Opinião
Gato no sofá (02_05_2008)
O País vive, há muito, em rotativismo político. Ora está o PS no poder, ora está o PSD. A alternância democrática é, de resto, o exemplo do País. Que vive, desde há muito, dividido entre a quantidade e a qualidade. Mas talvez nunca, como agora, a ideologi
A quantidade e a qualidade
O País vive, há muito, em rotativismo político. Ora está o PS no poder, ora está o PSD. A alternância democrática é, de resto, o exemplo do País. Que vive, desde há muito, dividido entre a quantidade e a qualidade. Mas talvez nunca, como agora, a ideologia hegemónica do regime seja: a quantidade avança a todo o vapor (lembrando um pouco saudável “slogan” do MRPP). O Governo Sócrates fez ascender o “elogio da quantidade” ao estatuto de “a grande reforma” do executivo. Embora não a diga abertamente. Basta ver as lógicas reinantes numa série de diferentes áreas onde o “vírus quantitativo” se vai espalhando, sem se olhar para a qualidade das coisas. Muitos chamam a isso visão economicista do país e do Estado (“O Estado sou eu!”, poderia dizer bondosamente Sócrates contra estas vozes críticas). Outros chamar-lhe-ão visão agrícola da questão nacional: o País deve ser uma seara alinhada, e se não for na qualidade, que seja na mediocridade. Olhe-se: segundo se diz os inspectores da PJ vão começar a ser avaliados pelo seu desempenho, com base no número de acusações que possam ser propostas ao Ministério Público. Isto é: casos complicados, especialmente económicos, que pela sua complexidade exigem tempo, vão começar a ser ignorados pela lógica de quantidade. A ASAE já se percebeu como trabalha, agora com equipas de quase uma dezena de elementos que entram num estabelecimento à noite e o fazem parar (como sucedeu no Snob e, dizem-me, numa conhecida casa de fados do Bairro Alto para espanto de muitos turistas que julgaram por momentos estar não em Portugal mas num país do Terceiro Mundo) e que têm de cumprir objectivos, (apesar dos deficientes desmentidos do seu chefe na RTP). Na educação privilegia-se as médias de passagem (para cumprir os critérios europeus) em vez da qualidade. A qualidade foi, pelo Governo Sócrates, tornada refém da quantidade. Só falta os ministros começarem a ter de actuar em conformidade: quanto mais decretos assinarem, mais tempo estarão no executivo.
Os desafios de Soares dos Santos
Há entrevistas que definem um homem e um país. Senti isso ao ler a entrevista de Alexandre Soares dos Santos ao “Público” (e à RR). Há frases que apetece sublinhar: “Criou-se depois uma mentalidade de deixa andar, pois neste País só se fala de direitos”; “(?) o que não vejo são as confederações do patronato discutirem abertamente o que é mais importante. Está-se sempre a falar da mesma coisa, de despedimentos”; “Em empresas bem formadas, o despedimento é uma excepção”; “Eu sou um grande defensor das comissões de trabalhadores em vez dos sindicatos, que estão muito politizados e desfasados da realidade”; “Nos grandes centros urbanos como Lisboa há hoje uma pobreza que não havia”; “Onde estou 100% de acordo é no desaparecimento do recibo verde, que acho indecente. Só espero é que o Estado dê o exemplo, porque é o maior empregador de recibos verdes” ou “[Em Portugal] perdemos a ambição”. São ideias mais do que suficientes para lançar uma discussão mais vasta sobre Portugal e o nosso presente e futuro. Alguns dirigentes políticos, empresários e sindicalistas poderiam começar por reflectir nas frases de Soares dos Santos. Porque elas mostram como em Portugal se é incapaz de discutir os problemas e nos tornámos especialistas numa nova prova olímpica: o caminho mais curto entre dois pontos é às curvas. Até nos perdermos.
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Ela e ela Em tempos cantou-se em Portugal uma deliciosa melodia. Dava pelo nome de “Ele e Ela” e era Madalena Iglésias que assombrava com esse pop “avant-la-lettre”. Agora, num registo entre a ‘pop’, a ‘soul’ e o ‘country’, surge o projecto She & Him, de Zooey Deschanel e M. Ward. O disco chama-se apenas “Volume One”, prometendo pois sucedâneo para daqui a uns tempos. Exercícios simples de melodias para sempre. |
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Bem agraciado Ganhou agora uma medalha no Wine Masters Challenge 2008. Mas já antes sabíamos da qualidade do Reguengos Reserva tinto de 2005. É uma novidade no mercado nacional e um bom companheiro de pratos de origem alentejana. Num almoço com tempo percebe-se melhor a potencialidade deste néctar feito com uvas das castas Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet e Tinta Caiada. Experimentem. |