Opinião
04 de Março de 2009 às 11:28
Palavras que o vento não leva
Gerir a bolsa com palavras é a última das armas. Barack Obama acabou de a usar durante a visita de Gordon Brown aos Estados Unidos. Mais importante ainda, os investidores gostaram. A bolsa reagiu a subir, para depois cair de novo. Mais um sinal do grande peso do medo, da desconfiança, nesta fase da crise.
Gerir a bolsa com palavras é a última das armas. Barack Obama acabou de a usar durante a visita de Gordon Brown aos Estados Unidos. Mais importante ainda, os investidores gostaram. A bolsa reagiu a subir, para depois cair de novo. Mais um sinal do grande peso do medo, da desconfiança, nesta fase da crise.
Há vários episódios de líderes que caíram na tentação de gerir a bolsa com palavras. Em Portugal, a mais marcante é a do actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Na euforia bolsista que antecedeu o "crash" de 1987, Cavaco Silva alertou os portugueses, dizendo que poderiam estar a comprar "gato por lebre". Não se pode dizer que tenha provocado a queda bolsista porque o mercado português foi arrastado pelo pânico da "segunda-feira negra" de 19 de Outubro.
Na euforia da segunda metade dos anos 90, a frase global é de Alan Greenspan, quando disse que o mercado vivia em "exuberância irracional". E assim continuou a viver. Ninguém o ouviu e ele também não parece ter querido ir muito mais longe do que isso na moderação do entusiasmo.
Na pior crise do pós-guerra assistimos à intervenção bolsista em discurso por parte de um líder político. Numa frase cautelosa, Barack Obama recomendou a compra de acções a quem tivesse uma perspectiva de longo prazo. E conseguiu, ainda que sem grande fôlego, que a bolsa americana subisse.
Se o primeiro-ministro português, ou até Gordon Brown, ou ainda George W. Bush, tivesse dito exactamente o mesmo, as reacções seriam violentamente negativas. Com Barack Obama, a reacção foi diferente. Alguns investidores parece que o levaram a sério e decidiram comprar acções.
As palavras não suportam o valor das empresas, mas, nesta crise, podem ter o dom de alimentar a moribunda confiança nas relações económicas.
Quando nos abstraímos dos escândalos financeiros que diariamente acontecem e olhamos para os números, para os clássicos rácios de avaliação das empresas, só podemos concluir que se vive num "excesso de depressão", na outra fronteira da "exuberância", em "pânico irracional". Há hoje falências que são mais filhas da irracionalidade do medo que da crise financeira ou bancária.
Os protagonistas do sistema económico estão, neste momento, a alimentar uma espiral de desequilíbrios crescentes que tem de ser rompida. Injectar dinheiro na economia, na sua forma pura, através dos bancos centrais, ou por via de investimentos públicos e redução de impostos, não possui a energia necessária para interromper o círculo vicioso em que se entrou.
As palavras ditas por quem as pessoas acreditam são, nesta fase da crise, a mais poderosa e eficaz ferramenta de política económica -, se conjugada com as medidas que todos os países estão a adoptar.
Se Barack Obama for capaz de transformar perspectivas pessimistas em optimistas, dará um importante contributo para se iniciar, finalmente, o fim desta crise que já dura dois anos. Os indicadores de opinião sobre as bolsas indicam que há vontade de entrar na bolsa a comprar.
Todos parecem apenas querer voltar a confiar nos bancos, na bolsa, nas empresas... para se regressar, mesmo que menos ricos ou mais pobres, à normalidade dos negócios.
Há vários episódios de líderes que caíram na tentação de gerir a bolsa com palavras. Em Portugal, a mais marcante é a do actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Na euforia bolsista que antecedeu o "crash" de 1987, Cavaco Silva alertou os portugueses, dizendo que poderiam estar a comprar "gato por lebre". Não se pode dizer que tenha provocado a queda bolsista porque o mercado português foi arrastado pelo pânico da "segunda-feira negra" de 19 de Outubro.
Na pior crise do pós-guerra assistimos à intervenção bolsista em discurso por parte de um líder político. Numa frase cautelosa, Barack Obama recomendou a compra de acções a quem tivesse uma perspectiva de longo prazo. E conseguiu, ainda que sem grande fôlego, que a bolsa americana subisse.
Se o primeiro-ministro português, ou até Gordon Brown, ou ainda George W. Bush, tivesse dito exactamente o mesmo, as reacções seriam violentamente negativas. Com Barack Obama, a reacção foi diferente. Alguns investidores parece que o levaram a sério e decidiram comprar acções.
As palavras não suportam o valor das empresas, mas, nesta crise, podem ter o dom de alimentar a moribunda confiança nas relações económicas.
Quando nos abstraímos dos escândalos financeiros que diariamente acontecem e olhamos para os números, para os clássicos rácios de avaliação das empresas, só podemos concluir que se vive num "excesso de depressão", na outra fronteira da "exuberância", em "pânico irracional". Há hoje falências que são mais filhas da irracionalidade do medo que da crise financeira ou bancária.
Os protagonistas do sistema económico estão, neste momento, a alimentar uma espiral de desequilíbrios crescentes que tem de ser rompida. Injectar dinheiro na economia, na sua forma pura, através dos bancos centrais, ou por via de investimentos públicos e redução de impostos, não possui a energia necessária para interromper o círculo vicioso em que se entrou.
As palavras ditas por quem as pessoas acreditam são, nesta fase da crise, a mais poderosa e eficaz ferramenta de política económica -, se conjugada com as medidas que todos os países estão a adoptar.
Se Barack Obama for capaz de transformar perspectivas pessimistas em optimistas, dará um importante contributo para se iniciar, finalmente, o fim desta crise que já dura dois anos. Os indicadores de opinião sobre as bolsas indicam que há vontade de entrar na bolsa a comprar.
Todos parecem apenas querer voltar a confiar nos bancos, na bolsa, nas empresas... para se regressar, mesmo que menos ricos ou mais pobres, à normalidade dos negócios.
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