Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
14 de Julho de 2009 às 12:01

Oportunidades em África, benefícios no mundo inteiro

A recessão económica global traduziu-se, em África, numa crise de desenvolvimento que está a revelar a vulnerabilidade do continente, não só à contracção económica mas também às alterações climáticas. A alteração dos padrões climáticos já...

  • ...
A recessão económica global traduziu-se, em África, numa crise de desenvolvimento que está a revelar a vulnerabilidade do continente, não só à contracção económica mas também às alterações climáticas. A alteração dos padrões climáticos já está a afectar as vidas de milhões de africanos, ao reduzir a segurança alimentar, ao facilitar a disseminação de doenças como a malária e ao impulsionar a migração em massa. O sustento e as vidas de milhões de pessoas estão em risco.

Paradoxalmente, esta crise representa também uma oportunidade única para África. A urgência de esforços para combater as alterações climáticas está a revelar perspectivas interessantes no que diz respeito à migração, particularmente nas zonas de crescimento das energias renováveis e de menor emissão de dióxido de carbono. Existe uma possibilidade real de direccionar estes países para a via de um novo modelo de desenvolvimento que não só beneficiará África como também o resto do mundo.

Entretanto, a adaptação às mudanças climáticas é uma questão de extrema importância. Para África, isto significa um desenvolvimento "à prova de clima", que é possível através de um maior rendimento das culturas agrícolas, investimento em infra-estruturas e safras resistentes às alterações climáticas, promoção do aproveitamento da água da chuva ("rainwater harvesting" - recolha e armazenamento de águas pluviais durante as estações chuvosas para a sua utilização nas estações secas) e expansão das medidas de controlo médico por antecipação a um aumento de doenças propagadas por vectores (como a malária). África precisa de recursos adicionais, além dos compromissos de assistência já existentes, para se adaptar às alterações climáticas.

O financiamento da adaptação ao clima será um enorme desafio, especialmente porque implica custos adicionais que vão além da tradicional ajuda ao desenvolvimento - numa altura em que os orçamentos para a ajuda externa estão sob pressão. As estimativas dos montantes necessários para ajudar os países em desenvolvimento a adaptarem-se a estes desafios variam entre 50 e 100 mil milhões de dólares por ano. É por essa razão que é tão bem vinda a proposta do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, no sentido de se criar um fundo para as alterações climáticas.

Se não agirmos agora, os custos futuros serão muito mais elevados - tanto em termos financeiros como humanitários. Todos temos a perder com uma inversão do progresso económico e social realizado em todo o continente africano na última década. Os mercados florescentes poderão desaparecer e as oportunidades de investimento poderão evaporar-se, ao mesmo tempo que o risco de instabilidade política aumentará.

Cada ponto percentual de redução no crescimento tem consequências sociais directas, seja ao nível da nutrição, da mortalidade infantil ou da frequência escolar. Por cada pessoa que for devolvida a uma situação de pobreza, mais longe iremos ficando de concretizar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

Por todas estas razões, o contínuo empenho e apoio de todos os parceiros de África, incluindo os países do G-8, é vital. Conforme salienta o Relatório DATA do grupo de defesa de África ONE, muitos doadores estão a honrar os seus compromissos em matéria de ajuda, apesar da contracção da economia a nível mundial.

Estes países reconhecem o valor prático de investir no desenvolvimento em África, bem como o imperativo moral e político de honrarem as suas promessas. Eles sabem que o continente africano está a suportar o impacto das crises económica e climática, apesar de ser o menos responsável pelo seu aparecimento. Lamentavelmente, não é isto que se passa com todos os países do G-8. Itália, que foi este ano a anfitriã da reunião do G-8, ficou atrás dos seus pares numa altura em que era suposto ser a primeira a dar o exemplo.

Precisamos de soluções que evitem uma catástrofe ambiental e que sejam justas para toda a humanidade. Isso exigirá uma liderança política arrojada e uma solidariedade sem precedentes entre os países ricos e pobres. Os parceiros internacionais de África não podem desviar os olhos neste momento crucial.


Kofi Annan, ex-secretário geral das Nações Unidas, preside ao Painel para o Progresso de África.

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio