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Posso?

Posso não falar de Bolsa hoje? Posso deixar as análises para outro dia? Posso esquecer, por um artigo, a Brisa, a EDP, o Nasdaq e o ouro negro?

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Posso dizer-vos que me cansam os e-mails em que apenas me perguntam qual a acção que está boa para comprar? Posso admitir que me custa sempre dizer que não respondo a esse género de questões? Posso partilhar o quão difícil continua a ser ler os e-mails desesperados de quem comprou acções a crédito, está a perder muito dinheiro e não sabe o que há de fazer perante aflitivas situações financeiras?

Posso desiludir todos aqueles que acham que o dia-a-dia de um "trader" é assim algo cheio de "glamour" como parece nos filmes e no imaginário de tantas pessoas? Posso afirmar que estes ecrãs todos cheios de gráficos, números e luzinhas a piscar, mais do que as discotecas dos anos 80, parecem árvores de Natal fora de época e saturantes? Posso exprimir alguma frustração por, durante o dia de trabalho, me fazer falta as pessoas, o mundo real? Posso desabafar que não me imagino mais 20 anos a fazer isto?

Posso exprimir a minha satisfação pelo que faço pois, todos os dias, há um novo desafio pela frente? Posso manifestar o meu contentamento por poder gerir o meu tempo? Posso ficar aliviado por não ter que aturar a má disposição de colegas ou chefes? Posso ficar com o ego em alta por todos os dias receber e-mails de quem gosta de me ler e reler?

Posso já nem me surpreender quando vejo pessoas olharem para a análise técnica como quem olha para feitiçaria ou magia negra? Posso rir-me quando imagino que, na cabeça dessas pessoas, sou uma espécie de Maya ou Prof. Bambo? Posso ficar também triste quando os defensores da análise técnica olham para a análise fundamental como algo meramente teórico e ultrapassado? Posso acreditar que cada investidor deve escolher o estilo de negociação, o horizonte temporal e o género de análise que melhor se adequa ao seu perfil?

Posso pôr "Somewhere over the rainbow" a tocar no computador? Posso parar dois minutos e ler um texto do Miguel Esteves Cardoso e ter saudades de quando escrevia no Independente? Posso admitir o meu fascínio por pontos finais? Por frases curtas. Que não deixam respirar. Nem pensar. Só sentir. Por metáforas. Por quem trata bem as palavras, quem é cúmplice delas, quem lhes dá vida própria e nos tira os pés do chão com elas. Posso? Posso maldizer este novo acordo ortográfico que me tira do sério e faz com que eu deixe de perceber quem escreve sem erros ou com erros? Posso continuar a fugir de o usar, como quem foge da Cuca do Sítio do Picapau Amarelo?

Posso ter pena de não ser Verão o ano inteiro? Posso citar Camus e dizer que "no meio de um Inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um Verão invencível"? Posso ter saudades do futuro, como diziam os Trovante? Posso carregar no "repeat" na banda sonora de "O Piano", de Michael Nyman? Posso pedir desculpa por este artigo não ser como esperavam?
Posso?

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Analista Dif Brokers
ulisses.pereira@difbroker.com
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