O Poder inebria. Uma pessoa chega ao Governo, ou a um cargo de responsabilidade, e entusiasma-se: ele é portas que se abrem, tratamento deferencial, carros oficiais, restaurantes de luxo, acesso a informação privilegiada… Com isto, ao fim de algum tempo perde-se contacto com o mundo real. E quando se perde contacto com o mundo real, surgem os disparates.

Um dos disparates mais comuns é a tentação do controlo (de tudo, mas sobretudo da Imprensa) alimentada pela sensação de impunidade. O passado está cheio de casos assim. À Direita (governo de Santana Lopes vs. Marcelo Rebelo de Sousa/TVI) e à Esquerda (governo de Sócrates vs. toda a Imprensa…), só para citar casos recentes. Sendo que Sócrates deve ter sido o governante que mais abusou do controlo da Imprensa.

É exactamente por isso que custa entender o episódio Miguel Relvas-"Público". No meio da troca de acusações entre o conselho de redacção do jornal, o comunicado do ministro e a nota da direcção, é difícil perceber o que aconteceu. Mas uma coisa é certa: alguma coisa (de errado) Relvas deve ter feito para pedir desculpa. E se realmente ameaçou a jornalista com a divulgação de factos da sua vida privada, o assunto é grave. E vai ser "grelhado" por isso. Até porque é legítimo perguntar como teve acesso aos tais factos (circunstância agravada pela polémica sobre as ligações a Silva Carvalho…).

Miguel Relvas devia saber que no mundo actual é impossível controlar a Imprensa. Desde logo porque as redes sociais e os blogues divulgam aquilo que os jornais (eventualmente) não publicam. E que a melhor forma de se defender é não ter, no seu passado, nada de que se possa envergonhar…



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