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29 de Dezembro de 2011 às 23:55

Mulheres asiáticas na liderança

Indira Gandhi, da Índia, Sirimavo Bandaranaike, do Sri Lanka, Benazir Bhutto, do Paquistão, Sheikh Hasina, do Bangladesh, Corazon Aquino, das Filipinas, e Megawati Sukarnoputri, da Indonésia – estas líderes dominaram o Sul e o Sudeste da Ásia durante grande parte das últimas quatro décadas. Cada uma dela pertencia a uma classe especial de mulheres cujos maridos ou pais foram um reconhecido "pai fundador" do país ou um líder político durante longos anos. No entanto, apesar de essas ligações dinásticas as terem levado ao poder, não foram o único factor que as manteve lá.

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Quando foram eleitas pela primeira vez, nenhuma destas mulheres possuía quaisquer qualificações profissionais ou políticas de relevo. No caso de algumas delas, este "ponto fraco" foi visto como uma vantagem, permitindo-lhes projectar uma imagem de inocência e de pureza, até mesmo de sofrimento, quando tomaram o lugar dos seus falecidos maridos ou pais. Nenhuma delas esteve particularmente focalizada num programa virado para a população feminina (pelo menos, não nos primeiros anos no poder) e há estudos que demonstram que a vida das mulheres do mundo rural não foi particularmente boa sob os seus regimes.

No entanto, algo muito diferente surgiu na Ásia em 2011. Continuamos a ter mulheres na liderança que chegaram ao poder, pelo menos em parte, devido às suas ligações familiares. Mas agora parecem usar as suas posições com muito maior confiança para colocarem as mulheres e as suas preocupações bem no centro das suas agendas. E, talvez ainda mais importante, cada vez mais mulheres estão a alcançar os mais elevados escalões do poder nos seus países devido unicamente aos seus talentos políticos.

Sonia Gandhi, esposa – nascida em Itália – do antigo primeiro-ministro Rajiv Gandhi e nora da falecida Indira Gandhi, tornou-se a mulher mais poderosa da Índia por razões dinásticas, mas tem demonstrado, de forma consistente, que é uma perspicaz agente política de bastidores. Para ela, a principal tarefa em mãos é fortalecer o Partido do Congresso, para o qual foi eleita para liderar, em inícios de 2011, por um quarto mandato – algo sem precedentes. Mas ela despendeu também bastantes energias na promoção das mulheres, particularmente na sua representação na esfera política. Com efeito, revelou grande empenho no apoio a Pratibha Patil para se tornar na primeira mulher presidente da Índia.

Da mesma forma, Sheikh Hasina, primeira-ministra do Bangladesh, cujo pai foi assassinado, tornou-se uma acérrima defensora das questões relacionadas com o desenvolvimento, com especial ênfase nas mulheres e nas suas necessidades. Esse programa, que não constou da agenda do seu primeiro mandato, tem dominado o seu actual período no poder.

No Leste da Ásia, as mulheres também estão em forte ascensão política. Park Geun-hye, filha de Park Chung-hee, presidente da Coreia do Sul de 1961 a 1979, é agora uma das duas potenciais candidatas a suceder ao presidente Lee Myung-bak. Apesar de algum do poder de Park provir do seu "pedigree" familiar, ela demonstrou ser uma política astuta e qualificada – que subiu as escadas da liderança do Partido Grand National ao longo das duas últimas décadas, para se tornar como a sua figura nacional. O seu papel na defesa de uma agenda inclusiva para as mulheres mostra-nos uma nova lente a partir da qual se pode avaliar o poder das novas líderes asiáticas.

Compare-se Park a Corazon Aquino, que, quando foi eleita presidente das Filipinas, declarou que era simplesmente uma dona de casa, não uma política profissional ou uma líder com experiência. Ficou claro que os eleitores a escolheram porque era a viúva do herói da oposição que foi assassinado, Benigno Aquino. Em contrapartida, ninguém nega as credenciais profissionais de Park. Ela é levada muito a sério, mais pela sua própria experiência e poder político do que pelas suas ligações familiares.

Até no Japão é visível uma mudança semelhante, mas sem vestígios de marcas dinásticas. Yuriko Koike, ex-ministra da Defesa e conselheira de segurança nacional, é uma das figura mais poderosas do país; com efeito, ela poderá vir a ser a próxima primeira-ministra do Japão. Ao contrário de muitos outros líderes do seu Partido Liberal Democrático, Koike não tem ligações familiares a qualquer grande figura política. Em vez disso, a sua atitude reflecte os seus talentos políticos muito singulares: formação académica em estudos árabes (estudou na Universidade do Cairo) e fluência em inglês, o que lhe deu uma perspectiva global que a maioria dos seus colegas do sexo masculino não tem.

Koike não é a única mulher asiática sem ligações familiares conducentes a uma carreira política que a pode levar ao topo. A indonésia Sri Mulyani Indrawati, ex-ministra das Finanças e actualmente directora-geral do Banco Mundial, é frequentemente referida como uma das principais candidatas presidenciais no seu país. Com efeito, foi criado um partido destinado especificamente a incentivar a sua candidatura à presidência em 2014.

Em Taiwan, Tsai ING-wen está a lançar um poderoso e sustentado desafio ao presidente em exercício para as eleições que vão decorrer em Janeiro de 2012. Ao ter ajudado a delinear a lei especial "state-to-state" em Taiwan, que regula as relações com a China, e ao ter liderado o Conselho para os Assuntos Continentais, está bem posicionada para gerir a questão mais problemática que qualquer líder de Taiwan enfrentará: a relação com a República Popular da China.

Uma outra recém-chegada à liderança política é Yingluck Shinawatra, a primeira-ministra tailandesa. Uma das razões pelas quais mergulhou no poder este ano reside claramente nos laços com o seu irmão, o antigo primeiro-ministro exilado Thaksin Shinawatra, que controla o mais forte partido político do país. Mas ela tornou bem claro, durante a sua campanha, que é dona de si própria, uma líder empresarial qualificada com adequada formação profissional.

Temos também, é claro, a birmanesa Aung San Suu Kyi, laureada com o Prémio Nobel da Paz. Suu Kyi, que é filha do fundador da Birmânia independente, está agora empenhada naquela que é talvez a mais delicada tarefa da sua extraordinária carreira política – tentar levar a cabo uma verdadeira transição democrática de décadas de ditadura militar.

Ao contrário da primeira geração de líderes asiáticas, que chegaram ao poder sobretudo devido às suas ligações familiares, as mulheres da nova colheita são fortes e confiantes e estão prontas para assumir o desafio de liderarem as suas nações à sua maneira. Os seus apoiantes parecem ver nelas bons prenúncios da mudança pela qual as sociedades clamam.

Numa altura em que, apesar do crescimento económico na Ásia, existe bastante desigualdade social e de rendimentos, bem como uma forte incerteza em relação à durabilidade da paz na região, o desejo de encontrar soluções novas para os problemas deu um forte impulso às líderes do sexo feminino. Elas estão prontas para tomarem os seus lugares no tabuleiro principal – e talvez para mudarem o seu formato.
Vishakha Desai é presidente e CEO da Asia Society, que acolherá a Cimeira das Líderes da Nova Ásia em Zhenjiang, China, entre os dias 19 e 21 de Abril de 2012


© Project Syndicate, 2011.
www.project-syndicate.org
Tradução: Carla Pedro



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