Opinião
O manifesto necessário
A opinião pública portuguesa tem sido verdadeiramente intoxicada pela propaganda governamental e pelo poderoso lóbi eólico, cujo poder económico deriva de estarem sentados num monopólio governamental que lhes permite vender à rede a electricidade...
1. A opinião pública portuguesa tem sido verdadeiramente intoxicada pela propaganda governamental e pelo poderoso lóbi eólico, cujo poder económico deriva de estarem sentados num monopólio governamental que lhes permite vender à rede a electricidade a preços políticos caríssimos, pagando sempre o pobre consumidor essa energia, quer precise dela quer não precise.
Têm passado a ideia de que a actual política (?) energética era um grande sucesso e que dávamos lições ao mundo nesta matéria.
Nada de mais errado e por isso eu e um conjunto de colegas Professores do IST começámos a preparar um texto que foi depois alargado a outros subscritores.
Trata-se dum exercício de cidadania de pessoas conscientes, responsáveis, com grande competência técnica e económica, que estão verdadeiramente preocupadas com a irracionalidade económica, a incompetência técnica, e o irrealismo da actual política (?) energética e das suas consequências gravíssimas para a competitividade da nossa economia. Não é tarefa fácil pois devido ao medo de retaliações, tivemos pessoas que acabaram por desistir de subscrever o Manifesto… E já sofremos insultos e ataques pessoais.
2. Não somos contra as renováveis, mas contra os excessos em matéria de eólica e fotovoltaica.
Nós consideramos até que a biomassa e os biocombustíveis são o parente pobre da política (?) energética actual. No fundo, o Governo deixou-se capturar pelo poderoso lóbi eólico.
3. Ao contrário de que o pensamento único nos tem tentado impor, importa desmistificar o pretenso sucesso dessa política (?). Um mix energético significa uma mistura equilibrada de várias fontes de energia. Há clara evidência, técnica e económica, de excesso de eólica e fotovoltaica no nosso sistema.
4. O Manifesto não tratava da energia nuclear. Limitava-se a pedir que fosse feito um exercício de Planeamento Energético a Médio-Longo Prazo, normal em qualquer país civilizado, no qual se considerassem todas as formas de energia.
Mas o Governo, o poderoso lóbi eólico e alguns jornalistas vieram logo usar o papão do nuclear para tentarem condicionar a discussão sobre os excessos eólico e fotovoltaico. É a mesma técnica do Dr. Salazar, quando usava o papão do comunismo para evitar que se discutissem os problemas. Assim vai a jovem democracia portuguesa…
Alguns jornalistas vieram mesmo dizer que o Manifesto dizia coisas que não estavam lá…
5. A energia eólica é intermitente e volátil, e por isso a potência instalada apenas é aproveitada 25% do tempo para produzir energia. Essa volatilidade faz que durante a noite muitas vezes há vento e energia produzida em excesso em relação às necessidades de consumo e por isso vai-se acumular essa energia em centrais de bombagem. Ou vendemo-la a Espanha a preço zero, tendo nós, os consumidores, pago a mesma a um preço elevadíssimo, ou como aconteceu no Alqueva em Dezembro passado o excesso de produção alimentou bombagens na central do Alqueva para depois esta ter de abrir as comportas e deixar vazar sem préstimo essa água, e com ela a energia armazenada (e bem paga) por nós!
Durante o dia, muitas vezes não há vento quando precisamos de energia e por isso lá têm que entrar em apoio à falta de vento as centrais térmicas de custos fixos elevados, como as de gás natural. Mas como elas têm de estar pré-aquecidas prontas para entrar em rede quando necessário, estão nestes casos a queimar combustível para manter esse pré-aquecimento mas sem produzir energia. Moral da história, aos custos das eólicas há que acrescentar os custos de investimento nas centrais de bombagem e nas centrais térmicas e ainda os custos dos combustíveis importados. As eólicas só por si não resolvem o problema energético e não evitam a importação dos combustíveis!
Concordei que se tivesse introduzido uma componente eólica de geração por razões de diversificação do mix energético, mas passar na nossa rede de 3.500 MW para 8.500 MW da eólica é um manifesto exagero que só tornará a electricidade cada vez mais cara. Isso vai aliás agravar o risco de apagões na rede devido à volatilidade do vento e consequentes entradas e saídas rápidas de rede das eólicas.
Quanto à fotovoltaica, com a tecnologia existente e os custos actuais, só quem não sabe o que fazer ao dinheiro é que avançará para os 1.500 MW! Passar de 75 MW para 1.500 MW é uma loucura. A tecnologia não está ainda madura. Nestes casos, o mais elementar bom senso diria que se apoiasse a investigação e desenvolvimento tecnológico. O que se fez na Amareleja com células fotovoltaicas chinesas e pelos vistos se quer expandir loucamente, é massificar a ineficiência energética da actual tecnologia fotovoltaica, ineficiência a ser paga por nós, consumidores, em vez de se desenvolverem projectos-piloto em pequena escala até se atingir a maturidade tecnológica. O próprio Relatório da AIE, citado por Manuel Pinho, chama aliás a atenção que não temos desenvolvimento tecnológico nestas áreas e que existe total descoordenação entre os Ministérios da Economia e da Ciência e Tecnologia.
Tudo isto consubstancia um desvario e uma irracionalidade económica que todos já estamos a pagar, e que já é bem visível com o famoso défice tarifário, que terá um efeito bola de neve.
6. Não obstante os enormes subsídios entretanto concedidos aos investidores nas "novas energias renováveis", o total conjunto da rubrica "Eólica, Geotérmica e Fotovoltaica" em 2008 representou apenas 2,11% do consumo total de energia primária em Portugal, tendo-se mantido a dependência energética em redor de 83% ao longo dos últimos dez anos. Isto mostra bem a falência da actual política. Simples e claro, como diria o Dr. Manuel Pinho…
7. É evidente que tudo isto que eu acabei de dizer, escrito por quem, além de ter formação económica, foi muitos anos engenheiro de redes eléctricas na EDP e ensinou Produção e Transporte de Electricidade no IST é duma evidente "desonestidade intelectual", como diria um jornalista do JN sem formação técnica nestas matérias…
Professor do IST
Têm passado a ideia de que a actual política (?) energética era um grande sucesso e que dávamos lições ao mundo nesta matéria.
Trata-se dum exercício de cidadania de pessoas conscientes, responsáveis, com grande competência técnica e económica, que estão verdadeiramente preocupadas com a irracionalidade económica, a incompetência técnica, e o irrealismo da actual política (?) energética e das suas consequências gravíssimas para a competitividade da nossa economia. Não é tarefa fácil pois devido ao medo de retaliações, tivemos pessoas que acabaram por desistir de subscrever o Manifesto… E já sofremos insultos e ataques pessoais.
2. Não somos contra as renováveis, mas contra os excessos em matéria de eólica e fotovoltaica.
Nós consideramos até que a biomassa e os biocombustíveis são o parente pobre da política (?) energética actual. No fundo, o Governo deixou-se capturar pelo poderoso lóbi eólico.
3. Ao contrário de que o pensamento único nos tem tentado impor, importa desmistificar o pretenso sucesso dessa política (?). Um mix energético significa uma mistura equilibrada de várias fontes de energia. Há clara evidência, técnica e económica, de excesso de eólica e fotovoltaica no nosso sistema.
4. O Manifesto não tratava da energia nuclear. Limitava-se a pedir que fosse feito um exercício de Planeamento Energético a Médio-Longo Prazo, normal em qualquer país civilizado, no qual se considerassem todas as formas de energia.
Mas o Governo, o poderoso lóbi eólico e alguns jornalistas vieram logo usar o papão do nuclear para tentarem condicionar a discussão sobre os excessos eólico e fotovoltaico. É a mesma técnica do Dr. Salazar, quando usava o papão do comunismo para evitar que se discutissem os problemas. Assim vai a jovem democracia portuguesa…
Alguns jornalistas vieram mesmo dizer que o Manifesto dizia coisas que não estavam lá…
5. A energia eólica é intermitente e volátil, e por isso a potência instalada apenas é aproveitada 25% do tempo para produzir energia. Essa volatilidade faz que durante a noite muitas vezes há vento e energia produzida em excesso em relação às necessidades de consumo e por isso vai-se acumular essa energia em centrais de bombagem. Ou vendemo-la a Espanha a preço zero, tendo nós, os consumidores, pago a mesma a um preço elevadíssimo, ou como aconteceu no Alqueva em Dezembro passado o excesso de produção alimentou bombagens na central do Alqueva para depois esta ter de abrir as comportas e deixar vazar sem préstimo essa água, e com ela a energia armazenada (e bem paga) por nós!
Durante o dia, muitas vezes não há vento quando precisamos de energia e por isso lá têm que entrar em apoio à falta de vento as centrais térmicas de custos fixos elevados, como as de gás natural. Mas como elas têm de estar pré-aquecidas prontas para entrar em rede quando necessário, estão nestes casos a queimar combustível para manter esse pré-aquecimento mas sem produzir energia. Moral da história, aos custos das eólicas há que acrescentar os custos de investimento nas centrais de bombagem e nas centrais térmicas e ainda os custos dos combustíveis importados. As eólicas só por si não resolvem o problema energético e não evitam a importação dos combustíveis!
Concordei que se tivesse introduzido uma componente eólica de geração por razões de diversificação do mix energético, mas passar na nossa rede de 3.500 MW para 8.500 MW da eólica é um manifesto exagero que só tornará a electricidade cada vez mais cara. Isso vai aliás agravar o risco de apagões na rede devido à volatilidade do vento e consequentes entradas e saídas rápidas de rede das eólicas.
Quanto à fotovoltaica, com a tecnologia existente e os custos actuais, só quem não sabe o que fazer ao dinheiro é que avançará para os 1.500 MW! Passar de 75 MW para 1.500 MW é uma loucura. A tecnologia não está ainda madura. Nestes casos, o mais elementar bom senso diria que se apoiasse a investigação e desenvolvimento tecnológico. O que se fez na Amareleja com células fotovoltaicas chinesas e pelos vistos se quer expandir loucamente, é massificar a ineficiência energética da actual tecnologia fotovoltaica, ineficiência a ser paga por nós, consumidores, em vez de se desenvolverem projectos-piloto em pequena escala até se atingir a maturidade tecnológica. O próprio Relatório da AIE, citado por Manuel Pinho, chama aliás a atenção que não temos desenvolvimento tecnológico nestas áreas e que existe total descoordenação entre os Ministérios da Economia e da Ciência e Tecnologia.
Tudo isto consubstancia um desvario e uma irracionalidade económica que todos já estamos a pagar, e que já é bem visível com o famoso défice tarifário, que terá um efeito bola de neve.
6. Não obstante os enormes subsídios entretanto concedidos aos investidores nas "novas energias renováveis", o total conjunto da rubrica "Eólica, Geotérmica e Fotovoltaica" em 2008 representou apenas 2,11% do consumo total de energia primária em Portugal, tendo-se mantido a dependência energética em redor de 83% ao longo dos últimos dez anos. Isto mostra bem a falência da actual política. Simples e claro, como diria o Dr. Manuel Pinho…
7. É evidente que tudo isto que eu acabei de dizer, escrito por quem, além de ter formação económica, foi muitos anos engenheiro de redes eléctricas na EDP e ensinou Produção e Transporte de Electricidade no IST é duma evidente "desonestidade intelectual", como diria um jornalista do JN sem formação técnica nestas matérias…
Professor do IST
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