Opinião
Pinóquio e o PEC
Cada vez que dizia mentiras Pinóquio via o nariz crescer. Este PEC diz verdades: o seu nariz é pequeno e não cresce. E Portugal arrisca-se mesmo a ficar sem narinas para inalar bem-estar. São verdades duras e que não chegam ao som de fanfarras. É claro que...
Cada vez que dizia mentiras Pinóquio via o nariz crescer. Este PEC diz verdades: o seu nariz é pequeno e não cresce. E Portugal arrisca-se mesmo a ficar sem narinas para inalar bem-estar. São verdades duras e que não chegam ao som de fanfarras. É claro que, mesmo assim, permitiu a Sócrates fugir aos trilhos da verdade e afiançar que não vai haver aumento de impostos. Só ele acredita nisso. Na política ninguém gosta de dizer a palavra "cortar". Mas, desta vez, o Governo ficou sem língua. O futuro é claro: a realidade económica determinará o que ele pode fazer. A política dos bolsos rotos acabou por agora. A política já não domina a economia: é esta que tem a política como canga. É o mercado de obrigações que está a levar o Governo a olhar para as coisas a sério. Pode mentir-se ao eleitorado. Não se consegue mentir ao mercado obrigacionista. Esta é a realidade em que temos de viver. E a que a classe política terá de se habituar. Este PEC não é primo de Pinóquio. Parece evidente que, com este PEC entre mãos, será indiferente quem ganhe as próximas eleições. Ou não será? As vítimas deste PEC serão as do costume: as que, desde há 200 anos, pagam as sucessivas crises. Portugal, como escreveu um dia Augusto Abelaira, está "sem tecto, entre ruínas". Nenhum político conseguirá enganar este PEC. Mas há uma folga orçamental neste cinto apertado até os portugueses ficarem sem oxigénio. Alguém deve vir mostrar que há vida para lá do PEC. E há futuro. É aí que entra o primado da política. E de quem quiser governar Portugal nos próximos anos.
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