Opinião
26 de Julho de 2011 às 08:44
Investimento estratégico em obrigações: soluções para o novo mundo das obrigações
O mundo das obrigações ficou de pernas para o ar.
Aos níveis actuais, os títulos de dívida pública do mundo desenvolvido parecem oferecer pouco valor a longo prazo, sob pressão decorrente das expectativas de elevada inflação e crescentes taxas de juro. Em contraste, a dívida dos mercados emergentes e as obrigações de alta rentabilidade (high yield) são cada vez mais a força impulsionadora dos retornos das obrigações.
Para os investidores em títulos de dívida pública do mercado desenvolvido, os últimos anos de fraco crescimento económico e baixas taxas de juro foram positivos para os retornos. Contudo, existem agora dois grandes riscos associados a esta conjuntura favorável. Primeiro, a estagflação está em posição para enfraquecer os retornos das obrigações. A combinação de crescimento fraco e inflação alta apresenta um dos piores cenários possíveis para os investidores de obrigações, uma vez que corrói o futuro valor dos fluxos de tesouraria fixos de uma obrigação, tanto em cupões como em pagamentos de juros.
As perspectivas de fraco crescimento sugerem que o ambiente da taxa de juro a curto prazo se manterá favorável nos EUA, Reino Unido e na zona euro. Contudo, com as pressões inflacionárias a acumularem-se e com as taxas de juro nas três regiões em mínimos recorde ou próximo destes, as expectativas são de que as taxas de juro subam gradualmente e regressem a níveis mais normais ao longo dos próximos anos. Tal também representa, de modo geral, más notícias para os investidores de obrigações.
Face a isto, o panorama não parece favorável para os mercados obrigacionistas desenvolvidos. Felizmente, os mercados obrigacionistas globais são amplos e diversos. Apesar de algumas economias desenvolvidas estarem em risco de estagflação, ainda existe um valor considerável para investidores em obrigações. A chave neste novo mundo das obrigações consiste em centrar-se nas melhores oportunidades e ignorar o resto.
Na actual conjuntura, os depósitos em dinheiro, os títulos de dívida pública do mundo desenvolvido e os títulos associados a índices já não oferecem o melhor potencial de retorno. No entanto, neste novo mundo das obrigações, as oportunidades no crédito de nível "investment grade", na alta rentabilidade e nos mercados emergentes parecem atractivas para os investidores de obrigações. Esperamos que as obrigações de alta rentabilidade continuem a proporcionar retornos atractivos este ano. Estas oferecem um cupão atractivo, rondando a média de cerca de 7% por ano, o que fornece uma boa protecção contra a inflação. Entretanto, as taxas de incumprimento continuam a cair, à medida que as empresas reforçam os seus balanços e beneficiam da crescente rentabilidade. Com as taxas de incumprimento a cair, o spread sobre os Títulos do Tesouro dos EUA deve continuar a estreitar-se, fornecendo ganhos de capital. Os investidores deverão estar preparados para alguma volatilidade, dado que as obrigações de alta rentabilidade têm uma elevada correlação com as acções e, desta forma, poderão registar crises de volatilidade caso os mercados accionistas corrijam. Mas, tendo em conta as fortes variáveis fundamentais, os retrocessos podem apresentar oportunidades de compra.
Os diferenciais de crédito de nível "investment grade" dispararam durante a crise financeira de 2008/09, fornecendo uma oportunidade, que só surge uma vez em cada geração, para comprar obrigações de nível "investment grade" a valorizações extremas. Os diferenciais de taxas contraíram-se muito desde então, produzindo ganhos significativos para os investidores. Embora continuem acima dos níveis anteriores à crise de 2007, é pouco provável que os diferenciais caiam bastante mais, devido aos diferentes requisitos de capital que existem actualmente para as empresas. Contudo, para investidores com as capacidades de pesquisa de crédito para as procurar, existem muitas oportunidades atractivas específicas de acções dentro do âmbito de "investment grade".
Por fim, a dívida do mercado emergente continua a parecer atractiva como uma oportunidade selectiva. As métricas de crédito são muito mais atractivas no mundo emergente do que no mundo desenvolvido. Os mercados emergentes têm níveis inferiores de dívida face ao PIB e maiores taxas de crescimento económico, o que significa que possuem os recursos para efectuar os reembolsos. Contudo, os mercados emergentes enfrentam crescentes pressões inflacionárias, o que significa que os investidores precisam de olhar atentamente para as altas rentabilidades, para verem se estão a ser compensados por assumirem o risco de inflação. As obrigações brasileiras têm uma rentabilidade geral que ronda os 12%, enquanto a taxa de inflação do Brasil está a rondar cerca de 6%, por isso a rentabilidade real parece atractiva em cerca de 6%. Nesta base, também a África do Sul, Turquia e México parecem atractivos.
Para capitalizar sobre as oportunidades apresentadas pelos complexos mercados obrigacionistas de hoje, os investidores precisam de substituir as rígidas referências de obrigações por dinheiro e adoptar uma visão estratégica entre os mercados e sectores obrigacionistas globais. Os fundos de obrigações estratégicos têm a capacidade para mudar a sua alocação ao longo do ciclo de mercado, evitando partes não atractivas do mercado obrigacionista e centrando-se apenas nas melhores oportunidades na actual conjuntura. Ao realizar a alocação de forma flexível, os investidores podem aceder a um enorme conjunto de oportunidades globais e posicionarem-se onde estão as maiores oportunidades neste novo mundo das obrigações.
*Director de vendas da JPMorgan AM
Para os investidores em títulos de dívida pública do mercado desenvolvido, os últimos anos de fraco crescimento económico e baixas taxas de juro foram positivos para os retornos. Contudo, existem agora dois grandes riscos associados a esta conjuntura favorável. Primeiro, a estagflação está em posição para enfraquecer os retornos das obrigações. A combinação de crescimento fraco e inflação alta apresenta um dos piores cenários possíveis para os investidores de obrigações, uma vez que corrói o futuro valor dos fluxos de tesouraria fixos de uma obrigação, tanto em cupões como em pagamentos de juros.
Face a isto, o panorama não parece favorável para os mercados obrigacionistas desenvolvidos. Felizmente, os mercados obrigacionistas globais são amplos e diversos. Apesar de algumas economias desenvolvidas estarem em risco de estagflação, ainda existe um valor considerável para investidores em obrigações. A chave neste novo mundo das obrigações consiste em centrar-se nas melhores oportunidades e ignorar o resto.
Na actual conjuntura, os depósitos em dinheiro, os títulos de dívida pública do mundo desenvolvido e os títulos associados a índices já não oferecem o melhor potencial de retorno. No entanto, neste novo mundo das obrigações, as oportunidades no crédito de nível "investment grade", na alta rentabilidade e nos mercados emergentes parecem atractivas para os investidores de obrigações. Esperamos que as obrigações de alta rentabilidade continuem a proporcionar retornos atractivos este ano. Estas oferecem um cupão atractivo, rondando a média de cerca de 7% por ano, o que fornece uma boa protecção contra a inflação. Entretanto, as taxas de incumprimento continuam a cair, à medida que as empresas reforçam os seus balanços e beneficiam da crescente rentabilidade. Com as taxas de incumprimento a cair, o spread sobre os Títulos do Tesouro dos EUA deve continuar a estreitar-se, fornecendo ganhos de capital. Os investidores deverão estar preparados para alguma volatilidade, dado que as obrigações de alta rentabilidade têm uma elevada correlação com as acções e, desta forma, poderão registar crises de volatilidade caso os mercados accionistas corrijam. Mas, tendo em conta as fortes variáveis fundamentais, os retrocessos podem apresentar oportunidades de compra.
Os diferenciais de crédito de nível "investment grade" dispararam durante a crise financeira de 2008/09, fornecendo uma oportunidade, que só surge uma vez em cada geração, para comprar obrigações de nível "investment grade" a valorizações extremas. Os diferenciais de taxas contraíram-se muito desde então, produzindo ganhos significativos para os investidores. Embora continuem acima dos níveis anteriores à crise de 2007, é pouco provável que os diferenciais caiam bastante mais, devido aos diferentes requisitos de capital que existem actualmente para as empresas. Contudo, para investidores com as capacidades de pesquisa de crédito para as procurar, existem muitas oportunidades atractivas específicas de acções dentro do âmbito de "investment grade".
Por fim, a dívida do mercado emergente continua a parecer atractiva como uma oportunidade selectiva. As métricas de crédito são muito mais atractivas no mundo emergente do que no mundo desenvolvido. Os mercados emergentes têm níveis inferiores de dívida face ao PIB e maiores taxas de crescimento económico, o que significa que possuem os recursos para efectuar os reembolsos. Contudo, os mercados emergentes enfrentam crescentes pressões inflacionárias, o que significa que os investidores precisam de olhar atentamente para as altas rentabilidades, para verem se estão a ser compensados por assumirem o risco de inflação. As obrigações brasileiras têm uma rentabilidade geral que ronda os 12%, enquanto a taxa de inflação do Brasil está a rondar cerca de 6%, por isso a rentabilidade real parece atractiva em cerca de 6%. Nesta base, também a África do Sul, Turquia e México parecem atractivos.
Para capitalizar sobre as oportunidades apresentadas pelos complexos mercados obrigacionistas de hoje, os investidores precisam de substituir as rígidas referências de obrigações por dinheiro e adoptar uma visão estratégica entre os mercados e sectores obrigacionistas globais. Os fundos de obrigações estratégicos têm a capacidade para mudar a sua alocação ao longo do ciclo de mercado, evitando partes não atractivas do mercado obrigacionista e centrando-se apenas nas melhores oportunidades na actual conjuntura. Ao realizar a alocação de forma flexível, os investidores podem aceder a um enorme conjunto de oportunidades globais e posicionarem-se onde estão as maiores oportunidades neste novo mundo das obrigações.
*Director de vendas da JPMorgan AM
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