Opinião
Investir em obrigações perante a mudança na dinâmica de estímulo monetário
Numa tentativa de incentivar a economia global, debilitada pela crise financeira, os bancos centrais adoptaram um conjunto de medidas de estímulo monetário pouco convencionais.
Numa tentativa de incentivar a economia global, debilitada pela crise financeira, os bancos centrais adoptaram um conjunto de medidas de estímulo monetário pouco convencionais. Entre estas medidas, destaca-se o programa de compras de activos em larga escala, ou flexibilização quantitativa (QE), cujos efeitos se têm feito sentir amplamente em todas as categorias de activos. Tendo em conta os sinais de aceleração do crescimento económico, sobretudo nos Estados Unidos, e o crescente reconhecimento de que é improvável que o apoio dos bancos centrais continue indefinidamente, os investidores começam a questionar-se sobre a altura em que as medidas serão retiradas e a forma como decorrerá esse processo. Dada a incerteza sobre o momento e os efeitos potenciais da redução do apoio concedido pelo banco central, é provável que os investidores de obrigações venham a beneficiar de uma abordagem de investimento flexível.
Distorção dos mercados na sequência da QE
Quando os bancos centrais se envolvem numa QE, imprimem dinheiro fresco e injectam-no na economia através da compra de títulos. Essa compra incide com maior frequência nas obrigações de dívida pública. Durante a crise financeira, o processo de compra de activos em larga escala, aliado a uma "fuga para a qualidade" por parte dos investidores, canalizou grandes volumes de capital para as obrigações de dívida pública, o que provocou distorções no mercado ao fazer disparar os preços e reduzir drasticamente a rentabilidade.
Com a melhoria dos indicadores económicos, sobretudo nos Estados Unidos, e com o aumento da confiança na economia global, estas distorções deverão desaparecer, o que permitirá aos mercados voltarem a ser guiados pelos dados económicos fundamentais. No entanto, os investidores não deverão contar com um processo suave. Será necessária uma abordagem flexível que confira protecção contra a volatilidade que poderá surgir quando os bancos centrais começarem a normalizar a sua política, e à medida que os mercados se ajustarem a uma conjuntura caracterizada por menor nível de apoio. É provável que o resultado mais esperado da melhoria das condições seja um aumento gradual da rentabilidade das obrigações de dívida pública, com os investidores a prestarem particular atenção aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Estados Unidos na frente do pelotão
Com a taxa de desemprego nos Estados Unidos acima da meta de 6.5% estabelecida pela Reserva Federal, e com a inflação em queda, as condições económicas não justificam um fim iminente da política monetária acomodatícia da Reserva Federal. No entanto, é evidente que a economia está a fazer progressos significativos no sentido da retoma, pelo que poderão justificar-se alguns ajustes da política a ser seguida.
A taxa de desemprego nos Estados Unidos, que chegou aos 7,6% em Junho de 2013, desceu 2,4% em relação ao valor máximo atingido em Outubro de 2009. Numa altura em que o mercado imobiliário está em alta, em que se esbatem as ameaças fiscais e em que aumenta a confiança dos consumidores, a manutenção desta política branda por parte da Reserva Federal está ser gradualmente posta em causa.
Este facto tem duas implicações importantes. Em primeiro lugar, a meta para a taxa de desemprego de 6,5% parece viável nos próximos 18-24 meses. Em segundo lugar, em termos históricos, a queda da taxa de desemprego tem coincidido com o bom desempenho das acções, o que significa que os investidores de acções podem poderão tirar maior proveito da melhoria das condições do mercado de trabalho, comparativamente aos investidores de obrigações.
Deverá manter-se por mais algum tempo o baixo nível das taxas de juro europeias
Apesar dos progressos feitos pelo Banco Central Europeu (BCE) para conter a crise da dívida regional, na sequência das declarações de Mario Draghi, segundo o qual "seria feito tudo o que fosse preciso", a conjuntura económica europeia mantém-se na corda bamba, com o desemprego a atingir níveis insustentáveis, a dinâmica de crédito ainda em situação desfavorável e a inflação bem abaixo do nível considerado adequado pelo BCE.
Além disso, o BCE declarou que a política monetária acomodatícia irá durar o tempo que for necessário, e que irá continuar a propiciar operações de refinanciamento a longo prazo aos bancos comerciais europeus. Os investidores europeus, por isso mesmo, deverão sentir menor dificuldade que os seus congéneres norte-americanos em preparar-se para os riscos que ameaçam as suas carteiras devido ao desaparecimento do estímulo monetário.
A rentabilidade das obrigações alemãs deverá permanecer baixa até o processo de desalavancagem da Zona Euro estar mais adiantado, enquanto a rentabilidade das obrigações de dívida pública dos países europeus periféricos deverá continuar a convergir à medida que forem sendo corrigidos os desequilíbrios comerciais e for melhorando a sustentabilidade fiscal. Dito isto, a dinâmica estrutural destas economias vai levar algum tempo a melhorar.
Japão adere à QE
O Banco do Japão (BoJ) anunciou novas medidas de estímulo de larga escala, destinadas a pôr fim à deflação e a empurrar a inflação para os 2%, mediante a implementação de um programa de compra maciça de activos com vista à redução das taxas de juro. No entanto, em vez de cair como se esperava, a rentabilidade das obrigações de dívida pública japonesas subiu, apesar do aumento da inflação e das expectativas de crescimento. Será interessante observar o desfecho desta dinâmica competitiva.
Os mercados voláteis requerem uma abordagem de investimento flexível
Embora o ritmo de retoma económica global seja desigual, com os Estados Unidos à frente do pelotão e as condições a melhorarem mais lentamente na Europa e no resto do mundo, é improvável que o apoio dos bancos centrais continue indefinidamente, não se sabendo ao certo quando é que irá ser retirado. A dinâmica da política monetária está a começar a mudar, e a dada altura as taxas de juro irão mesmo subir.
Quando isso acontecer, os vários segmentos do mercado de obrigações irão reagir de forma diferenciada: é provável que as obrigações de dívida pública venham a sofrer as maiores perdas, enquanto os títulos de elevado cupão e curto prazo, como as obrigações de empresas de grau inferior a investimento e a dívida dos mercados emergentes, que são menos sensíveis a variações das taxas de juro, deverão aguentar-se melhor.
Nestas condições, justifica-se uma abordagem flexível ao investimento em obrigações. Os investidores poderão usar a sua alocação de obrigações para obter alguma protecção contra perdas em tempos de incerteza, mas deverão igualmente procurar garantir que estão devidamente posicionados para enfrentar uma subida das taxas de juro.
Senior Sales Executive do JPMorganAM