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O cemitério de mentiras

Na política é tentador pensar que uma mentira é apenas uma mentira e como todos mentem ninguém tem insónias por dizer mais uma.

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Mas isso seria fazer um enorme favor à classe política portuguesa: o que se passou nos últimos dias é um cemitério de mentiras. Na política, já Maquiavel o deixava antever, é necessário ser um mentiroso ousado ou mesmo o melhor mentiroso para se garantir o poder. É isso que garante a glória dos políticos na actualidade: saber, melhor do que os outros, as regras da criatividade política. Vence-se quando se é sincero para si próprio e para os que escutam e se consegue alongar a mentira até todos a esquecerem ou ficarem indiferentes a ela. As duas últimas semanas foram um jogo de enganos encenados nos bastidores da política: desde o encontro entre Sócrates e Passos Coelho que não tinha existido e depois já existira, à crise sempre negada por Sócrates desde há demasiado tempo, às ainda por explicar intrigas palacianas que levaram a que Sócrates tivesse de pedir o auxílio externo. Em que é que se pode acreditar? O privilégio da mentira não é pertença de uma única pessoa. A diferença, na política portuguesa, é conseguir-se ser-se sincero nas mentiras ou surgir-se como hipócrita quando se é apanhado em falso. É certo que, num regime tutelado pelo FMI, os políticos falam e ninguém está a escutá-los. O problema de muitos dos dirigentes políticos portugueses é não acreditarem no que dizem. Os melhores hipócritas são políticos com fé no que dizem. Só quando se é sincero e consistente nas mentiras é que se triunfa. E é nisso que alguns ainda não são mestres.
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