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Portugal existe, além do IDE

O IDE que aí vem não permanecerá em Portugal para a eternidade e os muitos mil milhões de euros de investimentos anunciados não têm por finalidade resolver os problemas estruturais existentes em matéria de educação, justiça social, saúde e produtividade.

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O IDE (investimento directo estrangeiro) com que o Governo tendo vindo a inundar a opinião pública só será relevante se o país o tomar como um estímulo e não como um fim em si.

O IDE que aí vem não permanecerá em Portugal para a eternidade e os muitos mil milhões de euros de investimentos anunciados não têm por finalidade resolver os problemas estruturais existentes em matéria de educação, justiça social, saúde e produtividade.

Para os mais cépticos em relação a este alerta, basta lembrar que das mais de três dezenas de multinacionais de calçado que há duas décadas se instalaram em Portugal, só nove resistem. Ou recordar os sobressaltos porque tem passado as indústrias dos semi-condutores e do automóvel.

Os governos conseguem controlar os incentivos que oferecem às empresas, mas de forma alguma podem influenciar as tendências da economia mundial, obstaculizar à concorrência de outros países, ou as flutuações dos mercados.

Isto é, o IDE deve ser entendido como um estímulo para ajudar o país a criar bases económicas saudáveis, tornando-o capaz de absorver os impactos negativos gerados pelas naturais decisões de desinvestimento. Como qualquer instrumento de trabalho, só garante produtividade se for bem manejado.

O Governo tem um mérito inquestionável na captação deste tipo de investimento para Portugal. Agora, para ser sério e consequente, deve avisar os portugueses que nenhum IDE, por si, protagonizará o milagre de transformar a recessão em desenvolvimento económico.

O IDE não convive bem com o laxismo nem com o comodismo, e menos ainda com a incompetência. Gestores, empresários e trabalhadores devem estar atentos a esta realidade.

Neste quadro o Governo tem uma outra função decisiva. Sem medo dos «tribunais» da opinião pública, deve atribuir a estes agentes económicos a sua quota de responsabilidade pelo eventual sucesso ou fracasso desses projectos, sublinhando que não é da sua esfera de competência definir as dinâmicas empresariais.

Nas circunstâncias em que o país vive, o Governo não se pode dar ao luxo de estar a competir pelo título de «miss» simpatia. Mostrando essa atitude, o Executivo – este ou qualquer outro –, tem o direito de exigir idêntico comportamento dos cidadãos, alertando tantas vezes quantas as necessárias que não existem IDE grátis.

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