Opinião
Israel: uma angústia sombria
Uma guinada à direita em Israel, numa eleição marcada pela angústia sobre a segurança do estado judaico, bloqueou para os tempos mais próximos qualquer hipótese de negociação com as divididas facções palestinianas de Gaza e da Cisjordânia.
Uma guinada à direita em Israel, numa eleição marcada pela angústia sobre a segurança do estado judaico, bloqueou para os tempos mais próximos qualquer hipótese de negociação com as divididas facções palestinianas de Gaza e da Cisjordânia.
Um sistema eleitoral votado à pulverização - 17 partidos estavam representados na última legislatura -, e uma crescente descrença na viabilidade de acordos com radicais islamitas e nacionalistas palestinianos, condena a próxima coligação governamental à impossibilidade negocial.
Qualquer acerto de alianças por parte do Likud de Benyamin Netanyahu ou do Kadima de Tzipi Livni está fortemente condicionado pela subida do Yisrael Beteinu (Nossa Casa de Israel) de Avigdor Lieberman.
Mesmo a eventual participação governamental dos trabalhistas de Ehud Barak num governo de unidade nacional obriga a compromissos com partidos religiosos que descartam a possibilidade de iniciativas aceitáveis pela debilitada Fatah de Mahmud Abbas.
A partilha de Jerusalém, a suspensão da expansão ou desmantelamento dos colonatos judaicos na Cisjordânia estão fora do alcance de eventuais coligações, que englobem partidos incontornáveis como os ultra-ortodoxos do Shas do rabino Ovadia Yosef, e são rejeitadas pelo Likud e a extrema-direita.
O não à partilha territorial
O contexto político traduz-se na contestação de que concessões territoriais, conforme a retirada unilateral de Gaza conduzida por Ariel Sharon em 2005, não foram tidas pelo eleitorado judaico como condizentes a garantias de segurança, e antes abriram caminho aos islamitas do Hamas.
O teor das propostas eleitorais, desde a redefinição de fronteiras proposta por Lieberman para troca de áreas de maioria árabe em território israelita levando ao alargamento dos colonatos judaicos na Cisjordânia, até à do líder trabalhista para cavar um túnel entre Gaza e as áreas vagamente controladas pela Autoridade Palestiniana de Abbas de forma a permitir passagem de pessoas e mercadorias, indiciam claramente um repúdio total da hipótese de viabilidade de um estado palestiniano independente.
Ante a guerra civil entre os islamistas do Hamas e a Fatah é dado adquirido para qualquer futuro eixo governamental israelita de direita a inviabilidade de negociações de partilha territorial.
O peso crescente da extrema-direita laica liderada pelo moldavo Lieberman acentua ainda mais a alienação da minoria palestiniana israelita (cerca de 20% da população) cuja participação nestas eleições poderá ter caído abaixo dos 50%.
O Yisrael Beteinu, fundado em 1999, já nas últimas eleições alargara a sua base inicial centrada nos imigrantes oriundos da ex-União Soviética, 1,25 milhões de "russófonos" entre 7,5 milhões de cidadãos de Israel, ou seja 20% da população judia.
Um terço dos votantes que deram a Lieberman 11 deputados no Knesset em 2006 não pertencia à imigração pós-soviética e nestas eleições a sua percentagem terá aumentado motivada pela marcada intolerância face a palestinianos e árabes israelitas, pelo apoio entre os mais de 400 mil colonos judeus na Cisjordânia e pela campanha laica em prol do casamento civil.
Paz com a Síria para atacar o Irão
Sobra para uma coligação liderada por Netanyahu, quer englobe ou não o Kadima, a possibilidade de negociar um acordo de paz com a Síria que leve à devolução dos Montes Golan.
Um acordo neste contencioso, que se arrasta desde 1967, poderá ser visto em Telavive como uma forma de romper a conjunção de interesses entre Damasco e Teerão. A guinada à direita levanta, no entanto, a questão essencial da atitude estratégica de Israel em relação ao programa militar nuclear do Irão.
Netanyahu poderá manifestar alguma maleabilidade táctica, tal como ocorreu durante a sua chefia do governo entre 1996 e 1999 em aliança com dois partidos religiosos ultra-ortodoxos ao retirar de Hebron, mas a opção militar contra o programa nuclear iraniano é tida por inevitável no eixo de direita e tão pouco é contestada pelo Kadima e os trabalhistas.
Uma coligação instável dominada pela direita dificilmente terá condições para cumprir um mandato de quatro anos e a tensão com Washington será uma constante, quer pela recusa em negociar uma partilha territorial, inviabilizada ademais pela cisão entre o Hamas e a Fatah, quer pela urgência israelita em tentar forçar um ataque contra o Irão, mesmo que sem apoio declarado dos Estados Unidos.
Um sistema eleitoral votado à pulverização - 17 partidos estavam representados na última legislatura -, e uma crescente descrença na viabilidade de acordos com radicais islamitas e nacionalistas palestinianos, condena a próxima coligação governamental à impossibilidade negocial.
Mesmo a eventual participação governamental dos trabalhistas de Ehud Barak num governo de unidade nacional obriga a compromissos com partidos religiosos que descartam a possibilidade de iniciativas aceitáveis pela debilitada Fatah de Mahmud Abbas.
A partilha de Jerusalém, a suspensão da expansão ou desmantelamento dos colonatos judaicos na Cisjordânia estão fora do alcance de eventuais coligações, que englobem partidos incontornáveis como os ultra-ortodoxos do Shas do rabino Ovadia Yosef, e são rejeitadas pelo Likud e a extrema-direita.
O não à partilha territorial
O contexto político traduz-se na contestação de que concessões territoriais, conforme a retirada unilateral de Gaza conduzida por Ariel Sharon em 2005, não foram tidas pelo eleitorado judaico como condizentes a garantias de segurança, e antes abriram caminho aos islamitas do Hamas.
O teor das propostas eleitorais, desde a redefinição de fronteiras proposta por Lieberman para troca de áreas de maioria árabe em território israelita levando ao alargamento dos colonatos judaicos na Cisjordânia, até à do líder trabalhista para cavar um túnel entre Gaza e as áreas vagamente controladas pela Autoridade Palestiniana de Abbas de forma a permitir passagem de pessoas e mercadorias, indiciam claramente um repúdio total da hipótese de viabilidade de um estado palestiniano independente.
Ante a guerra civil entre os islamistas do Hamas e a Fatah é dado adquirido para qualquer futuro eixo governamental israelita de direita a inviabilidade de negociações de partilha territorial.
O peso crescente da extrema-direita laica liderada pelo moldavo Lieberman acentua ainda mais a alienação da minoria palestiniana israelita (cerca de 20% da população) cuja participação nestas eleições poderá ter caído abaixo dos 50%.
O Yisrael Beteinu, fundado em 1999, já nas últimas eleições alargara a sua base inicial centrada nos imigrantes oriundos da ex-União Soviética, 1,25 milhões de "russófonos" entre 7,5 milhões de cidadãos de Israel, ou seja 20% da população judia.
Um terço dos votantes que deram a Lieberman 11 deputados no Knesset em 2006 não pertencia à imigração pós-soviética e nestas eleições a sua percentagem terá aumentado motivada pela marcada intolerância face a palestinianos e árabes israelitas, pelo apoio entre os mais de 400 mil colonos judeus na Cisjordânia e pela campanha laica em prol do casamento civil.
Paz com a Síria para atacar o Irão
Sobra para uma coligação liderada por Netanyahu, quer englobe ou não o Kadima, a possibilidade de negociar um acordo de paz com a Síria que leve à devolução dos Montes Golan.
Um acordo neste contencioso, que se arrasta desde 1967, poderá ser visto em Telavive como uma forma de romper a conjunção de interesses entre Damasco e Teerão. A guinada à direita levanta, no entanto, a questão essencial da atitude estratégica de Israel em relação ao programa militar nuclear do Irão.
Netanyahu poderá manifestar alguma maleabilidade táctica, tal como ocorreu durante a sua chefia do governo entre 1996 e 1999 em aliança com dois partidos religiosos ultra-ortodoxos ao retirar de Hebron, mas a opção militar contra o programa nuclear iraniano é tida por inevitável no eixo de direita e tão pouco é contestada pelo Kadima e os trabalhistas.
Uma coligação instável dominada pela direita dificilmente terá condições para cumprir um mandato de quatro anos e a tensão com Washington será uma constante, quer pela recusa em negociar uma partilha territorial, inviabilizada ademais pela cisão entre o Hamas e a Fatah, quer pela urgência israelita em tentar forçar um ataque contra o Irão, mesmo que sem apoio declarado dos Estados Unidos.
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