "Avante".
Então quando se fala da produção de energia não estamos a falar necessariamente de" negócios", e do sector onde estão as maiores empresas mundiais? Qual é o problema? O problema, digo-lhe eu é quando esse negócio é feito à conta dos pobres consumidores ou dos contribuintes, sem que estes tenham a possibilidade de sequer o perceber e de se pronunciarem com conhecimento sobre esse facto. E de terem de pagá-lo hoje - esse negócio às suas costas - comprometendo a competitividade das suas empresas, da dos seus filhos e dos netos.
"Politica para os outros", mas isso é pecado, é mau? Não é a política o tratamento da coisa pública? Não estamos numa democracia ou temos que nos calar quando não concordamos?
Não percebo sinceramente a sua ideia em querer dessa forma desqualificar uma iniciativa corajosa, que honra quem nela quis participar, apesar das pressões que se verificaram para que alguns saíssem, o que acabou mesmo por acontecer.
Deixe-me também que lhe diga que quem defende o nuclear, como é o meu caso, não desistiu minimamente de o fazer, e estou pronto para o assumir sem qualquer receio ou duvida sobre a inevitabilidade de o virmos a adoptar, mais cedo ou mais tarde. Quanto mais cedo melhor para o País, quanto mais tarde pior. Mas não podemos obrigar outros dos subscritores a alinhar nesta certeza.
Não quiseram incluir a proposta explicita, como foi a minha proposta, ao nuclear como solução. Têm as mesmas dúvidas que décadas de desinformação radicaram profundamente na maior parte dos espíritos portugueses e eu tive que respeitar essa opção.
Mas quando quiser e sempre que o quiser, estarei disposto em ajudar a dar mais informação sobre essa matéria, que conheço bem e que se conhece tão pouco em Portugal, e que representa apenas, a forma mais importante em volume da geração eléctrica na Europa.
Mas vamos ao seu texto e, permita-me que lhe diga, a alguns erros que comete seguramente com boa intenção, mas com lacunas de conhecimento desta área mais técnica.
1. Uma central nuclear seria importação pura, da concepção à construção e um grande projecto que aumentaria o endividamento. Uma central nuclear é essencialmente betão e tubagens, metalo-mecânica. Ora isso é onde nós portugueses somos fortes e a nossa indústria anda à procura desesperadamente de projectos. E também existe uma enorme diferença entre este tipo de projecto e as grandes infra-estruturas sem retorno económico e financeiro que permitam servir a dívida criada para os financiar.
Uma central nuclear pode fazê-lo porque vai permitir criar um produto de que carecemos, a um custo muito mais reduzido do que qualquer outra alternativa hoje. Por isso é negócio e bom investimento, criando riqueza para o país. As energias que necessitam de subsídios não o são, destroem riqueza e o endividamento criado não tem retorno que sirva a esse levantamento de capital. E também não existem só franceses neste campeonato, existem americanos, japoneses, russos, canadianos, alemães e coreanos, e muito em breve, chineses e indianos.
A este propósito, digo-lhe que aos narcotizados pela força da propaganda governamental, escapou-lhes o que se está de facto a passar no mundo da energia hoje: o regresso em força do nuclear. A Suécia, um dos Países que aprovou uma moratória para desmantelar as suas centrais depois de Chernobyl, acabou com a moratória e vai retomar a construção de novas centrais.
Assim como a Itália, e em breve a Alemanha e possivelmente a Bélgica, para alem de todos os países de leste, que concorrem directamente connosco no nosso nível tecnológico. Mas também a Polónia, que não tinha nuclear e aprovou um novo programa, a Holanda, o Reino Unido, a própria Ucrânia, onde se deu Chernobyl. A lista é interminável e só me refiro à Europa.
Fora da Europa, deixe-me lembrar o que se passou com dois países com a nossa dimensão: Os Emiratos Árabes Unidos, um dos principais produtores de petróleo do mundo, e de gás natural, com mais insolação e vento que Portugal, abriu um concurso para a construção de quatro reactores nucleares, a pensar no seu futuro.
Esse concurso foi ganho pela KEPCO, empresa coreana, com surpresa dos observadores, que tinham como certo que esse mercado seria ganho pela AREVA, que nele tinha investido pesadamente. Cada reactor custará 3,5 mil M€ com uma potência de 1 400 MW cada, o primeiro estará pronto em 2017, mas o mais importante é que o MWh produzido custará 23€, produzindo cada reactor 11 TWh anuais durante o seu período de vida útil de 60 anos .
A Coreia do Sul, país com a nossa dimensão geográfica e o quíntuplo da população, tem 20 reactores nucleares em funcionamento, 8 em construção - dentro dos prazos e dos custos estimados - e mais 8 planeadas. O seu enorme sucesso industrial baseia-se na disponibilidade de energia barata, num País sem recursos naturais próprios. Talvez um modelo para o qual devêssemos olhar.
Ora 4 mil M€ foi quanto nos custou a actual potência instalada em eólica, de 3 500 MW, que produzirão 8,4 TWh anuais, com o MWh produzido a cerca de 70€ (pago até hoje a 90) e durante os 15 a 20 anos de período de vida útil daqueles equipamentos.
E agora para poder gerir a sua intermitência, pelo elevado valor da potência em relação à à energia produzida, sem que isso represente termos que importar muito mais energia ou exportar a valor nulo, temos que construir barragens que não produzem energia e que custam 5 mil M€, o que vai dobrar o custo actual do MWh produzido pelas eólicas. Veja 9 mil milhões de euros para gerar 8,4 TWh por 20 anos no máximo a um custo unitário de uns 140€/MWh, contra 7 mil milhões de euros para gerar 22 TWh anuais por 60 anos a um custo unitário de 23€/MWh.
O valor da pool do mercado ibérico foi o ano passado cerca de 35 €/MWh e desde o princípio deste ano está a em média a 27,8 €/MWh. Como dizemos no manifesto, a eólica está a ser paga a 91 €/MWh, o fotovoltaico a 344€/MWh e a única novidade do actual Governo - porque tudo o resto já vinha dos Governos anteriores - a micro-geração a 575€/MWh. Não acha isto uma aberração económica? Tem que achar concerteza, e persistir neste erro é correr para o precipício.
2. Depois diz que o meu amigo de há 20 anos - e parceiro de ténis - Jorge Vasconcelos teria arrasado o manifesto. Mas arrasado como? Falando em mim sem me nomear em quê? E no Francisco van Zeller, que teria defendido as empresas do saque que esta política irracional está a criar à sua competitividade. Mas não era isso a sua obrigação? A decisão de passar o sobrecusto para as pobres das famílias foi do Governo, não foi seguramente dele, que não tinha poderes para isso.
Existe aqui um outro erro importante: a energia eólica e a fotovoltaica não substituem o petróleo, produzem electricidade e o petróleo só é usado no sector dos transportes. Pensar que o carro eléctrico, usando electricidade produzida pelas renováveis aos custos que lhe mostrei, poderá vir a resolver o problema, é totalmente irrealista, e não vai acontecer, embora o Governo se prepare para derreter mais um elefante branco nessa aventura.
É só preciso que façam contas e o papel dos jornais seria muito útil se em vez de seguirem acriticamente a propaganda oficial, fizessem a mesma análise que os subscritores do manifesto se deram ao trabalho de fazer. Estou totalmente pronto a explicar-lhe detalhadamente tudo o que aqui lhe digo.
3. Há um outro erro: algumas das renováveis nunca foram competitivas, nem mesmo com o petróleo a 147 us$/bbl, e a eólica, que o foi nessa altura, deixará de o ser com o processo mirabolante das hídricas a bombar energia eólica. Porque a grande dificuldade dessas energias - eólica e fotovoltaica - é que contrariamente à biomassa ou à geotermia, são intermitentes, e é aí que reside o seu grande inconveniente quando se ultrapassa os 15 % de penetração de eólica numa rede como a nossa.
O artigo do Jorge Vasconcelos, saído antes da publicação do manifesto atira totalmente ao lado das verdadeiras questões e não é um bom exercício técnico. Mas teve uma grande vantagem: Diz que o debate é necessário e convida os subscritores a apresentarem os estudos para as suas certezas peremptórias. Aceitámos o repto, e apresentámos os estudos referentes à experiência da Dinamarca, da Alemanha e da Espanha sobre este apoio às renováveis intermitentes, em que nos inspirámos. Esses estudos, como poderá ver, alertam os eventuais seguidores para a pesada factura que se avizinha em custos e em empregos.
Eles estão aqui:
l A Experiência Alemã
http://en.rwi-essen.de/media/content/pages/publikationen/ruhr-economic-papers/REP_09_156.pdf
l A Experiência Dinamarquesa
http://www.cepos.dk/fileadmin/user_upload/Arkiv/PDF/Wind_energy_-_the_case_of_Denmark.pdf
l A Experiência Espanhola
http://www.juandemariana.org/pdf/090327-employment-public-aid-renewable.pdf
Convido-o a lê-los ou a mandar lê-los fazendo um debate sobre matéria de facto e não sobre processos de intenção. São produzidos por entidades credíveis dos respectivos Países. Pela minha parte estou totalmente disponível para defender o nuclear em Portugal em qualquer foro, como fiz no Governo do qual fui Secretário de Estado da Ciência e Inovação, e a discutir qualquer questão ligada à energia da qual fui Director na Comissão Europeia.
O estado do País obriga a discutirmos todas as razões que nos fizeram chegar ao que chegámos, sem nos determos por receio de qualquer constrangimento.
Creia-me admirador da maior parte dos seus editoriais, mas não seguramente este, que será a excepção a confirmar a regra. Com os cordiais cumprimentos do
Esta carta foi enviada em resposta ao editorial deste jornal intitulado "O Manifesto anti-dantes", assinado por Pedro Santos Guerreiro no dia 8 de Abril (ainda disponível online em www.negocios.pt). Embora a carta exceda largamente a dimensão do editorial que contesta, a direcção do Negócios decidiu publicá-la na íntegra, pelo seu contributo para um assunto que merece a maior reflexão: a política energética.
Li o seu editorial do Jornal de Negócios de hoje, e confesso que fiquei perplexo. Habituei-me a ler sempre com interesse as suas reflexões pertinentes e independentes sobre a nossa realidade económica. Confesso que desta vez fiquei muito desiludido. Faz um ataque ao esforço de um grupo de personalidades que se uniram para apresentar uma reflexão própria sobre uma das maiores fragilidades da nossa economia, e da possibilidade de alguma vez a podermos voltar a erguer.
Então existe algum problema em ver numa das actividades mais importantes e críticas para o nosso desenvolvimento "negócios, política e ressabiamento"? Desculpe mas não podia acreditar no que estava a ler da parte de um director de um Jornal de Negócios, antes parecia estar a ler um editorial do "Avante".
Então quando se fala da produção de energia não estamos a falar necessariamente de" negócios", e do sector onde estão as maiores empresas mundiais? Qual é o problema? O problema, digo-lhe eu é quando esse negócio é feito à conta dos pobres consumidores ou dos contribuintes, sem que estes tenham a possibilidade de sequer o perceber e de se pronunciarem com conhecimento sobre esse facto. E de terem de pagá-lo hoje - esse negócio às suas costas - comprometendo a competitividade das suas empresas, da dos seus filhos e dos netos.
"Politica para os outros", mas isso é pecado, é mau? Não é a política o tratamento da coisa pública? Não estamos numa democracia ou temos que nos calar quando não concordamos?
Não percebo sinceramente a sua ideia em querer dessa forma desqualificar uma iniciativa corajosa, que honra quem nela quis participar, apesar das pressões que se verificaram para que alguns saíssem, o que acabou mesmo por acontecer.
Deixe-me também que lhe diga que quem defende o nuclear, como é o meu caso, não desistiu minimamente de o fazer, e estou pronto para o assumir sem qualquer receio ou duvida sobre a inevitabilidade de o virmos a adoptar, mais cedo ou mais tarde. Quanto mais cedo melhor para o País, quanto mais tarde pior. Mas não podemos obrigar outros dos subscritores a alinhar nesta certeza.
Não quiseram incluir a proposta explicita, como foi a minha proposta, ao nuclear como solução. Têm as mesmas dúvidas que décadas de desinformação radicaram profundamente na maior parte dos espíritos portugueses e eu tive que respeitar essa opção.
Mas quando quiser e sempre que o quiser, estarei disposto em ajudar a dar mais informação sobre essa matéria, que conheço bem e que se conhece tão pouco em Portugal, e que representa apenas, a forma mais importante em volume da geração eléctrica na Europa.
Mas vamos ao seu texto e, permita-me que lhe diga, a alguns erros que comete seguramente com boa intenção, mas com lacunas de conhecimento desta área mais técnica.
1. Uma central nuclear seria importação pura, da concepção à construção e um grande projecto que aumentaria o endividamento. Uma central nuclear é essencialmente betão e tubagens, metalo-mecânica. Ora isso é onde nós portugueses somos fortes e a nossa indústria anda à procura desesperadamente de projectos. E também existe uma enorme diferença entre este tipo de projecto e as grandes infra-estruturas sem retorno económico e financeiro que permitam servir a dívida criada para os financiar.
Uma central nuclear pode fazê-lo porque vai permitir criar um produto de que carecemos, a um custo muito mais reduzido do que qualquer outra alternativa hoje. Por isso é negócio e bom investimento, criando riqueza para o país. As energias que necessitam de subsídios não o são, destroem riqueza e o endividamento criado não tem retorno que sirva a esse levantamento de capital. E também não existem só franceses neste campeonato, existem americanos, japoneses, russos, canadianos, alemães e coreanos, e muito em breve, chineses e indianos.
A este propósito, digo-lhe que aos narcotizados pela força da propaganda governamental, escapou-lhes o que se está de facto a passar no mundo da energia hoje: o regresso em força do nuclear. A Suécia, um dos Países que aprovou uma moratória para desmantelar as suas centrais depois de Chernobyl, acabou com a moratória e vai retomar a construção de novas centrais.
Assim como a Itália, e em breve a Alemanha e possivelmente a Bélgica, para alem de todos os países de leste, que concorrem directamente connosco no nosso nível tecnológico. Mas também a Polónia, que não tinha nuclear e aprovou um novo programa, a Holanda, o Reino Unido, a própria Ucrânia, onde se deu Chernobyl. A lista é interminável e só me refiro à Europa.
Fora da Europa, deixe-me lembrar o que se passou com dois países com a nossa dimensão: Os Emiratos Árabes Unidos, um dos principais produtores de petróleo do mundo, e de gás natural, com mais insolação e vento que Portugal, abriu um concurso para a construção de quatro reactores nucleares, a pensar no seu futuro.
Esse concurso foi ganho pela KEPCO, empresa coreana, com surpresa dos observadores, que tinham como certo que esse mercado seria ganho pela AREVA, que nele tinha investido pesadamente. Cada reactor custará 3,5 mil M€ com uma potência de 1 400 MW cada, o primeiro estará pronto em 2017, mas o mais importante é que o MWh produzido custará 23€, produzindo cada reactor 11 TWh anuais durante o seu período de vida útil de 60 anos .
A Coreia do Sul, país com a nossa dimensão geográfica e o quíntuplo da população, tem 20 reactores nucleares em funcionamento, 8 em construção - dentro dos prazos e dos custos estimados - e mais 8 planeadas. O seu enorme sucesso industrial baseia-se na disponibilidade de energia barata, num País sem recursos naturais próprios. Talvez um modelo para o qual devêssemos olhar.
Ora 4 mil M€ foi quanto nos custou a actual potência instalada em eólica, de 3 500 MW, que produzirão 8,4 TWh anuais, com o MWh produzido a cerca de 70€ (pago até hoje a 90) e durante os 15 a 20 anos de período de vida útil daqueles equipamentos.
E agora para poder gerir a sua intermitência, pelo elevado valor da potência em relação à à energia produzida, sem que isso represente termos que importar muito mais energia ou exportar a valor nulo, temos que construir barragens que não produzem energia e que custam 5 mil M€, o que vai dobrar o custo actual do MWh produzido pelas eólicas. Veja 9 mil milhões de euros para gerar 8,4 TWh por 20 anos no máximo a um custo unitário de uns 140€/MWh, contra 7 mil milhões de euros para gerar 22 TWh anuais por 60 anos a um custo unitário de 23€/MWh.
O valor da pool do mercado ibérico foi o ano passado cerca de 35 €/MWh e desde o princípio deste ano está a em média a 27,8 €/MWh. Como dizemos no manifesto, a eólica está a ser paga a 91 €/MWh, o fotovoltaico a 344€/MWh e a única novidade do actual Governo - porque tudo o resto já vinha dos Governos anteriores - a micro-geração a 575€/MWh. Não acha isto uma aberração económica? Tem que achar concerteza, e persistir neste erro é correr para o precipício.
2. Depois diz que o meu amigo de há 20 anos - e parceiro de ténis - Jorge Vasconcelos teria arrasado o manifesto. Mas arrasado como? Falando em mim sem me nomear em quê? E no Francisco van Zeller, que teria defendido as empresas do saque que esta política irracional está a criar à sua competitividade. Mas não era isso a sua obrigação? A decisão de passar o sobrecusto para as pobres das famílias foi do Governo, não foi seguramente dele, que não tinha poderes para isso.
Existe aqui um outro erro importante: a energia eólica e a fotovoltaica não substituem o petróleo, produzem electricidade e o petróleo só é usado no sector dos transportes. Pensar que o carro eléctrico, usando electricidade produzida pelas renováveis aos custos que lhe mostrei, poderá vir a resolver o problema, é totalmente irrealista, e não vai acontecer, embora o Governo se prepare para derreter mais um elefante branco nessa aventura.
É só preciso que façam contas e o papel dos jornais seria muito útil se em vez de seguirem acriticamente a propaganda oficial, fizessem a mesma análise que os subscritores do manifesto se deram ao trabalho de fazer. Estou totalmente pronto a explicar-lhe detalhadamente tudo o que aqui lhe digo.
3. Há um outro erro: algumas das renováveis nunca foram competitivas, nem mesmo com o petróleo a 147 us$/bbl, e a eólica, que o foi nessa altura, deixará de o ser com o processo mirabolante das hídricas a bombar energia eólica. Porque a grande dificuldade dessas energias - eólica e fotovoltaica - é que contrariamente à biomassa ou à geotermia, são intermitentes, e é aí que reside o seu grande inconveniente quando se ultrapassa os 15 % de penetração de eólica numa rede como a nossa.
O artigo do Jorge Vasconcelos, saído antes da publicação do manifesto atira totalmente ao lado das verdadeiras questões e não é um bom exercício técnico. Mas teve uma grande vantagem: Diz que o debate é necessário e convida os subscritores a apresentarem os estudos para as suas certezas peremptórias. Aceitámos o repto, e apresentámos os estudos referentes à experiência da Dinamarca, da Alemanha e da Espanha sobre este apoio às renováveis intermitentes, em que nos inspirámos. Esses estudos, como poderá ver, alertam os eventuais seguidores para a pesada factura que se avizinha em custos e em empregos.
Eles estão aqui:
l A Experiência Alemã
http://en.rwi-essen.de/media/content/pages/publikationen/ruhr-economic-papers/REP_09_156.pdf
l A Experiência Dinamarquesa
http://www.cepos.dk/fileadmin/user_upload/Arkiv/PDF/Wind_energy_-_the_case_of_Denmark.pdf
l A Experiência Espanhola
http://www.juandemariana.org/pdf/090327-employment-public-aid-renewable.pdf
Convido-o a lê-los ou a mandar lê-los fazendo um debate sobre matéria de facto e não sobre processos de intenção. São produzidos por entidades credíveis dos respectivos Países. Pela minha parte estou totalmente disponível para defender o nuclear em Portugal em qualquer foro, como fiz no Governo do qual fui Secretário de Estado da Ciência e Inovação, e a discutir qualquer questão ligada à energia da qual fui Director na Comissão Europeia.
O estado do País obriga a discutirmos todas as razões que nos fizeram chegar ao que chegámos, sem nos determos por receio de qualquer constrangimento.
Creia-me admirador da maior parte dos seus editoriais, mas não seguramente este, que será a excepção a confirmar a regra. Com os cordiais cumprimentos do
Pedro Sampaio Nunes
Esta carta foi enviada em resposta ao editorial deste jornal intitulado "O Manifesto anti-dantes", assinado por Pedro Santos Guerreiro no dia 8 de Abril (ainda disponível online em www.negocios.pt). Embora a carta exceda largamente a dimensão do editorial que contesta, a direcção do Negócios decidiu publicá-la na íntegra, pelo seu contributo para um assunto que merece a maior reflexão: a política energética.
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Resposta a "Manifesto anti-dantes"
14.04.2010