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24 de Março de 2008 às 13:59

Este país também é para velhos

Numa conferência internacional recentemente realizada em Lisboa, alguns Especialistas em Gestão salientaram o movimento que em muitos países se está a desenvolver no sentido de aproveitar ao máximo, do ponto de vista dos grandes projectos de mobilização n

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Precisamos dessa atitude em Portugal e por isso impõe-se uma cultura de mudança. Portugal não escapa à regra. Em tempo de novas apostas, muito centradas no discurso nos factores dinâmicos de competitividade, a classe experiente tem um papel essencial a desempenhar. Por isso, que fique claro. Este país também é para velhos.

Reinventar a Experiência

A sociedade civil tem nesta matéria um papel central. A classe experiente, na sua diferença e no seu sucesso, é o resultado de um tecido social que se pretende voltado para um futuro permanente. Os índices de absorção positiva por parte da sociedade dos contributos relevantes da classe experiente passam muito pela estabilização de condições estruturais essenciais. A matriz comportamental da população socialmente activa das actuais sociedades é avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma cultura de dinâmica positiva. Ou seja, dificilmente se conseguirá impor por decreto uma revolução empreendedora e mesmo o aumento do desemprego, por força da desindustrialização e o emagrecimento dos serviços públicos/privados poderá não ser suficiente para suscitar uma "auto-reacção" das pessoas.

A falta de rigor e organização nos processos e nas decisões, sem respeito pelos factores "tempo" e "qualidade", já não é tolerável nos novos tempos globais. Não se poderá a pretexto de uma "lógica secular latina" mais admitir o não cumprimento dos horários, dos cronogramas e dos objectivos. Não cumprir este paradigma é sinónimo de ineficácia e de incapacidade estrutural de poder vir a ser melhor. A ausência da prática de uma cultura de cooperação tem-se revelado mortífera para a sobrevivência das organizações. Na sociedade do conhecimento sobrevive quem consegue ter escala e participar, com valor, nas grandes redes de decisão.

Na nova sociedade aberta, as empresas, as universidades, os centros de competência políticos têm de protagonizar uma lógica de cooperação positiva em competição para evitar o desaparecimento. Querer cultivar a pequenez e aumentá-la numa envolvente já de si pequena é firmar um atestado de incapacidade e de falta de crença no futuro. É doentia a incapacidade em definir, operacionalizar e dinamizar a lógica de "capital social" na nova sociedade. O diagnóstico está feito há muito tempo sobre esta matéria. Mas também já não pode ser, porque não é, a lógica do "low cost support" como referencial de criação de emprego e de fixação de capital social básico nos territórios.

Uma Cooperação Positiva

A consolidação do novo papel da classe experiente entre nós passa em grande medida pela efectiva responsabilidade nesse processo dos diferentes actores envolvidos – Estado, universidade e empresas. No caso do Estado, no quadro do processo de reorganização em curso e de construção dum novo paradigma tendo como centro o cidadão-cliente, urge a operacionalização de uma atitude de mobilização activa e empreendedora da revolução do tecido social. A Reinvenção Estratégica do Estado terá de assentar numa base de confiança e cumplicidade estratégica entre os actores empreendedores que actuam do lado da oferta e os cidadãos que respondem pela procura – Criatividade & Inovação terão de ser aqui de forma sustentada as palavras que garantem uma lógica de sustentabilidade nos resultados a médio prazo.

No caso da universidade, ela tem de se assumir como um Actor Global, capaz de transportar para a nossa matriz social a dinâmica imparável do conhecimento e de o transformar em activo transaccionável indutor da criação de riqueza. Cabe-lhe o papel de fazer convergir sobre si a capacidade de, através de uma aposta cruzada permanente entre o Conhecimento e a Cultura, ser responsável pela formação de verdadeiros Cidadãos Globais, os tais que a sociedade precisa para afirmar a sua dimensão estratégica e competitiva a nível internacional. Quem está e quem sai da universidade tem de dominar de forma activa o capital comum do conhecimento e da cultura como peças centrais da formação de cidadãos capazes de actuar em segurança e criatividade num mundo em permanente mudança.

Cabe naturalmente às empresas um papel claramente mobilizador na afirmação do papel da classe experiente um pouco por todo o País. Pelo seu papel central na criação de riqueza e na promoção de um processo permanente de reengenharia de inovação nos sistemas, processos e produtos será sempre das empresas que deverá emergir o capital expectável da distinção operativa e estratégica dos que conseguirão ter resultados com valor alavancado na competitiva cadeia do mercado. Aqui, a tónica tem mais do que nunca de ser pragmática, como demonstram as sucessivas acções externas realizadas recentemente. Convergência operativa sinalizada em apostas concretas onde realmente vale a pena actuar, selecção objectiva de sectores onde há resultados concretos a trabalhar.

É aqui que entra a classe experiente. Compete a estes actores de distinção um papel decisivo na intermediação operativa entre os que estão no topo e os que estão na base da pirâmide. Só com um elevado índice de capital intelectual se conseguirá sustentar uma participação consistente na renovação do modelo social e na criação de plataformas de valor global sustentadas para os diferentes segmentos territoriais e populacionais. Portugal não pode ignorar a dimensão única deste desafio que o futuro agora encerra. Por isso, nunca como agora, este país também é, de facto, para velhos.

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