Opinião
O sr. Bebé e o sr. Queiroz
A saída do sr. Bebé para o Manchester United sem passar pela principal liga de futebol nacional mereceria alguma reflexão.
O que é que faz um dos maiores clubes nacionais vir a Portugal despender nove milhões de euros por um jogador que não aqueceu nem arrefeceu o Benfica, o Sporting e o FC Porto? Não terão sido apenas as dicas do sr. Carlos Queiroz ao sr. Ferguson e as características de facilitador do sr. Jorge Mendes que fizeram os avaros donos do United fazerem uma aposta digna de Las Vegas. Não. O sr. Bebé é um jogador como já há pouco na Europa desenvolvida: formou-se na rua. Aquilo que os clubes europeus já só encontram em África, no Brasil e na América Latina foi possível descobrir em Portugal. Mesmo os clubes portugueses já desprezam, incompreensivelmente, estes jogadores. Preferem os jogadores das escolinhas, formatados por treinadores que lhes ensinam de forma iguais os segredos do futebol. O sr. Bebé aprendeu os seus truques contra miúdos que tinham de lutar pela sobrevivência, na vida como no futebol. E é por isso que tem soluções técnicas que os jogadores das escolinhas não têm. O sr. Bebé faz parte do mundo mitológico do Manchester United onde entram jogadores como o sr. Wayne Rooney, o sr. Eric Cantona e mesmo o sr. Cristiano Ronaldo: a infância dura fez deles sobreviventes. E esses são, geralmente, os grandes craques, quando guiados como sabedoria. Como o Manchester United tem conseguido fazer.
Enquanto estas jóias saem para outros campeonatos, sem que os portugueses os possam ver no seu principal campeonato, o futebol indígena preocupa-se antes com assuntos de treta. O "julgamento" do sr. Queiroz já ultrapassou os limites da farsa: está a ridicularizar completamente o que restava de dignidade ao futebol nacional. Tudo se resume a uma questão: a FPF queria despedir o sr. Queiroz mas não lhe queria pagar a colossal indemnização acordada quando o contratou. E para isso arranjou uma desculpa para ver se se livra dele sem gastar um cêntimo. A FPF deveria ter tido coragem. E dizer ao sr. Queiroz que, não tendo sido cumpridos os mínimos exigíveis na África do Sul (e não foram), ia passar-lhe o cheque e ele que fosse à sua vida. A FPF não teve coragem e à boa maneira portuguesa procurou uma desculpa. O resultado é desastroso. Os pesos-pesados do futebol português colocaram-se atrás do sr. Queiroz e a FPF já começou a vacilar. O resultado é previsível: o sr. Queiroz vai continuar na FPF. Mas sairá de tudo isto fragilizado e sem poder real. Será sempre um seleccionador a prazo. Porque os portugueses já não acreditam no seu futebol de escolinhas.
Enquanto estas jóias saem para outros campeonatos, sem que os portugueses os possam ver no seu principal campeonato, o futebol indígena preocupa-se antes com assuntos de treta. O "julgamento" do sr. Queiroz já ultrapassou os limites da farsa: está a ridicularizar completamente o que restava de dignidade ao futebol nacional. Tudo se resume a uma questão: a FPF queria despedir o sr. Queiroz mas não lhe queria pagar a colossal indemnização acordada quando o contratou. E para isso arranjou uma desculpa para ver se se livra dele sem gastar um cêntimo. A FPF deveria ter tido coragem. E dizer ao sr. Queiroz que, não tendo sido cumpridos os mínimos exigíveis na África do Sul (e não foram), ia passar-lhe o cheque e ele que fosse à sua vida. A FPF não teve coragem e à boa maneira portuguesa procurou uma desculpa. O resultado é desastroso. Os pesos-pesados do futebol português colocaram-se atrás do sr. Queiroz e a FPF já começou a vacilar. O resultado é previsível: o sr. Queiroz vai continuar na FPF. Mas sairá de tudo isto fragilizado e sem poder real. Será sempre um seleccionador a prazo. Porque os portugueses já não acreditam no seu futebol de escolinhas.
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