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Pedro Santos Guerreiro psg@negocios.pt 30 de Abril de 2010 às 11:38

O render da Grécia

"Isto não é o fim. Isto não é sequer o princípio do fim. Mas é, talvez, o fim do princípio." As palavras de Churchill após a Batalha do Egipto, em 1942, aplicam-se. Ontem, a trituradora sobre a Grécia (e Portugal e Espanha e o euro) sossegou. É a viragem?

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"Isto não é o fim. Isto não é sequer o princípio do fim. Mas é, talvez, o fim do princípio." As palavras de Churchill após a Batalha do Egipto, em 1942, aplicam-se. Ontem, a trituradora sobre a Grécia (e Portugal e Espanha e o euro) sossegou. É a viragem? "Talvez." Mas mesmo que o seja, resolveu-se o urgente, falta o importante.

O acordo não está fechado mas os mercados assumiram a certeza. Está para sair o maior plano de salvação a um país de que há memória. A Alemanha chegou-se à frente, um pouco enfastiada, e mandou traçar os cheques. Nos próximos dois anos, a Grécia praticamente não recorrerá aos mercados para se financiar. Os países europeus e o FMI, todos sob as ordens da Alemanha, financiam.

O efeito de contágio a Portugal foi imediato, agora pela positiva. E ao fim de duas semanas na frigideira, os custos das obrigações recuaram, as bolsas subiram e os "short sellers" fecharam as posições, embolsando lucros à custa de prejuízos. Não houve razões assim tão positivas ontem, nem tão negativas nas vésperas, para o carrossel havido, o que recomenda, portanto, prudência aos que já vêem o fim da crise. Mas fizeram-se fortunas nestes dias. Incluindo os "traders", que lucraram com tantas transacções e com a volatilidade.

Portugal sai do radar? "Talvez." Tal como no "subprime", a segurança dada a um país da Zona Euro é estendida a todos os outros. Na verdade, como escrevia ontem o economista João Pinto e Castro, esta crise de 2010 dos Estados e a outra de 2008 dos bancos são a mesma. E, também agora, o risco sistémico prevaleceu sobre o risco moral. E o descalabro doloroso (e doloso) da Grécia foi resgatado.

Mas com um custo: a Grécia, na prática, entregou a sua soberania. Vai sofrer a violência de cortar dez pontos percentuais ao défice em dois anos. Terá um segundo aumento do IVA. Os funcionários públicos baixam salários e não receberão dois dos 14 salários anuais durante três anos. Há agravamentos fiscais sobre o tabaco e os combustíveis. Sobe a idade de reforma. Limita-se a contratação de funcionários do Estado (uma entrada por cinco saídas). Congelam-se investimentos. Há liberalização de profissões, mais concorrência.

É este o custo do resgate. E também em Portugal, mesmo que os mercados da dívida (e os de acções) tenham acabado com a excitação, só respiramos de alívio para de seguida respirar bem fundo. A seguir ao susto financeiro, de curto prazo, conjuntural, de liquidez; enfrentamos definitivamente o problema económico, de longo prazo, estrutural, de solvência.

Estas duas semanas vulcanológicas serviram para exumar os corpos que tínhamos enterrado vivos. Temos de reduzir os défices, o orçamental e o externo. De aumentar a poupança, reduzir o endividamento, adequar o que gastamos ao que produzimos, preparar o crescimento competitivo. Nada disso mudou. Só que agora deixou de ser opção, é obrigação.

No espaço de dias, PS e PSD deram as mãos. O subsídio de desemprego vai ser menor. As pensões mínimas podem deixar de ser universais. Há suspensão de investimentos. Há aumentos de impostos. Há controlo de despesas sociais. Há a certeza, na banca, de que a concessão de crédito vai cortar-se como unhas no sabugo.

As sirenes que ouvimos nestas duas semanas não foram de alarme, foram um toque de despertar. Bem disse Churchill, no mesmo discurso: "Não tenho nada a oferecer-vos senão sangue, trabalho, suor e lágrimas..." Comecemos pelo trabalho.



psg@negocios.pt






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