Opinião
O liberalismo não ganha eleições!
O estudo de opinião realizado pelo Projecto Farol indicia claramente o afastamento de larga maioria dos portugueses das ideias mais liberais.
Quem quiser ganhar eleições, à esquerda ou à direita, dificilmente pode afirmar uma agenda liberal. Migrámos do Estado Novo salazarista para as nacionalizações, seguindo-se uma reconstrução necessária do capital português, por via de privatizações, mas com um modelo concorrencial tíbio, sem capitalismo empreendedor. Edificámos um Estado social ímpar, mas encharcado de recursos externos baratos. Crescemos com incentivos públicos portugueses e comunitários sem escrutínio de mercado. Adormecemos, no entanto, como sociedade geradora de riqueza no mundo competitivo global.
A refundação democrática, depois de sucessivas intervenções do FMI em democracia, é também um debate de uma agenda liberal, à esquerda e à direita, e de um novo contrato social. Sobre uma ideia para Portugal referi, num anterior artigo, que "a única ideologia clássica, ao mesmo tempo, de direita e esquerda é o liberalismo , dependendo dos contextos (ver Bobbio, "Direita e Esquerda", Editorial Presença, Lisboa, 1994, pp. 66). Podemos caminhar entre a afirmação de um liberalismo de esquerda de Blair e de Clinton, e um liberalismo de direita de Smith. As práticas políticas aproximaram a esquerda e a direita, deixando para trás velhas soluções".
Todavia, os actuais partidos do arco do poder estão entalados entre a sociedade que ajudaram a florescer à sombra do Estado e dos recursos colectivos, e a sociedade futura necessária, que o mapa da globalização nos empurra, onde prevalecerá maior autonomia, responsabilidade e risco individual, mas também colectivo.
À esquerda, a opinião pública escolheu o neoliberalismo, especuladores e capitalismo selvagem como arma de arremesso; à direita foram seleccionados a engorda do Estado social, activismo político, regulação deficiente e estatizante como originadores deste "tsunami" financeiro mundial. A verdade apenas se pode procurar na liberdade de pensamento e de acção. Não podemos partir para a resolução desta crise tolhidos por crenças e conceitos ideológicos passadistas. Sabemos que temos que viver com crenças antigas, como nos ensina Damásio, até que surjam novas. Em que geração?
Acresce à situação particular portuguesa, a pobreza das lideranças europeias que não encontraram um projecto de solidariedade que reforce a União Europeia, permitindo assim uma deriva nacionalista e egoísta das suas opiniões públicas. A Europa das velhas democracias não entendeu, ou não lhe agrada, reconhecer os erros das jovens democracias e das particularidades dos seus capitalismos. Alguém disse que os credores têm melhor memória que os devedores.
A troika vai-nos obrigar a sermos mais liberais. Contudo, a melhoria dos resultados a curto e médio prazo serão escassos, em face da volumosa restrição financeira e avidez, ainda que legítima, dos credores em protegerem a todo o custo o seu património. Não sendo encargo das políticas liberais que aí vêem, a estas erradamente se assacará, e à troika, a responsabilidade do País não crescer nos próximos anos.
Os ventos anunciam aos partidos PS, PSD e CDS para se afastarem desta discussão, porque assim exige a aprisionada sociedade portuguesa; poucas alternativas nos restam que não sejam aplicar mais receitas liberais. Politicamente é preciso escondê-las. O liberalismo do séc. XXI, em que os Estados desenvolvidos em média já redistribuem mais de 40% dos recursos colectivos, é distinto de outros históricos. Hoje está inundado de sensibilidade social. À esquerda e direita, o pensamento e acção das elites são centralistas. A sociedade civil não se liberta. Se não houver viragem liberal, principalmente na economia, mobilizadora para a sociedade, dificilmente seremos sócios no clube europeu. Não vai ser a troika que torna estes princípios básicos um "acquis" da sociedade portuguesa. Sem um comprometido "contrato social" mais liberal, a crise de crescimento manter-se-á. Ainda não vai ser desta que o liberalismo ganha eleições.
Gestor
A refundação democrática, depois de sucessivas intervenções do FMI em democracia, é também um debate de uma agenda liberal, à esquerda e à direita, e de um novo contrato social. Sobre uma ideia para Portugal referi, num anterior artigo, que "a única ideologia clássica, ao mesmo tempo, de direita e esquerda é o liberalismo , dependendo dos contextos (ver Bobbio, "Direita e Esquerda", Editorial Presença, Lisboa, 1994, pp. 66). Podemos caminhar entre a afirmação de um liberalismo de esquerda de Blair e de Clinton, e um liberalismo de direita de Smith. As práticas políticas aproximaram a esquerda e a direita, deixando para trás velhas soluções".
À esquerda, a opinião pública escolheu o neoliberalismo, especuladores e capitalismo selvagem como arma de arremesso; à direita foram seleccionados a engorda do Estado social, activismo político, regulação deficiente e estatizante como originadores deste "tsunami" financeiro mundial. A verdade apenas se pode procurar na liberdade de pensamento e de acção. Não podemos partir para a resolução desta crise tolhidos por crenças e conceitos ideológicos passadistas. Sabemos que temos que viver com crenças antigas, como nos ensina Damásio, até que surjam novas. Em que geração?
Acresce à situação particular portuguesa, a pobreza das lideranças europeias que não encontraram um projecto de solidariedade que reforce a União Europeia, permitindo assim uma deriva nacionalista e egoísta das suas opiniões públicas. A Europa das velhas democracias não entendeu, ou não lhe agrada, reconhecer os erros das jovens democracias e das particularidades dos seus capitalismos. Alguém disse que os credores têm melhor memória que os devedores.
A troika vai-nos obrigar a sermos mais liberais. Contudo, a melhoria dos resultados a curto e médio prazo serão escassos, em face da volumosa restrição financeira e avidez, ainda que legítima, dos credores em protegerem a todo o custo o seu património. Não sendo encargo das políticas liberais que aí vêem, a estas erradamente se assacará, e à troika, a responsabilidade do País não crescer nos próximos anos.
Os ventos anunciam aos partidos PS, PSD e CDS para se afastarem desta discussão, porque assim exige a aprisionada sociedade portuguesa; poucas alternativas nos restam que não sejam aplicar mais receitas liberais. Politicamente é preciso escondê-las. O liberalismo do séc. XXI, em que os Estados desenvolvidos em média já redistribuem mais de 40% dos recursos colectivos, é distinto de outros históricos. Hoje está inundado de sensibilidade social. À esquerda e direita, o pensamento e acção das elites são centralistas. A sociedade civil não se liberta. Se não houver viragem liberal, principalmente na economia, mobilizadora para a sociedade, dificilmente seremos sócios no clube europeu. Não vai ser a troika que torna estes princípios básicos um "acquis" da sociedade portuguesa. Sem um comprometido "contrato social" mais liberal, a crise de crescimento manter-se-á. Ainda não vai ser desta que o liberalismo ganha eleições.
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