Opinião
Nos bastidores da vida
Sapatos italianos numa loja da Baixa; mangas do Chile e papaias do Brasil no hipermercado; carne da Argentina no talho da esquina; uma garrafa de Beaujolais ou um delicioso Rochefort; o jornal diário todos os dias, à mesma hora, no quiosque habitual; ...
Sapatos italianos numa loja da Baixa; mangas do Chile e papaias do Brasil no hipermercado; carne da Argentina no talho da esquina; uma garrafa de Beaujolais ou um delicioso Rochefort; o jornal diário todos os dias, à mesma hora, no quiosque habitual; aquele medicamento urgente, que não havia em "stock" na farmácia, mas que afinal chegou impreterivelmente às 16.00 horas, tal como o farmacêutico garantira; exemplos do dia-a-dia, distintos entre si mas unidos por uma rede invisível e, em regra, imperceptível para a nossa cultura de curto prazo.
A promoção fantástica "Pague 1, leve 2" do novo detergente para a roupa; o telemóvel de última geração feito na Coreia do Sul, "assemblado" na China, "customizado" em Portugal e comprado em Lisboa; o novo carro, fabricado na República Checa, com peças oriundas de diferentes partes do mundo e que antes do destino final já viajou de comboio, camião e até atravessou o oceano; os exemplos podem suceder-se em catadupa, dos pequenos grandes prazeres aos hábitos tão normais e quotidianos como comprar um dentífrico, um pacote de leite, um cosmético ou o brinquedo para a nossa criança. Gestos que todos fazemos, em que não pensamos e que têm sempre um elo comum: Logística. Só isso.
Sejam quais forem as questões da sua imaginação, de forma mais dissimulada ou de uma maneira mais óbvia, a logística vai lá estar. Sempre. Ou então falta e isso vai notar-se. Porquê?
Porque estamos a falar do "Planeamento, operação e controlo do fluxo de materiais, mercadorias, serviços e informações da empresa, que integram e racionalizam as funções sistémicas desde a produção até à entrega, acrescentando valor, assegurando vantagens competitivas na cadeia de abastecimento e a consequente satisfação dos clientes".
Nada disto é novo. A história da logística começa sempre da mesma maneira: "Era uma vez um cliente que tinha uma necessidade?". Sem isso não há movimento de matérias-primas, não há produção, a entrega nem chega a existir e não há história para contar.
Mas essa também não é uma história nova, pois as pessoas pensam e fazem logística – literalmente – há séculos!
Veja-se o caso dos Fenícios. Tinham uma cultura centrada no comércio marítimo, criaram entrepostos comerciais ao longo de todo o Mediterrâneo e chegaram às costas atlânticas da Península Ibérica e norte de África. Sabiam que um produto barato num lugar podia ser vendido mais caro noutro sítio onde além de necessário era escasso! Conheciam empiricamente o valor acrescentado do factor "tempo" e do factor "espaço"/"lugar". Não era isto logística?
E hoje, onde fica? Essa é a pergunta que abre a porta para a verdadeira compreensão do viver.
Uma percepção que é de cada um e que se repete diariamente quando vamos comprar o jornal, quando tomamos café, quando compramos um livro, o jogo electrónico ou vamos ao supermercado.
– É a vida!, diria.
E a história é interminável. Se o final for feliz, é porque a logística estava lá.