Opinião
Não pagamos! Não pagamos!
Veja-se a gritaria existente por causa das dívidas do Totonegócio, essa forma milagrosa de os clubes irem pagando as dívidas ao fisco de forma faseada. Nem assim foram pagas, como se o futebol profissional continuasse a ser um mundo à parte em Portugal
Nos relvados, nenhum adepto fica indiferente aos dribladores. Quem não se lembra das fintas do sr. Chalana ou do sr. Futre? São esses momentos de arte com uma bola que fazem, tal como o golo, a essência do futebol. Hoje, tão importantes como as fintas dos jogadores, são as de empresários, dirigentes e clubes. Tudo era mais fácil no tempo em que o futebol era um desporto popular e onde adeptos e jogadores iam de comboio para o campo e não havia muito dinheiro à volta. Mas esses tempos ingénuos não voltam e hoje os jogadores são celebridades pagas a peso de ouro, dirigentes e empresários vivem sobretudo a pensar na percentagem das comissões e os clubes têm de encontrar incessantemente minas de ouro para pagar todos os seus custos. O futebol tornou-se uma alquimia.
Isso também transformou o sistema. Os clubes em Portugal tentaram passar de mercearias de bairro a empresas (e assim louvou-se a indústria do futebol como se ela fosse um milagre económico), algumas delas cotadas em bolsa. Contrataram-se gestores, prometeu-se juízo financeiro e tento nos gastos. O futebol era um negócio. Mas na essência nada mudou. Basta olhar para as contas dos principais clubes: são arrepiantes. De alguns dos pequenos já nem é bom falar: só não são liquidados porque o futebol é uma coisa que transcende as leis humanas. Nenhum aumento de receitas é capaz de alimentar a gula de quem está à frente dos clubes. Mas agora que o crédito fácil acabou, julgou-se que alguém começasse a ter juízo.
Veja-se a gritaria existente por causa das dívidas do Totonegócio, essa forma milagrosa de os clubes irem pagando as dívidas ao fisco de forma faseada. Nem assim foram pagas, como se o futebol profissional continuasse a ser um mundo à parte em Portugal. E, de alguma maneira, é. Se o Governo nomeia "boys", no futebol gravitam à volta dos clubes militantes partidários de todas as linhas ideológicas porque o desporto garante visibilidade. Olhe-se para as eleições para a Liga, a FPF e os clubes, e os dirigentes políticos surgem do nada, à espera de uma fatia de bolo de chocolate. Agora que o fisco decidiu avançar com execuções contra a Liga e a FPF, todos fazem o mesmo de sempre: em vez de pagarem os impostos, vão pedinchar ao Governo mais uma trégua. Em Portugal são massacrados com impostos todos os que trabalham. Os clubes de futebol (e aqueles que ganham com o negócio) continuam a atirar os impostos para detrás das costas como se fossem uma irrelevância. Não pagam: pedem favores ao Estado para continuar a não pagar. O problema é que, com a classe política sempre desejosa de aparecer ao lado de uma vitória no futebol, quase sempre continuam bafejados pela sorte. E continuam sem pagar.
Isso também transformou o sistema. Os clubes em Portugal tentaram passar de mercearias de bairro a empresas (e assim louvou-se a indústria do futebol como se ela fosse um milagre económico), algumas delas cotadas em bolsa. Contrataram-se gestores, prometeu-se juízo financeiro e tento nos gastos. O futebol era um negócio. Mas na essência nada mudou. Basta olhar para as contas dos principais clubes: são arrepiantes. De alguns dos pequenos já nem é bom falar: só não são liquidados porque o futebol é uma coisa que transcende as leis humanas. Nenhum aumento de receitas é capaz de alimentar a gula de quem está à frente dos clubes. Mas agora que o crédito fácil acabou, julgou-se que alguém começasse a ter juízo.
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