Opinião
E aqui vamos nós outra vez à TDT
Um grande concurso está para avançar em Portugal... Se mete dinheiro, envolve poderes; se os envolve, mistura economia com política; se os mistura, torna-se mediático; se se torna, o que parece passa a valer mais do que o que é; e nas calhas deste comboio, o fim é sempre o mesmo: não há fim.
Um grande concurso está para avançar em Portugal... Se mete dinheiro, envolve poderes; se os envolve, mistura economia com política; se os mistura, torna-se mediático; se se torna, o que parece passa a valer mais do que o que é; e nas calhas deste comboio, o fim é sempre o mesmo: não há fim.
O aeroporto de Lisboa e o TGV são casos paradigmáticos, de tão evidentes. Mesmo hoje, depois de tantos compromissos, quem apostaria todo o seu dinheiro em como o Governo não vai empurrá-los com a barriga para depois das eleições?
Falta de dinheiro é quase sempre a justificação para deixar de fazer. Estudos técnicos são o álibi para validar opções políticas que já estavam tomadas. Credibilidade dos júris é o que é posto em causa por quem perde.
Quatro exemplos recentes: 1) as empresas portuguesas de tecnologia dizem que os critérios para se ser fornecedor de "software" da Agência Nacional de Compras Públicas exigem mínimos de facturação à medida das multinacionais; talvez tenham a sorte da 2) Optimus, que foi integrada na lista de fornecedores de telecomunicações móveis do Estado depois de ter ficado siderada com a proposta de exclusão; 3) a Novabase e a Indra puseram a gestora dos operadores de transportes de Lisboa em tribunal por esta ter dado a vitória da bilhética à Thales; tão longe quanto isso poderá ir a 4) Airplus, que acusa o júri da TDT de parcialidade, depois de ter perdido para a PT.
O caso da televisão digital terrestre é, digamos..., incrível. Em 2001 a licença foi concedida a João Pereira Coutinho, que a viu revogada. São lançados dois novos concursos, com a PT isolada no dos canais gratuitos e a concorrer com a Airplus no dos canais por subscrição. Já ninguém dava nada pela Airplus, que até falhara a apresentação da garantia bancária a tempo, quando nas vésperas da decisão saem dois "jokers" do baralho: Pais do Amaral (novo accionista) e Luís Nazaré (presidente). As contratações ao cair do pano assumem que lá estão não para pressionar mas para impressionar. O júri diz que não vai em cantigas e dá a vitória à PT. A coisa não fica por aqui: Nazaré diz aos jornalistas que merecia ganhar e acusa o júri de parcialidade. Mas à Anacom vai mais longe: diz que o presidente do júri trabalha numa instituição financiada pela PT, tem um irmão e uma filha na PT.
Já se percebeu que Luís Nazaré não está apenas a justificar a contratação pela Airplus e que o processo vai fazer correr tinta (porque é polémico) e sangue (porque envolve pessoas). Quando um tema destes se fulaniza faz sempre ricochete para vários lados. Quando a Optimus foi putativamente excluída das compras públicas, sublinhou que essa decisão era de um júri de três em que dois eram ex-quadros da PT. Agora, a Airplus arrisca mais, porque o presidente Carlos Salema é um homem do Técnico e é um entre três; e porque estar numa árvore genealógica não é contrair um conflito de interesses. Se ter filhos na PT é pecado, muita gente tem de ir ao confessionário, de Guterres a Sampaio, de Marcelo a Otelo.
O concurso da TDT para os canais pagos pode ser suspenso pela providência cautelar interposta pela Airplus. Se essa decisão tiver impacto no outro concurso, o dos canais gratuitos, a própria data imposta por Bruxelas para trocar a televisão analógica pela digital pode estar em risco.
Das duas, uma: ou temos júris que não sabem decidir quem ganha ou temos candidatos que não sabem perder. Parece guerra entre empresas mas é o País que se suspende. É como o coelhinho das pilhas mas ao contrário: e empata, empata, empata...
O aeroporto de Lisboa e o TGV são casos paradigmáticos, de tão evidentes. Mesmo hoje, depois de tantos compromissos, quem apostaria todo o seu dinheiro em como o Governo não vai empurrá-los com a barriga para depois das eleições?
Quatro exemplos recentes: 1) as empresas portuguesas de tecnologia dizem que os critérios para se ser fornecedor de "software" da Agência Nacional de Compras Públicas exigem mínimos de facturação à medida das multinacionais; talvez tenham a sorte da 2) Optimus, que foi integrada na lista de fornecedores de telecomunicações móveis do Estado depois de ter ficado siderada com a proposta de exclusão; 3) a Novabase e a Indra puseram a gestora dos operadores de transportes de Lisboa em tribunal por esta ter dado a vitória da bilhética à Thales; tão longe quanto isso poderá ir a 4) Airplus, que acusa o júri da TDT de parcialidade, depois de ter perdido para a PT.
O caso da televisão digital terrestre é, digamos..., incrível. Em 2001 a licença foi concedida a João Pereira Coutinho, que a viu revogada. São lançados dois novos concursos, com a PT isolada no dos canais gratuitos e a concorrer com a Airplus no dos canais por subscrição. Já ninguém dava nada pela Airplus, que até falhara a apresentação da garantia bancária a tempo, quando nas vésperas da decisão saem dois "jokers" do baralho: Pais do Amaral (novo accionista) e Luís Nazaré (presidente). As contratações ao cair do pano assumem que lá estão não para pressionar mas para impressionar. O júri diz que não vai em cantigas e dá a vitória à PT. A coisa não fica por aqui: Nazaré diz aos jornalistas que merecia ganhar e acusa o júri de parcialidade. Mas à Anacom vai mais longe: diz que o presidente do júri trabalha numa instituição financiada pela PT, tem um irmão e uma filha na PT.
Já se percebeu que Luís Nazaré não está apenas a justificar a contratação pela Airplus e que o processo vai fazer correr tinta (porque é polémico) e sangue (porque envolve pessoas). Quando um tema destes se fulaniza faz sempre ricochete para vários lados. Quando a Optimus foi putativamente excluída das compras públicas, sublinhou que essa decisão era de um júri de três em que dois eram ex-quadros da PT. Agora, a Airplus arrisca mais, porque o presidente Carlos Salema é um homem do Técnico e é um entre três; e porque estar numa árvore genealógica não é contrair um conflito de interesses. Se ter filhos na PT é pecado, muita gente tem de ir ao confessionário, de Guterres a Sampaio, de Marcelo a Otelo.
O concurso da TDT para os canais pagos pode ser suspenso pela providência cautelar interposta pela Airplus. Se essa decisão tiver impacto no outro concurso, o dos canais gratuitos, a própria data imposta por Bruxelas para trocar a televisão analógica pela digital pode estar em risco.
Das duas, uma: ou temos júris que não sabem decidir quem ganha ou temos candidatos que não sabem perder. Parece guerra entre empresas mas é o País que se suspende. É como o coelhinho das pilhas mas ao contrário: e empata, empata, empata...
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