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08 de Fevereiro de 2010 às 11:43

O último túnel

O sr. Winston Churchill, apesar de frequentar o Reid"s na Madeira, nunca se debruçou sobre o universo do futebol português. Mas isso não um impediu de, um dia, escrever: "São estranhos estes italianos. Perdem a guerra como se fosse uma partida de futebol e...

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O sr. Winston Churchill, apesar de frequentar o Reid's na Madeira, nunca se debruçou sobre o universo do futebol português. Mas isso não um impediu de, um dia, escrever: "São estranhos estes italianos. Perdem a guerra como se fosse uma partida de futebol e jogam as partidas como se fosse uma guerra". Não imaginamos o que escreveria sobre o futebol indígena da actualidade, onde já se deixou de discutir a qualidade das jogadas ou dos golos, e todos estão novamente entretidos com túneis, agressões e suspensões. A discussão sobre o nosso campeonato é uma versão pacóvia de "Star Wars": quem é o Darth Vader do futebol nacional? A questão é tão nebulosa como um túnel. Teríamos de fazer um excelso exercício de memória para seguirmos o rasto do célebre "sistema", desde os gloriosos tempos do Canal Caveira até ao túnel da Luz. Desde há anos que se olha para o principal campeonato português como a "grande conspiração". A única coisa que muda é o nome dos conspiradores e daqueles que são vítimas às suas mãos.

O futebol nacional tornou-se um "reality-show" e ninguém o avisou disso. As belas paisagens de muitos estádios desertos de espectadores servem, aliás, de resto, para que o espectáculo prometa ser líder de audiências até ao último jogo da temporada. O problema nesta gritaria é que poucos têm a possibilidade de dizer que são Robin dos Bosques. A distribuição de favores por parte dos árbitros tem sido razoavelmente equilibrada entre os três grandes e mesmo o Sporting de Braga não tem muitas razões para se queixar. Foram os túneis escuros que acabaram por alucinar os principais clubes. Há claramente um apagão não anunciado que electrocutou o bom senso futebolístico e torrou a chamada indústria do futebol indígena. Como é que pode haver uma indústria do futebol neste país à beira-mar especado, se o que se discute não é a qualidade das equipas, mas a quantidade de favores que cada uma recebe?

Os vencedores de ontem podem ser os vencidos de hoje nos bastidores do poder futebolístico, mas tudo pode voltar a mudar. O que aparentemente não muda é o nível dos nossos dirigentes e a incapacidade para que este futebol seja valioso pela qualidade dos seus jogadores, das jogadas e dos golos. No futebol, os fortes sempre impuseram a sua força e a sua verdade. Isso não mudará. Contra eles, como dizia o outro, só se ganha na PlayStation. Mas reconduzir o futebol a um longo túnel, onde se cometem todas as irregularidades, e de onde sai um vencedor cheio de pecados é tudo o que de melhor se pode fazer para tornar o futebol português ainda mais provinciano.

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